As palavras soltas de hoje sentem-se escuras. Escuras como o tempo. Escuras como o dia mas bem iluminadas por dentro. Talvez já não te lembres. Talvez já não te consigas lembrar ou encontrar no meio dos teus novos pensamentos as memórias que te quero fazer lembrar. Talvez já te tenhas esquecido dos passeios que fazíamos, sozinhos, no nosso imaginário de criança. Saíamos sozinhos à tardinha, quando o sol quase não estava presente e a temperatura ainda era amena. Era uma temperatura amena mas a fugir para o frio da noite que não tardava em aparecer. Aqueles dias de Outubro fazem-nos ter saudade perante os dias de hoje. Talvez já não te lembres disso. Talvez já não te lembres da casinha caiada onde vivíamos feita de sonhos e outras coisas mais. Aquela casinha que costumávamos construir deitados na relva a olhar o céu estrelado.Quando a inspiração e os sonhos eram maiores do que todo o resto conseguíamos construir castelos. Castelos e palácios. Bem mas talvez já te tenhas esquecido de lembrar que vivíamos sozinhos. Que aquela casa era só nossa. Que trocávamos ósculos no alpendre da nossa casinha. Que éramos o sol e o abrigo um do outro. E que éramos tão felizes assim. E os copos que bebíamos sentados junto à lareira de chocolate quente. Talvez já estejas esquecido de te lembrar do luar que refletia no lago junto à nossa casinha. E das promessas que trocamos junto a esse lago. E das palavras bonitas que dissemos um ao outro. E do pomar, onde caminhávamos ombro com ombro, sozinhos e de mãos dadas, trocando beijos nas faces. E da água que bebíamos curvados junto ao ribeiro. E que águas cristalinas eram aquelas. Talvez já não te lembres dos beijos que trocávamos ao acordar ouvindo as ondas dos trigais, abraçados como as heras se abraçam. E de quando me pegavas ao colo para atravessar a lama no caminho e dizias-me baixinho: "Pesas menos que um papel de seda". Acho que de pouco ou nada te lembras. Acho que de tudo ou quase tudo já te esqueceste. Talvez seja o ciclo natural das coisas porque tudo no mundo muda e morre. Esqueceste-te do nosso sonho. Esqueceste-te que o nosso passado foi um beijo pelos tempos prolongado. Estamos agora tão calados como a morte. Cada um no seu lugar. Cada um na sua cidade. Porque tudo o que acabei de contar nem de um sonho para ti se trata. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words feel dark. Dark as the weather. Dark as the day but with a high light inside. Perhaps you no longer remember. Perhaps you can't remember or find, in the midst of your new thoughts, memories that I want you to remember. Maybe you already forgot all the rides we did, alone, in our imaginary child. We went out alone in the evening, when the sun was barely present and the temperature was still mild. It was a mild temperature but almost turning into cold. How I miss those days of October. Perhaps you no longer remember it. Perhaps you no longer remember the whitewashed cottage where we lived made of dreams and stars. That little house we used to build lying on the grass looking at the sky full of stars. When inspiration and dreams were bigger than all the rest we could build castles. Castles and palaces. Well maybe you have forget to remember that we lived alone. That our house was ours alone. The kisses that we exchanged on the porch of our house. We were the sun and the shelter of each other. And we were happy as well. And the cups of hot chocolate that we drank sitting by the firework. Perhaps you're forgotten to remind the moonlight reflected on the lake next to our house. And the promises we exchanged along this lake. And the beautiful words we said to each other. And the orchard, where we walked alone shoulder to shoulder and holding hands, exchanging kisses on the cheeks. And the water we drank curved along the brook. And those waters were crystal clear. Perhaps you no longer remember the kisses exchanged when we wake up hearing the waves of wheat fields, embraced as the ivy embrace. And when you took me on your lap to cross the road full of mud and you said to me quietly: "You weigh less than a silk paper." I thinkthat you can't remember nothing or just a little of it. I think that you have everything or almost everything already forgotten. Maybe it's the natural cycle of things because everything in the world changes and dies. You forgot our dream. You forgot that our past was a kiss prolonged through times. We are now as silent as death. Each one in each place. Each one in each city. Because everything I just told you neither a dream is for you. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
Comentários
Enviar um comentário