Avançar para o conteúdo principal

Palavras soltas (08/10/2014 - Esquecer/ To Forget)



As palavras soltas de hoje sentem-se escuras. Escuras como o tempo. Escuras como o dia mas bem iluminadas por dentro. Talvez já não te lembres. Talvez já não te consigas lembrar ou encontrar no meio dos teus novos pensamentos as memórias que te quero fazer lembrar. Talvez já te tenhas esquecido dos passeios que fazíamos, sozinhos, no nosso imaginário de criança. Saíamos sozinhos à tardinha, quando o sol quase não estava presente e a temperatura ainda era amena. Era uma temperatura amena mas a fugir para o frio da noite que não tardava em aparecer. Aqueles dias de Outubro fazem-nos ter saudade perante os dias de hoje. Talvez já não te lembres disso. Talvez já não te lembres da casinha caiada onde vivíamos feita de sonhos e outras coisas mais. Aquela casinha que costumávamos construir deitados na relva a olhar o céu estrelado.Quando a inspiração e os sonhos eram maiores do que todo o resto conseguíamos construir castelos. Castelos e palácios. Bem mas talvez já te tenhas esquecido de lembrar que vivíamos sozinhos. Que aquela casa era só nossa. Que trocávamos ósculos no alpendre da nossa casinha. Que éramos o sol e o abrigo um do outro. E que éramos tão felizes assim. E os copos que bebíamos sentados junto à lareira de chocolate quente. Talvez já estejas esquecido de te lembrar do luar que refletia no lago junto à nossa casinha. E das promessas que trocamos junto a esse lago. E das palavras bonitas que dissemos um ao outro. E do pomar, onde caminhávamos ombro com ombro, sozinhos e de mãos dadas, trocando beijos nas faces. E da água que bebíamos curvados junto ao ribeiro. E que águas cristalinas eram aquelas. Talvez já não te lembres dos beijos que trocávamos ao acordar ouvindo as ondas dos trigais, abraçados como as heras se abraçam. E de quando me pegavas ao colo para atravessar a lama no caminho e dizias-me baixinho: "Pesas menos que um papel de seda". Acho que de pouco ou nada te lembras. Acho que de tudo ou quase tudo já te esqueceste. Talvez seja o ciclo natural das coisas porque tudo no mundo muda e morre. Esqueceste-te do nosso sonho. Esqueceste-te que o nosso passado foi um beijo pelos tempos prolongado. Estamos agora tão calados como a morte. Cada um no seu lugar. Cada um na sua cidade. Porque tudo o que acabei de contar nem de um sonho para ti se trata. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis


https://www.youtube.com/watch?v=qPrdfvBVaA8

Today my words feel dark. Dark as the weather. Dark as the day but with a high light inside. Perhaps you no longer remember. Perhaps you can't remember or find, in the midst of your new thoughts, memories that I want you to remember. Maybe you already forgot  all the rides we did, alone, in our imaginary child. We went out alone in the evening, when the sun was barely present and the temperature was still mild. It was a mild temperature but almost turning into cold. How I miss those days of October. Perhaps you no longer remember it. Perhaps you no longer remember the whitewashed cottage where we lived made ​​of dreams and stars. That little house we used to build lying on the grass looking at the sky full of stars. When inspiration and dreams were bigger than all the rest we could build castles. Castles and palaces. Well maybe you have forget to remember that we lived alone. That our house was ours alone. The kisses that we exchanged on the porch of our house. We were the sun and the shelter of each other. And we were happy as well. And the cups of hot chocolate that we drank sitting by the firework. Perhaps you're forgotten to remind the moonlight reflected on the lake next to our house. And the promises we exchanged along this lake. And the beautiful words we said to each other. And the orchard, where we walked alone shoulder to shoulder and holding hands, exchanging kisses on the cheeks. And the water we drank curved along the brook. And those waters were crystal clear. Perhaps you no longer remember the kisses exchanged when we wake up hearing the waves of wheat fields, embraced as the ivy embrace. And when you took me on your lap to cross the road full of mud and you said to me quietly: "You weigh less than a silk paper." I thinkthat you can't remember nothing or just a little of it. I think that you have everything or almost everything already forgotten. Maybe it's the natural cycle of things because everything in the world changes and dies. You forgot our dream. You forgot that our past was a kiss prolonged through times. We are now as silent as death. Each one in each place. Each one in each city. Because everything I just told you neither a dream is for you. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Velha que vivia num sapato (Versão portuguesa (portuguese version))

Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu...

Palavras Soltas (01/04/2014 Dinâmica de grupo: O Abrigo Subterrâneo)

As palavras soltas de hoje vão falar de memórias. Hoje estive a arrumar o meu sótão, em todos os sentidos, e consegui encontrar as coisas mais maravilhosas por lá perdidas e, algumas, esquecidas. Vou tentar partilhar convosco algumas delas ao longo do tempo, pelo menos as mais relevantes e, de certa forma, engraçadas. A memória de hoje vai para o meu último ano de Licenciatura. Tinha uma disciplina com o nome Dinâmica de Grupos que era bastante interessante por interagíamos muito uns com os outros e tentávamos funcionar como um grupo. Acho que foi um bom trabalho para aprendermos a trabalhar em equipa. Se bem que na prática as coisas não são tal e qual a teoria. Um dos desafios que nos foram lançados ao longo do semestre foi a dinâmica: O Abrigo Subterrâneo. E vou lançar-vos o desafio também. "Imaginem que uma cidade no mundo está sob ameaça de ser bombardeada. Aproxima-se um homem de nós e solicita-nos que tomemos uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode...

Regressos / Returns

  As palavras soltas de hoje falam sobre regressos. Já há muito tempo que não as escrevo. E tanto tempo há que vocês não as leem. Por isso, hoje, resolvi escrevê-las. Estas pequenas palavras. Livres. Soltas. Tal como sempre vos habituei. E regressar traz sempre um sentimento agridoce. Tanto de excitação como de medo. As palavras soltas têm destas coisas. Sempre que escrevo deixo que seja o meu cérebro a comandar as minhas palavras. Ou serão as minhas palavras que controlam o cérebro?! Lidar com os pensamento enquanto escrevo é obrigatório. Não tenho escapatória possível. E, assim, regresso. Regresso ao meu mundo. Aquele mundo onde escrevo e desenho. Alio duas áreas da criatividade que sempre amei. E não me importo de viver aqui. Neste meu mundo de criatividade. Sinto-me abraçada sempre que o faço. Escrever. Desenhar. E regressar. Bem-vindas queridas palavras soltas! Que este seja um regresso para ficar. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Today's words will talk about ret...