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Palavras soltas (28/10/2014 - Cotovelo/ Elbow)




As palavras soltas de hoje estão pensativas. Lembro-me de uma rua pequena e estreita que fazia cotovelo e que à noite, no escuro, escondia um mistério mascarado com outro mistério. E fechando os olhos conseguia pensar numa outra coisa, num outro lugar que não aquela rua pequena e estreita que fazia cotovelo. E o som descarado dos pequenos morcegos que vagueavam ao sabor da neblina nocturna era o acompanhamento para o eco dos meus passos enquanto ia caminhando naquela calçada que outrora fora pisada por outros pés. Se o silêncio se mantivesse por um longo período de tempo era possível ouvir o ruído das correntes que outrora foram arrastadas nos pés daqueles que sofreram com a escravidão. O poço, por baixo do arco decorado com trepadeiras, tinha água fresca e profunda durante todo o ano. Perto dele ouviam-se os ecos outrora gritados por crianças que brincavam por ali. E lá dentro as palavras soavam ferozes como leões, ursos,... E a brincadeira tornava-se ainda mais engraçada. Lembro-me dos azulejos pintados à mão num azul nunca antes pintado ou imaginado. Era um painel que refletia o brilho das estrelas e do luar quando a noite inundava aquela rua pequena e estreita que fazia cotovelo. O assobio agudo das chaleiras no interior das casas tornava-se um som audível por todo o lugar e desaparecia de cada vez que era dobrado aquele cotolevo daquela rua pequena e estreita. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis




Today my words are thoughtful. I remember a small and narrow street that had an elbow and that at night, in the dark, it hid a mystery masked by another mystery. And when I closed my eyes I could think of something else, in a different place that wasn't that small and narrow street that had an elbow. And the masked sound of small bats that roam in the flavor of the night fog is an accompaniment to the echo of my footsteps while I was walking on that sidewalk that was once trodden by other foot. And if the silence persisted for a long period of time we could hear the noise of the chains that were once dragged to the feet of those who suffered from slavery. The well, under the archway decorated with vines, had fresh and deep water throughout the year. Near it we could hear the echoes once shouted by children that used to play there. And inside of it the words sounded fierce as lions, bears, ... and the game became even funnier. I remember the hand-painted tiles on a blue that never was painted or imagined before. It was a panel that reflected starlight and moonlight flooded when the night fall in that small and narrow street that had an elbow. The shrill whistle of kettles inside the houses became an audible sound all over the place and it disappear each time we folded the elbow of that small and narrow street. Well, but this is already another  kind of words. Ana Reis

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