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Palavras soltas (06/10/2014 - Infância/ Childhood)


As palavras soltas de hoje estão alagadas. Estão completamente alagadas, desde a cabeça até aos pés. Porquê? Porque sim. Porque hoje as palavras cobrem-me da cabeça aos pés. Cobrem-me e inundam todo o meu ser deixando-me repleta de ideias e palavras as quais necessito partilhar convosco. Mesmo com esta chuva que vai pintando de incolor toda a paisagem que me rodeia consigo observar a serra que se ergue diante da minha janela na esperança de, quem sabe um dia, poder ver o mar que se esconde atrás dela. Tenho a certeza de que existe uma banheira que segura o mar. Uma banheira grande. Uma banheira que consegue suportar toda a água do mar dentro dela. E, de certeza, que existe uma lareira que contém o sol. Uma lareira grande na qual o sol cabe por completo e deixa os seus raios ficarem retidos/contidos no seu interior. Uma lareira que aquece o mundo inteiro. E há uma bússola onde se insere toda a galáxia. Uma bússola gigante com uns ponteiros dourados e a marcação designativa do norte a vermelho. E, com toda a certeza, que existe uma voz para acordar os mortos. Uma voz firme, forte e grossa. Uma voz que consegue ordenar. E os mortos acordam. E com os mortos vêm sempre as memórias. As memórias e as recordações. E, estranhamente, na escuridão ouço uma mulher cantar para mim. Fazendo-me recuar ao longo de todos estes anos vividos. Levando-me a viajar na história curta que é, ainda, a minha vida. E pára. Pára na imagem de uma criança sentada a um piano. E as notas vão voando através da sala com o vibrar das cordas daquele piano. E isto faz-me recordar os domingos. Aqueles domingos em que reuníamos a família no mesmo metro quadrado. E o tilintar do piano como música de fundo, na minha boneca montada num cavalo branco, tornou-se a banda sonora de todos os meus domingos. Sinto-me absorvida pela minha infância. E dou por mim a chorar como uma criança. Não de tristeza mas de saudade. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis


Today my words are flooded. Are completely flooded from my head to my toe. Why? Because they are. Because today my words are covering me from my head to my toe. They are covering and flooding my whole being, leaving me full of ideas and words which I need to share with you. Even with this rain that is painting with colorless all the landscape that surrounds me I can observe the mountain that stands outside my window an I have the hope that, maybe one day, I'll see the sea that is hiding behind it. I am sure that there is a bathtub that holds the sea. A largebath tub. A bathtub that can handle all the seawater inside. And, certainly, there is a fireplace that contains the sun. A large fireplace in which the sun can be completelly inside of it and that retain its rays/contained them inside of it. A fireplace that heats the whole world. And there's a compass in which can be the galaxy. A giant compass with golden pointers and with a red mark designative of the northern. And, surely, there is a voice to awake dead people. A voice firm, strong and thick. A voice that can command. And dead people agree. And everytime we talk in dead people memories start coming. And, strangely, in the darkness I hear a woman singing to me. And it makes me get back over all these years I lived. It leads me traveling along the short story that is my life. And it stops. It stops on the image of a child sitting at a piano. And the notes go flying across the room according to the vibrate of the piano's strings. And this reminds me of my Sundays. Those Sundays when the family would gather in the same square meter. And the tinkling of the piano as background music, in my doll mounted on a white horse, became the soundtrack of all my Sundays. I am absorbed by my childhood. And I find myself crying like a child. Not of sorrow but of longing. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis

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