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Palavras soltas (09/10/2014 - O meu reflexo/ My reflection)



As palavras soltas de hoje estão de luto. E o luto deve-se à perda de uma pessoa que há muito anunciava partir. Mas, seja lá quem for ou o que for, adiou a sua partida em muitos anos. Em muitos anos felizes, cheios de esperança, cheios de magia e coisas boas, chegaram a ser dolorosos, muito dolorosos, sofridos, penosos,  até isto. Até te tornares em mais uma estrela brilhante no nosso céu. E eu sei que foi o teu coração de mãe que te fez lutar e enfrentar todos os medos que os outros tinham por ti e que tu nem reparaste que eles existiam. O meu mundo não é igual ao dos outros. Sou demasiado exigente, tenho sede de mais e mais e, por isso, vivo numa angústia constante. Angústia essa que nem eu própria consigo entender. E quando olhava para ti via esse meu lado. Parecias o meu reflexo. Mas o reflexo do meu eu que nem sempre está presente e que em ti estava diariamente. Nasci sensível e, muito provavelmente, será assim que eu irei morrer um dia. Nós somos o que somos e não aquilo que queríamos ou gostávamos de ser. Mas tu lutaste sempre para seres aquilo que tu querias. E, no final de contas, parecia tão simples. Tu só querias que te deixassem ser saudável para poderes cuidar da tua filha e vê-la crescer. Parece mesmo muito simples. Soa até a um direito teu. Mas sabes, não há dores que sejam ou possam ser eternas. E nós, a nossa condição humana, não nos permite deter nada que o tempo leva, que o tempo destrói e faz desaparecer das nossas vidas. Não podemos fazer nada em relação às dores, sejam elas maiores ou menores. Sejam elas pobres ou ricas. Sejam elas conhecidas ou desconhecidas. A dor fica na mesma. A felicidade, hoje em dia, soa a algo tão restrito, tão limitado, a uma relíquia que, quando tentamos tirar um pequeno pedaço dela, uma quantidade ínfima, parece ser a maior loucura das loucuras algumas vez cometidas. Mas digo-te... Pouco ou nada falamos ultimamente. Os medicamentos não te permitiam fazê-lo mas eu, também, não consegui, não me sentia capaz, de te ver a sofrer tanto como estavas. Mas digo-te... Tenho algumas palavras para te dizer. Sei que deixaste uma carta para as pessoas que te magoaram ou te fizeram mal. Algumas pessoas preferiram viver na ignorância mesmo sabendo da gravidade da tua doença. Mas digo-te que nem o perfume das rosas, nem a cor das tulipas, nem o brilho das estrelas, nem o sonhar dos homens pode igualar a luz que brota de ti neste momento. Nada pode igualar o teu sorriso de mãe, esposa e amiga. Nada pode igualar a tua bondade e generosidade. Nada pode igualar a tua força e presença. Nada pode igualar-te neste momento. Embora tu preferisses mil vezes que te tivessem dado o direito de ver a tua filha crescer. E agora podes. Bem, mas isto são outras palavras soltas. Ana Reis 


Today my words are mourning. And they are mourning because I've lost someone that was dying through some years. But whoever or whatever had postponed her departure in so many years. In many happy years full of hope, full of magic and good things that came to be painful, very painful, more and more painful until this. Until you become one more bright star in our sky. And I know that was your mother's heart that made you fight and face all the fears that others had for you and you don't even noticed that they existed. My world isn't equal to the others. I'm too picky, I thirst for more and more and therefore live in a constant anguish. Anguish that neither myself can understand. And whenI looked at you I saw that side of me in you. You seemed to be my reflection. But you were the reflection of myself that isn't always present in me and that was always present in you. I born sensitive and that's the way I will die one day. I will die sensitive as always. We are what we are and not what we wanted or liked to be. But you always fought for what you wanted to be. And, in the end, it seemed so simple. You just wanted to be healthy so you could take care of your daughter and watch her grow. It looks so simple. It sounds to be in your right. But, you know, there is no pain that can be or that is eternal. And we, our human condition, doesn't allow us to stop anything that time takes away, that time destroys and makes it disappear from our lives. We can't do anything about the pain, whether it is major or minor. Whether it's poor or rich. Whether it's known or unknown. The pain is just the same. Happiness today, sounds like something so restricted, so limited, like a relic, and when we try to take a small piece of it, a tiny amount, it seems to be the greatest folly of follies that was ever committed. But I tell you ... We almost hadn't talk in the last days. The drugs didn't allow you to do it but I also couldn't ... I didn't feel capable of seeing you suffer as much as you were. But I tell you ... I have a few words to tell you. I know you left a letter for people who have hurt you or made ​​you suffer. Some people preferred to live in ignorance even knowing the severity of your illness. But I tell you that neither the perfume of roses, or the color of tulips, or  the brightness of stars, nor men's dreams can match the light that you can shine right now. Nothing can match your mother's, wife's an friend's smile. Nothing can match your kindness and generosity. Nothing can match your strength and presence. Nothing can equal you in this moment. Although you whished thousand times that you have the right to see your daughter grow. And now you can. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
  

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