As palavras soltas de hoje estão a ver tudo de pernas para o ar. Talvez porque quem está de pernas para o ar seja eu. Hoje peguei nos meus lápis e pincéis e resolvi pintar-me. Primeiramente desenhei-me. Tracei minuciosamente um esboço de mim. Com traços muito leves. Com traços rápidos, curtos e quase invisíveis. Depois pensei nas cores que gostava de ver em mim. Já que vou ser artista de mim mesma posso escolher as cores. Peguei na paleta de cores. Eram todas tão bonitas. Eram todas tão diferentes. Não havia uma única igual à outra. Resolvi começar por pintar os meus cabelos. Os seus caracóis mais ondulados do que encaracolados que ondulam ao sabor do vento tal e qual o mar. E as ondas do mar são azuis. Tracei uma linha ondulada com o pincel mais fino para definir, a ciano, o primeiro fio do meu cabelo. E pintei cada fio de cabelo meticulosamente. Ficou tal e qual o mar em dias de bastante ondulação. Mas, como é óbvio, ninguém tem o cabelo todo azul ciano! Nem o mar, que é o mar, é todo azul! Então, resolvi pegar noutro pincel e pincelar o meu cabelo com um pouco de branco e azul mais escuro. E, assim, ficou a parecer mais natural. Depois decidi pintar a minha pele. A minha pele, não bronzeada, tem tom de neve e toque de algodão. Olhei para o branco e molhei a ponta do pincel. Tracei a primeira pincelada gentilmente para não me magoar nem deixar nenhuma marca que pudesse ser de outra cor. E, lentamente, foi assim que toda a minha pele ficou branca como a neve. Mas, como é óbvio, ninguém tem pele da cor da neve e, como tal, acrescentei umas noances de magenta nas bochechas para dar um aspeto mais natural. E ficou muito mais natural. Quando quis pintar os meus olhos, boca, nariz e orelhas para dar mais expressão à minha cara, lembrei-me do que me faz vibrar de ansiedade e felicidade na vida: a dança. E lembrei-me de pintá-los com o maior número de cores possível. A dança tem sabor, cheiro e é de todas as cores. E, quando olhei para a minha pintura de mim mesma, achei que estava a ficar mesmo igual a mim. Finalizei a boca com um sorriso com as sete cores do arco-íris. Afinal, a paleta tem todas as cores possíveis e imaginárias para eu poder finalizar o meu esboço em grande. Olho para o esboço de mim mesma e sinto-me feliz porque nada me faz melhor do que ver-me feliz. Bem, mas isto são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words can see everything upside down. Perhaps because I am the one that is upside down. Today I took my pencils and brushes and decided to paint me. First I drew me. I minutely traced an sketch of me. With very faint traces. With quick, short strokes and almost invisible lines. Then I thought about the colors that I would like to see painted in me. But as I will be the artist I can choose all colors. I picked up the color palette. They were all so beautiful. They were all so different. There wasn't one equal to another. I decided to start by painting my hair. Its more wavy than curly curls curling in the wind just like the sea waves. And the waves are blue. I traced a wavy line with the thinnest brush to define, with Cyan, the first strand of my hair. And I painted each hair meticulously. It was just like the sea when it has waves. But, of course, no one has a cyan hair! Neither the sea, which is the sea, is all blue! So, I decided to take another brush and brush my hair with white and darker blue. Just a little. And it looked much more natural now. Then I decided to paint my skin. My skin, when it's not tan, has tone of snow and feels like cotton. I looked at the white color and wet the brush tip. I traced the first stroke gently so I don't hurt me or leave any marks that could left in me another color. And slowly, that's how all my skin becomes white as snow. But, of course, no one has skin with the color of snow and so I added a few tones of magenta in my cheeks to give me a natural look. And it was much more natural. When I wanted to paint my eyes, mouth, nose and ears to give more expression to my face, I started remembering all the things that makes me tick of anxiety and makes me feel happy in life: dance. And I started painting them with as many colors as possible. Dance has taste, smell and it is all colors. And when I looked at my painting of myself, I thought it was really like I am. I finished my mouth with a smile made of the seven colors of the rainbow. After all, the palette has all the colors imaginable for me so I can finished my sketch in BIG. I look at my sketch of myself and I feel happy because nothing makes me happier than the privilege of seeing me happy. Well, but this is another kind of words. Ana Reis
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