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A Velha que vivia num sapato (Versão portuguesa (portuguese version))


Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três)
Uma velha que vivia dentro de um sapato.
Mas não era um sapato qualquer!
Era uma bota com alguns remendos a descoser.

A morada dela era como que encantada e bela.
Nas cartas que costumava escrever podia ler-se:
Rua Sapato-bota, número quarenta e meio,
Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio.

Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver
O jardim maravilhoso que aquela bota tinha.
Tinha árvores e flores sem fim,
E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim!

O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado.
O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo.
E sempre que o abriam era possível saber
Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer.

E o seu telhado era um pouco inclinado.
As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo.
E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar.
E muitos eram os que queriam a velha visitar!

No seu interior, depois da porta, tinha uma escadaria muito torta
Que dava acesso ao primeiro andar
No qual ficavam os quartos e a sala de estar.
No rés do chão ficava a cozinha e a sala de jantar.

A velha não morava sozinha, pois consigo tinha
Três filhos muito engraçados:
A Juca, o Joca e a Zita.
E todos moravam felizes naquela pequena casita.

No inverno todos se reuniam, e naquela casa se divertiam,
Diante da pequena lareira na sala de estar.
E muitas histórias acabavam por contar
Uns aos outros antes de se irem deitar.

Na sua pequena cozinha a velha tinha
Muitos frascos com os condimentos que precisava para cozinhar
As suas bolachinhas, que todos adoravam comer,
E que faziam água na boca crescer!

E na sala de jantar a mesa mais parecia não findar!
Havia dias em que cabiam dois,
Outros havia em que nem três cabiam,
Mas com muito esforço havia dias em que os das pontas mal se viam.

Os quartos eram cor de limão e era mesmo bonita a sua decoração!
Parecia que tinham sido copiados de uma revista!
As suas cortinas eram tão bonitas
E nas camas as colchas eram muito catitas!

No sótão toda a gente sorria mal para lá subia.
À noite viam-se estrelas cadentes,
Em dias de verão o sol brilhava todo contente,
E no inverno a trovoada ecoava o seu som estridente.

A bota era o lugar que toda a gente sabia encontrar.
Porque era a única casa naquela vila diferente.
Mas nem sempre foi assim tão bonita e contente.
Aconteceram algumas histórias que tudo mudaram, felizmente.

E é uma dessas histórias que vos quero contar e convosco partilhar:
As aventuras da velha que vivia num sapato.
E como sei que sois os melhores ouvintes que podia alguma vez ter,
Destas e outras histórias ides ficar a saber!

Como não podia deixar de ser ser, e já me estava a esquecer,
Falta uma pessoa apresentar.
E como curiosos que são devem estar a perguntar:
“E a velha de quem tão pouco ouvimos ainda falar?”

A velha era uma senhora muito antiga que, no início, não tinha nenhuma amiga.
Vivia sempre triste a espreitar à janela.
E era tão rabugenta
Que em todos as bolachas que oferecia colocava sempre muita pimenta.

Sempre que um vizinho batia à porta para lhe dar um carinho,
A velha ficava a pensar na melhor forma de disfarçar.
E disfarçava.
Ou então ficava tão chateada que tudo à sua volta voava!

E os miúdos escuteiros, muitas vezes, iam lá atrás dos cheiros
A bolachas e pão doce.
Mas a velha sempre que os via
Colocava logo pimenta numa fatia.

E dava-a aos meninos a sorrir por na sua partida estarem a cair.
E eles, na sua boa fé, acreditavam na bondade daquela velha.
E mal metiam à boca a fatia
Muitos deles coçavam-se com alergia!

Digam lá se não concordam comigo que assim não era fácil ser amigo
Desta pequena e antiga velha,
Que todas as vezes era malvada
E, por isso, não podia ser pelos outros amada.

As roupas que vestia não mostravam qualquer simpatia.
O preto era a côr principal.
E quando vestia diferente
Chamava a atenção de toda a gente.

As mangas da sua camisola mais pareciam uma gola.
E a saia era tão espaçosa
Que tinha espaço para quarenta ladrões,
E para outras pessoas aos milhões!

O seu cabelo bem branco até tinha bastante encanto.
Os seus olhos eram da côr do mel.
E a sua boca pequenina
Combinava com o seu nariz de menina.

E falava-se por toda a vila e, às vezes, até no mercado, na fila,
Desta velha tão rezinga
Que nem por momentos deixava de ser
Tão má e malvada e terrível a valer!


A velha acordou, certo dia, como sempre fazia.
Espreguiçou-se em frente ao espelho
E perfumou-se para ao mercado ir.
Tinha que se prevenir para o inverno que estava para vir.

Calçou-se muito apressada e bebeu o leite de golada.
Não gostava de chegar tarde ao mercado.
Não queria ver ninguém
E os outros não a queriam ver também.

Quando ia para a porta abrir não ficou indiferente ao que estava a ouvir.
Um som muito agudo e suave
Parecia sair por trás da porta.
E não podia ser dela pois já há muito que tinha deixado de estar torta.

Abriu-a muito devagar não fosse alguma coisa dali saltar.
E eis que do meio da folhagem saiu
Um pequeno gato preto que não parava de miar
E a velha não sabia o que fazer para o calar.

Depois de muito pensar e com a cabeça à roda andar
Resolveu nos seus braços recolher
Aquele bichinho que miava
E que com muita fome, de certeza, estava.

Com ele no colo para a cozinha caminhou sozinha.
“O que comeria um gatinho daqueles?”
Pensou ela sem saber o que fazer.
Mas pelo menos leite no frigorífico devia ter para ele beber.

“E onde poderia colocar o pouco leite que tinha para lhe dar?”
Deu por si a pensar. A velha estava confusa.
E por mais que pensasse só lhe surgiam dúvidas.
Só esperava que não fosse uma vingança dos miúdos a uma das suas terríveis partidas.

Pegou num prato e encheu-o de leite bem barato.
E quando pousou o gatinho no chão
Ele começou logo a caminhar.
E, num abrir e fechar de olhos, conseguiu com o leite terminar.

E entre brincadeiras de gato e risos dentro do sapato,
A velha quase se esqueceu do mercado.
E quando pensou no que iria almoçar
Pegou na mala e saiu, deixando o gato no sofá a dormitar.


Nesta grande correria quase que se esquecia
Das compras que queria para casa trazer.
Mas quando ao mercado estava a chegar
A lista de compras acabou por encontrar.

Apesar de cedo ainda ser as pessoas já a podiam ver.
E entre bocas e olhares de lado,
A velha passou pelo meio da multidão.
E todos a olhavam com grande atenção.

Não era nada normal, nem sequer habitual,
Aquela velha tão tarde no mercado aparecer.
Todos comentavam e todos se perguntavam.
Mas, no final de contas, nenhuma resposta encontravam.

Dentro do mercado as vendedoras apregoavam e as suas vozes ecoavam:
“Olh’ó peixe fresquinho!”, “Levem desta carne tão tenra!”
Entre uma gritaria e outra a velha nem reparava
No que cada vendedora no mercado apregoava.

Três pequenas maçãs e um quarteirão de sardinhas anãs.
Couves, repolhos e batatas, embora não muito baratas!
Tinha ainda que comprar nabos e chouriças,
Frango, salsichas e algumas linguiças.

Na banca das flores descobriu algumas com lindas cores.
E foi aí que deu por si, estranhamente, a sorrir.
Lembrou-se do gatinho que encontrara de manhã
Tão pequeno e indefeso sem a sua mamã.

Os sacos todos arrumou e sem esquecer nenhum levou
Tudo de uma só vez.
Não podia demorar pois tinha alguém à sua espera,
O gatinho preto que mais parecia uma pequena pantera.

Mal abriu o seu portão sentiu no seu coração
Que algo em si estava diferente.
O que era?! Não sabia.
Mas era mesmo bom o que naquele momento sentia!


Mal abriu a porta, a qual já não estava torta,
Viu que algo tinha mudado.
Não era só o que sentia.
Mas também o que na sua casa, naquele momento, via.

As cortinas estavam no chão numa grande desarrumação.
Havia pétalas por todo o lado
E bastantes cacos no chão.
Não imaginam como era grande a confusão!

A velha não queria acreditar no que estava a ver mas alguma coisa tinha que fazer.
Não sabia por onde começar a arrumar.
Era tamanha a confusão que na sua casa se havia instalado
Que só se via balbúrdia por todo o lado.

Pegou numa vassoura e começou a varrer, pois era tudo o que podia fazer.
Apanhou as almofadas e pendurou os cortinados.
E depois de muito arrumar
Acabou por tudo endireitar.

E não havia meio de o gato aparecer, muito menos para comer.
Procurou-o por todo o lado.
Subiu e desceu e desceu e subiu.
Saiu e entrou e entrou e saiu.

Procurou no primeiro andar e não o conseguiu avistar.
Foi, então, que subiu até ao sótão.
E este era o último lugar onde ele poderia estar.
E depois de muito procurar acabou por o encontrar.

Ele parecia assustado e tremia por todo o lado.
Pegou-lhe com gentileza e encostou-o ao seu peito.
O calor que sentiu ao tê-lo nos seus braços
Só fez aumentar os laços.

A velha não conseguia explicar o que sentia,
Pois era completamente novo e especial.
Uma coisa era certa e não podia ser mais acertada:
A partir daquele dia a velha estava mesmo mudada.

E, agora, na sua vida já não se sentia perdida.
Aquele pequeno ser maravilhoso
Fez um sentimento novo nascer
Naquele velho coração que toda a gente pensava não amolecer.

 Os dias foram passando e toda a gente foi notando
A mudança daquela velha.
Não havia mais maldade nem sequer má intenção.
Parecia que, por fim, havia ganho um coração.

As crianças da escola começaram a parar e a entrar
No portão daquela casa só para pela porta espreitar
E melhor poderem ouvir as suas gargalhadas.
E depois seguiam o seu caminho para casa todas intrigadas.

De manhã, depois de acordar e a sua cara lavar,
A velha saiu pela porta e trouxe consigo o seu gato.
E deixou-o a brincar no seu jardim por entre as flores.
E que maravilhoso era ver o preto no meio de tantas cores!

Certo dia, um vizinho acabou por arriscar e perguntar:
“Mas como se chama esse gatinho que anda por aí a passear?”
E a velha sem saber o que havia de responder
Pegou no seu gato ao colo e entrou em casa a correr.

Nunca tinha pensado no nome que lhe havia de dar para o poder chamar.
Tico, Teco, Tareco...
Porque haveria ela de um nome lhe dar?
Era mais fácil com um assobio fazê-lo até ela chegar.

Certo dia voltou a sair para no jardim com o seu gato se divertir.
E com o seu gatinho a brincar acabou por nem reparar
Que outro vizinho aproximou-se e acabou por perguntar:
“Como se chama esse gatinho que anda por aí a brincar?”

Mas que bisbilhoteiros aqueles seus parceiros!
Que interesse teriam eles em saber o nome do seu gato?!
Já estava a achar aquelas perguntas fora do normal
E eles tinham que respeitar a sua vontade se não fosse a bem, a mal!

Certa noite sozinha, e depois de tão cansada das perguntas da sua vizinha,
Decidiu sentar-se no sofá com o seu gato preto.
“Vamos então dar-te um nome mas tem que ser o certo!”
Pensou muito e nenhum lhe pareceu o correto.

Acabou por adormecer no sofá até amanhecer
E nesse momento ouviu na rua os meninos a gritar:
“Oh Chulé! Chulé!” Eram estas as palavras que entoavam.
Olhou para o lado e viu que as orelhas do seu gato se levantaram.

E bem alto do sofá ele deu um salto
E pela porta pequenina o gato saiu para o jardim.
A velha numa correria e quase que a tropeçar,
Atrás dele foi para o tentar apanhar.

Quando a porta abriu, logo viu
Que o seu gato junto dos meninos estava
E que o seu pelo eles amaciavam
E diziam palavras que o encantavam.

Os meninos quando viram a velha aproximar devagar
Ficaram parados como se ficassem congelados
E deixaram de o pelo do gato amaciar
Não fosse aquela velha com eles se zangar.

Mas foi com grande admiração que ela tirou do bolso, com a sua mão,
Uma mão cheia de rebuçados
Todos muito bem enbrulhados
E sem aspeto de terem sido apimentados.

Abriram o papel à espera de saber a fel.
Mas por mais que o procurassem
O sabor era maravilhoso
E não parecia nada perigoso.

A partir daquele dia, para todo o lado que a velha ia,
As crianças da escola cumprimentavam-na e aproximavam-se.
E por toda a vila as pessoas ficavam com uma expressão admirada
Ao ver a velha no meio da criançada.

Quando a primavera apareceu, por fim, no seu jardim,
As flores começaram todas a florir.
Aquele jardim ficou cheio de cores de fazer parar
Qualquer um que por ali fosse a passar.

No seu jardim os cheiros pareciam não ter fim.
As flores tinham pétalas tão coloridas
E eram de todos os feitios que se possam imaginar!
E no conjunto faziam uma paisagem de encantar.

Tinha Anémonas bem rosadas como se estivessem coradas.
Tinha Cravinas e Cravos todos muito bem organizados.
Os Crisântemos estavam no canto do jardim
E, mais adiante, bem escondido, não podia faltar o Alecrim.

As Lavandas perfumadas, ao sabor do vento, dançavam encantadas.
Enquanto as Gardénias no seu canteiro pareciam que desafiavam
As Gerberas que sossegadas estavam.
E que, no seu canto, nem um passo davam.

No meio da horta estava a flor sempre torta.
Era o Girassol que andava sempre atrás do sol.
Os Goivos estavam sempre muito calados
Isto porque eles são bastante envergonhados!

E num canto ajardinado e muito arranjado
Estavam os Jacintos, junto ao portão de entrada.
E sempre que alguém por ali passava
Parecia que as boas vindas lhes dava.

Os Lírios lilazes eram muito perspicazes.
Mas tinham uma personalidade difícil,
Pois não gostavam nada de ser incomodados
E, por isso, cresciam muito isolados.

As Margaridas humildes são e têm um bom coração!
As outras flores tentam sempre ajudar
Esteja muito vento ou um sol de arrasar.
E na primavera estão constantemente a cantar.

No fundo do jardim, com a sua côr de marfim,
Crescem os Narcisos sempre indecisos.
Nunca sabem para que lado se virar
Se para o sol a nascer ou para o sol a pousar.

E o que em nenhum jardim pode faltar, por ser tão vulgar,
São umas flores que têm cores e perfumes maravilhosos.
E por serem espinhosas tornam-se um pouco perigosas.
E só posso estar a falar das Rosas, as flores mais charmosas!

Numa manhã de primavera a velha resolveu plantar uma hera.
E plantou-a com muita delicadeza.
E quando olhou para o seu gato Chulé
Reparou que ele, só para lhe chegar, tentava pôr-se em pé.

Regou-a com muito cuidado, não fosse ficar tudo alagado.
E depois de tudo pronto ficou a observar.
Parecia que agora tudo o que ela fazia
Lhe dava uma certa alegria.

Andava ela muito entretida com estas coisas da vida
E sempre acompanhada pelo seu gato,
Quando alguém tomou a iniciativa e na campainha tocou
E a velha mal ouviu a sua cabeça virou.

“Que me quer?” perguntou ela sem saber bem o que dizer.
Reparou que quem estava ao portão era uma menina muito assustada.
Ao ouvir a velha perguntar a menina deu um passo para trás apavorada
E acabou por não lhe dizer nada.

“Vai demorar muito a responder? Eu tenho mais o que fazer!”
E a menina a medo lá acabou por falar:
“Vinha pedir-lhe dinheiro ou algum tipo de comida,
Basta-me isso pois, noutra casa, pedirei guarida.”

E a velha depois de pensar não hesitou em perguntar:
“Mas tu não tens pai nem mãe para de ti cuidar?”
E a menina quase a chorar só conseguiu dizer:
“Sou orfã de pai e mãe e há muitos dias que não tenho o que comer.”

A velha do chão levantou-se de rompão
E depressa abriu o portão para a menina entrar.
E o Chulé muito rápido com ela foi ter.
E a menina baixou-se para algumas festas lhe fazer.

A menina lá ficou e pela porta da casa entrou
Com a velha e o Chulé sempre atrás.
Só depois a velha se lembrou do seu nome lhe perguntar,
Ao que ela não soube bem que resposta havia de dar.

“Mas tu não tens nome?” perguntou a velha à menina com fome.
E ela a tremer respondeu:
“O meu nome é Juca.”
E a velha pensou que quem lhe deu o nome só podia ser maluca.

Na cozinha a velha procurou comida para poder alimentar a menina.
Resolveu preparar-lhe uma refeição bem quente.
E a menina comeu tudo tão depressa
Que não ficou nada na travessa.

Enquanto a velha arrumava, a Juca no sofá ficou sentada.
E o Chulé, como não podia deixar de ser,
Deitou-se no seu colo a dormir.
E quando a velha neles reparou ficou a sorrir.

A Juca como estava cansada da caminhada
Também acabou por adormecer.
E a velha, para mais conforto a menina ter,
Pegou num cobertor para a aquecer.

E naquele momento veio-lhe ao pensamento:
“Como iria ela cuidar daquela menina
Sendo uma velha tão sozinha?
E não estava preparada para ser avozinha!”

Sentou-se no sofá para descansar e melhor pensar.
E sem dar por si também acabou por adormecer.
E as horas foram passando tão rapidamente
Que quando acordou sentia-se perdida completamente!

Olhou para o sofá e os dois já não estavam lá.
O Chulé e a Juca tinham desaparecido!
Por momentos pensou que tivesse sonhado
Mas o som de risos parecia vir de todo o lado.

Subiu as escadas a correr e quando chegou ao sótão pôde ver
Que a Juca estava a brincar com o Chulé
Com uma casa de bonecas que por lá estava
E da qual a velha já nem se lembrava.

“Encontrei isto aqui e fiquei encantada quando a vi.”
Disse a Juca a olhar para a velha.
E a velha em vez de um raspanete lhe dar
Sentou-se junto dela a brincar.

E com grandes gargalhadas continuaram por ali sentadas
E nem deram pela noite chegar.
Só quando o escuro era de assustar
É que a velha disse: “Temos que ir jantar.”

E a partir daquele dia a velha já não fazia
A mesma vida de solidão.
Agora tinha um gato e uma filha querida
Que daquele dia em diante lhe tinham mudado a vida.

A Juca podia parecer mas não era uma menina qualquer.
Todos os dias bem cedo acordava
Para ajudar a velha nas tarefas mais pequeninas.
E depois saía para a escola, como todas as outras meninas.

Era muito nova ainda, esta menina linda,
Que costumava tirar boas notas.
E os trabalhos de casa nunca ficavam por fazer!
Era a primeira coisa que pronta tinha que ter.

Os seus cabelos bem pretos formavam caracóis irrequietos.
Sempre que a sua cabeça se mexia
Lá iam eles sem ordem nenhuma
Por serem tão leves como uma pluma.

Os seus lábios bem finos e rosados, quase que encantados,
Eram muito elegantes e bem feitos.
E combinavam na perfeição
Com os seus olhos verdes côr de limão.

A pela clara e macia desta menina fazia
Com que parecesse um anjo.
Mas como todas as meninas da sua idade
Também tinha as suas birras, mas sem nenhuma maldade.

A nível de personalidade a menina tinha sempre imensa vontade
De correr, saltar e pular sem parar!
Fosse no jardim ou na rua a caminho da escola.
E muitas vezes jogava com os rapazes à bola.

Mas quando era para ajudar não conseguia negar.
Estava sempre pronta para o que fosse necessário fazer.
Uns dia a varrer o jardim
Outros a lavar o chão ou tarefas que mais pareciam não ter fim.

Mas ela ajudava e sempre a sorrir andava,
Mesmo que o trabalho fosse mais duro,
Porque para aquela menina o mais importante era dar
A sua ajuda e à vizinhança poder agradar.

A escola era um lugar onde todos podiam no intervalo brincar
Mas quando a campainha começava a tocar
Todos para a sala iam a correr
E os livros não podiam esquecer.

Certo dia, cheia de alegria,
A Juca para a escola foi.
E as aulas não podiam ter corrido melhor,
Pois até conheceram um novo professor.

Neste dia, que até parecia estar a correr dentro do normal,
A Juca mal podia imaginar
O que ainda estava para acontecer:
Havia outra nova pessoa para ela conhecer!

Depois das aulas para casa ia numa grande correria,
Quando sem ver tropeçou em alguma coisa que estava no chão.
Olhou com muita atenção
E só conseguiu ver uma mão.

Essa mão estava a tentar ajudar para ela se levantar.
E ela aceitou a ajuda sem hesitar.
E quando se levantou viu a cara de um rapaz.
Ia perguntar-lhe o nome mas não foi capaz.

Com a cara toda suja e as roupas todas rasgadas, estragadas,
A Juca conseguiu ver que aquele menino,
Tal como ela, não tinha nada para comer
E deu-lhe o seu casaco para ele se aquecer.

Como não estava a contar o menino começou a chorar
E a Juca, sem pensar, um abraço acabou por lhe dar.
E depois deste momento o rapaz disse a soluçar:
“Obrigado minha amiga pelo que acabaste de partilhar.”

A Juca o seu caminho seguiu e ao adormecer sorriu
E sonhou com aquele amigo que acabara de ganhar.
E amanhã de certeza que o irá encontrar,
Nem que seja só para o voltar a abraçar.

Na manhã seguinte saiu a correr, estava ansiosa para o seu amigo ver.
E a velha olhou para ela e achou -a diferente.
Um dia iria segui-la sem ela reparar,
Pois de certeza que alguma coisa estranha se estaria a passar.

Certo dia pegou em tanta comida que parecia perdida.
E a velha, desconfiada, pegou no Chulé e seguiu-a sem ela saber.
O caminho para a escola foi completamente normal
Tinha que esperar pelo almoço para descobrir o responsável por aquela mudança total.

E, nessa hora do meio dia, sem saber que a velha a seguia,
A Juca com aquele menino foi ter
E a velha ficou na esquina a espreitar
Para ver o que naquele sítio se ia passar.

A Juca a sua lancheira tirou e para o menino olhou.
Tinha trazido um grande lanche
Para com ele partilhar
E poderem, assim, juntos almoçar.

E a velha sem nada dizer continuava escondida a ver
O que a sua menina fazia.
Dava de comer áquele menino desconhecido
Que se mostrava muito agradecido.

A velha quando se lembrou a correr começou.
Tinha que chegar mais cedo do que a Juca a casa
Para ela não reparar
Que a mãe a tinha estado a observar.

A Juca quando a casa chegou a velha só lhe perguntou:
“Correu bem o teu dia? Conheceste alguém novo?”
E a menina sem muito dizer acabou por responder:
“Mas que pergunta é essa que eu não estou a entender?”

E a velha sem querer dar a entender o que havia estado a fazer
Voltou a insistir e a perguntar:
“Não haverá nada de novo que me queiras contar?
Tens tido alguns comportamentos que eu estou a estranhar.”

A Juca preocupada estava a ficar atrapalhada.
Agora tinha que responder à sua mãe para não a deixar preocupada.
Mas à cabeça não lhe vinha nenhuma resposta convincente
E acabou por contar a história que a havia deixado extremamente contente.

“Este menino é como eu, lutador e forte mas não teve tanta sorte.”
E a velha a sorrir fez sinal para que continuasse a falar.
Estava a gostar muito de ouvir a sua menina a confessar.
“Ele não tem casa onde dormir e não tem pais para o amar.”

E a velha depois de a menina abraçar prometeu-lhe que o seu novo amigo iria ajudar.
E a Juca sem nunca largar a velha
Disse-lhe ao ouvido, a sussurrar:
“Para sempre contigo quero ficar.”

No dia seguinte era sábado e tudo estava sossegado.
A Juca e a velha acordaram cedo para a sua missão cumprir.
Saíram apressadas ao encontro do rapaz
E a Juca sabia bem do que a velha, para cumprir uma promessa, era capaz.

Quando o encontraram no beco logo o abraçaram.
E ele, sem saber o que fazer, deixou-se no meio delas ficar.
Depois a Juca começou por lhe dizer:
“Esta é a minha mãe e ela tem uma pergunta para te fazer.”

O rapaz olhou para a velha e reparou
Na doçura do seu olhar depois daquele abraço apertado.
E, então, ela começou por dizer:
“Eu gostava que largasses a rua e que connosco fosses viver.”

O rapaz começou a corar e, antes de falar,
Uma lágrima pela sua cara começou a correr:
“Com tanta emoção nem sei o que vos dizer.
Mas gosto muito de vocês, fiquem a saber!”

“Então vem connosco morar. A nossa casa é de maravilhar.”
Disse a Juca toda contente ao ver o seu amigo feliz.
“Vou convosco mas têm que me prometer,
Que vou poder ajudar-vos em tudo o que eu puder.”

A velha com o pedido do menino concordou e logo reparou
Que a sua família, no início inexistente,
Estava a aumentar
Com mais um membro ao qual ela iria muito amor dar.

E os três seguiram o seu caminho com o coração cheio de carinho.
Quando a casa chegaram, um banho ele teve que tomar.
Estava muito sujo e com a roupa que trazia toda rasgada.
Precisava mesmo de comida, cama e roupa lavada.

Depois de todo perfumado e com o banho já tomado,
O menino no sofá sentou-se e o Chulé no seu colo deitou-se.
E a velha recolveu arriscar a perguntar:
“Tens algum nome pelo qual te havemos de chamar?”

E o menino respondeu que o nome que a sua mãe lhe deu
Era Joca. Mas não tinha mais nenhum nome para além desse.
E a velha sorriu e disse a sussurrar:
“Bem-vindo meu filho a este teu novo lar.”

O Joca tinha uns cabelos ruivos encaracolados bastante engraçados.
Nas suas faces sempre rosadas tinha algumas sardas.
E o seu nariz pequenino e estreito
No seu rosto ficava perfeito.

Os seus lábios bem diferentes sorriam sempre contentes.
E a sua cara era magra e comprida.
Ele era muito alto para a sua idade
E para lhe darem um beijo tinham alguma dificuldade.

E este menino também gostava muito de ajudar quem estivesse a precisar.
Todos os vizinhos já o conheciam.
E sempre que precisavam que ele os fosse ajudar
Não hesitavam em irem à bota para o chamar.

E ele ia todo satisfeito fazer-lhes o jeito
Que eles pudessem estar a precisar.
E as pessoas agradeciam-lhe e um presente ou outro costumavam dar
Para agradecer áquele menino o favor que lhes tinha estado a prestar.

Mas no que toca a ajudar, a velha também não se podia queixar.
Se ela a alguma coisa não conseguisse chegar
Já sabia que o Joca tinha que chamar
Pois por ser muito alto ele não tinha que se esforçar.

E todos os dias depois de acordar o Joca gostava de ir dar
Um pequeno passeio com o Chulé.
O pequeno gato precisava de passear
Para poder sair um pouco de casa e as suas pernas esticar.

E toda a gente na vila parava e na bota reparava.
Nunca tinham visto aquela velha tão mudada.
Agora a bota até parecia ter mais côr.
Mas era a ilusão criada pela existência de tanto amor.

Em cima do telhado, o Joca gostava de estar, muitas vezes, sentado.
E estava por lá horas a observar a vila, os campos e as montanhas.
E numa dessas suas subidas em algo estranho conseguiu reparar
Mas não podia ver bem dali de cima tinha mesmo que ir para a serra caminhar.

Numa das manhãs em que cedo acordou, o Chulé para caminhar levou.
E ele, todo o contente, não sabia o que o esperava pela frente.
Os campos estavam bonitos e verdejantes
E as águas do rio como prata, cintilantes.

O Chulé sempre a correr queria tudo, ao mesmo tempo, ver.
E o Joca muito apressado tinha que o levar ao colo
Não fosse ele pelo caminho ficar
E ele não reparar.

Junto a uma árvore tiveram que parar porque o sol estava a queimar.
E o Chulé resolveu beber água no rio,
Enquanto o Joca aproveitou para comer
As uvas que tinha trazido de casa sem ninguém ver.

Estava mesmo intrigado com o que vira do telhado.
Os tambores que tinha ouvido tinham que vir de algum lado.
E como seria possível alguém na serra morar
Se não deixavam ninguém naquela serra habitar.

A resposta tinha que descobrir para aqueles tambores estar a ouvir.
Não podia continuar sem saber o que naquela serra estava a acontecer.
E este dia tinha que aproveitar
Porque a mãe e a irmã ao mercado tinham ido e iam demorar.

Retomaram a caminhada por entre a vegetação mais desorganizada.
Era tão bom ouvir o canto dos pássaros no meio daquela vegetação!
Os cheiros eram tão diferentes e tão bons para apreciar!
Mas não podia distrair-se porque não podia tarde a casa chegar.

Tinha mesmo que ser e, mesmo assim, ainda ia ter que correr.
Não era nada bonito o anoitecer naquelas montanhas.
Existiam uns quantos animais ferozes
E alguns deles eram mesmo muito velozes!

E que dois petiscos eles seriam pois nem muito depressa corriam!
O Chulé ainda podia subir às árvores
Mas mesmo assim não conseguiria de certeza escapar
A um lobo esfomeado ou a uma hiena a salivar.

Encontraram um espaço sem vegetação no qual havia um grande tronco no chão.
E o Joca aproveitou para se sentar a descansar.
A montanha era muito íngreme para continuarem a subir sem parar.
E já estava com alguma dificuldade em respirar.

Ele aproveitou para observar, enquanto o gato estava com uma folha a brincar.
Era engraçado como as árvores estavam num círculo perfeito.
Parecia que alguém as tinha ido assim colocar
Para que tudo organizado pudesse ficar.

Por entre as folhagens podiam ver coelhos a correr.
Eles saltavam muito depressa à procura de alguma coisa para comer.
E depois acabavam por desaparecer
E nunca mais ninguém os conseguia voltar a ver.

“A Juca ia adorar um animal destes ter para alguma companhia lhe fazer.”
Pensou o Joca.
Mas de certeza que nenhum iria conseguir apanhar
Pois eles eram demasiado velozes e andavam sempre a saltar.

Abriu bem os olhos para melhor poder ver e não se deixar adormecer.
E, quando se levantou para o caminho continuar, já não sabia do Chulé.
“Agora, só me faltava o gato fugir!”
Tinha mesmo que o encontrar e as pistas começou a seguir.

No chão estavam marcadas algumas das suas pegadas.
Pelo menos havia um rasto para poder seguir.
Mas tinha que depressa o encontrar
Porque não demorava muito para a noite chegar.

A passarada esvoaçou muito assustada
Com os berros que o Joca teve que dar para o Chulé chamar.
Mas nem assim o gato resolveu aparecer.
“Tinha logo hoje que se perder!”

Depois de muito procurar e de pelo seu nome continuar a gritar,
Na clareira o Joca voltou a sentar-se.
Não conseguia parar de pensar
Que se lhe acontecesse alguma coisa jamais se iria perdoar.

Como tarde estava a ficar, para casa o Joca teve que voltar,
E tinha que encontrar uma boa desculpa para dar
À mãe e à irmã por não ter o Chulé consigo,
Pois para todos eles era muito mais do que um amigo.

A montanha começou a descer sempre a correr.
E sempre que podia ia olhando à sua volta
Para ver se o Chulé conseguia encontrar
E poder, ainda, para casa o levar.

Mas não encontrou nada e já estava a ficar noite fechada.
Por hoje já não havia mais nada a fazer.
Tinha que se preparar
Para a fúria que iria em casa enfrentar.

Abriu o portão muito devagar não fossem elas acordar.
Mas não foi preciso muito barulho.
A velha estava na sala à sua espera muito preocupada
E parecia ter uma cara bastante zangada.

A velha sem saber como o tratar acabou por falar:
“Ficaste na rua até demasiado tarde. Podias ter-me avisado.”
E o rapaz a tremer acabou por lhe dizer:
“Fui caminhar com o Chulé mas acabei por o perder.”

A velha ainda não tinha reparado na ausência do seu gato
Mas agora que ele falou nisso lembrou-se de lhe perguntar:
“Mas por onde foram vocês caminhar?
O Chulé não é nada de tentar escapar!”

E o rapaz sabia que ela tinha toda a razão e que merecia aquele sermão.
E para a acalmar acabou por confessar:
“Eu ouvi uns sons estranhos da montanha a sair
E resolvi, para lá, com o Chulé, ir.”

“Mas eu sei que não devia ter ido pois assim o Chulé não teria fugido.”
E continuou a conversa:
“Deslcupa mamã não se volta a repetir.
E esta noite, acredita, nem vou conseguir dormir!”

E a velha, com muita ternura, quis que ele lhe contasse a aventura.
E ele contou tudo sem se esquecer de nada.
“Amanhã vamos procurá-lo o mais rapidamente.”
Disse a velha para ver se ele ficava mais contente.

E sempre a soluçar o menino foi-se deitar.
E a velha cubriu-o e ficou à sua beira.
E uma canção começou a cantar
Para que o Joca conseguisse melhor descansar.

Na manhã do dia a seguir estavam todos, muito cedo, prontos para sair.
Levavam consigo muito comida, não fosse a fome apertar.
E nas mochilas bem carregadas
Levavam sacos-cama e cobertores e, até mesmo, almofadas.

E pela montanha subiram sem saber muito bem por onde iam.
Mas o Joca achava melhor começarem pela clareira onde haviam estado.
Foi dali que o Chulé desapareceu sem nenhum rasto deixar
E por isso era mais certo por ali perto ele estar.

Como a clareira era um ótimo lugar acabaram por as tendas ali montar.
E numa grande gritaria saíram os três pela montanha a procurar
O gatinho desaparecido que podia estar em qualquer lugar.
Mas o que parecia fácil não demorou muito a mais difícil se tornar.

E continuava a gritaria que por toda a serra se ouvia.
Até os animais acabaram por se esconder!
Mas o pequeno Chulé continuava sem aparecer
E o ânimo com que tinham começado a procurar começava, agora, a desaparecer.

O gato era um grande comilão por isso podiam deixar comida no chão
E podia ser que atrás do seu cheiro ele viesse.
Assim seria mais fácil de o apanhar
Mas tinham mesmo que fazer tudo com muito cuidado para não o assustar.

Mas quando tudo estavam a preparar, o vento começou a soprar
Com uma força fora do normal.
Foi então que resolveram um pouco esperar
A ver se aquela ventania acabava por passar.

Como a força do vento acabou por não abrandar, tiveram que se abrigar.
Foi então que viram um buraco numas rochas
E para lá foram a correr.
E foi nesse preciso momento que começou, também, a chover.

Mas que sorte poderem estar abrigados pois teriam ficado todos molhados.
Assim evitaram apanhar uma gripe bem forte.
As suas tendas eram fracas demais para os abrigar
Daquela chuva que parecia nunca mais terminar.

Como a chuva continuava a cair dali eles não podiam sair
Para, assim, as buscas poderem continuar.
Não dava jeito nenhum ter que ali ficar
Mas já que assim era podiam aproveitar para descansar.
A gruta era um local muito escuro e o chão bastante duro.
Não era nada fácil conseguir adormecer.
Como estava a ficar frio uma fogueira tiveram que fazer
E alguma lenha que lá dentro havia foi suficiente para começar a arder.

A gruta pelo escuro continuava e a Juca para lá espreitava.
“E se o Chulé também aqui dentro estiver?
Esta gruta é muito grande e parece não findar.
Podemos continuar o caminho aqui dentro para o procurar.”

E todos concordaram e a ideia da Juca adoraram.
Ela tinha sempre muito boas ideias!
Quando era para uma solução encontrar
A Juca era a que melhor a cabeça sabia usar!

E uma tocha para cada um tiveram que acender para o caminho poderem ver.
Era mesmo muito escura aquela gruta e mais parecia não ter fim.
E bem juntos seguiram para procurar
O gato naquele lugar de arrepiar.

Quanto mais ao longo da gruta avançavam com mais frio ficavam.
O caminho começou a descer um pouco.
E com a sua tocha a Juca conseguiu ver
Um riacho que ao seu lado estava a correr.

E na água podia ver alguns peixes a mexer,
Com cores muito brilhantes!
E o teto da gruta parecia ter pequenas luzes a brilhar.
Eram pirilampos que o caminho ajudavam a iluminar.

O frio era cada vez maior e o caminho cada vez pior.
Mas quando já estavam mesmo para desistir
Ouviram um som parecido com um miar
E resolveram continuar e o Chulé começar a chamar.

A gruta continuaram a percorrer sem saber
Se o pequeno gato iriam ali encontrar.
E quanto mais avançavam no caminho
Apercebiam-se que era mesmo o som de um gatinho.

Quando ao final do túnel estavam a chegar viram o sol a espreitar.
Mas que dia tão bonito daquele lado da gruta!
Assim seria mais fácil procurar o gatinho
Pois já conseguiam ver bem o caminho.

E continuavam a ouvir miar até que a velha resolveu parar
Diante de uma grande árvore
Da qual pareciam sair
Os mios que estavam a ouvir.

E os três ficaram à frente da árvore a olhar e, aproximando-se devagar,
Puderam ver que no último ramo estavam
Dois gatos pretos a miar
E um deles era o Chulé pois o guizo da sua coleira não deixava enganar.

“Chulé! Chulé! Desce devagar!” disse a Juca a gritar.
Mas os dois gatos lá no cimo continuaram a miar sem lhes ligar.
E foi então que a velha começou a procurar
Alguma coisa que a pudesse ajudar até eles chegar.

Depois de muito procurar nada conseguiu encontrar,
E os três já não sabiam o que mais haviam de fazer.
Foi então que, de repente, um assobio se fez ouvir
E todos eles tentaram identificar de onde estava o som a sair.

Descalça e muito pequenina apareceu-lhes uma menina
Que continuava a assobiar.
E quando para o cimo da árvore todos olharam
Viram que os gatos já lá não estavam.

Para onde teriam ido? Estaria o Chulé mais uma vez perdido?
E a menina parou de assobiar e começou a falar
Numa língua que não conseguiam entender.
Seria uma língua nova? Como iriam assim perceber?

Começaram a gesticular para tentar ajudar.
Mas estava mesmo difícil de a conseguir entender.
A menina fez um sinal que parecia ser para a seguir.
E, assim, atrás dela eles tiveram que ir.

E, mais adiante, tiveram que parar pois alguém ela foi chamar.
Até que puderam ver um grupo de macacos a aproximar-se.
Quando o maior deles todos chegou
Na mão da velha a menina pegou.

A velha percebeu que tinha de se aproximar do macaco para o cumprimentar.
E ele estendeu-lhe a mão e apertou-a devagar.
A velha estava com medo mas acabou por se acalmar
Quando viu no colo de um dos macacos o Chulé a chegar.

E a menina pegou nele para à velha o entregar e no seu colo ele começou a ronronar.
E a velha abraçou-o pois estava cheia de saudades.
E o grande macaco fez-lhe uma vénia para a cumprimentar
E ela agradeceu-lhe dando-lhe os frutos que tinha levado para almoçar.

E, naquela aldeia, muitos macacos viviam, e nas árvores dormiam.
Não tinham casas para morar.
Mas gostavam muito de assim viver
Pois livres era o que gostavam de ser.

A Juca, depois de soltar o Chulé, resolveu perguntar:
“Mas onde dormes tu, menina?
Tens que ter uma cama para dormir
E cobertores bem quentes para te cobrir.”

E a menina sem saber muito bem o que responder
Resolveu levá-la para lhe mostrar
Aquilo que ela achava que ela lhe estaria a perguntar
E, para isso, o braço da Juca começou a puxar.

As duas lá foram ver o que a menina lhe queria dizer.
Não ficava muito longe do local onde estavam.
E quando a menina a sua cama mostrou foi com grande admiração
Que a Juca repararou no monte de ervas que estava no chão.

Eles conseguiram perceber que o macaco grande o líder deveria ser.
E a menina não tinha qualquer família humana
Para além daqueles macacos sempre a saltar.
Mas que, por incrível que pareça, tinham imenso amor para lhe dar.

E quando nas horas repararam já muitas passaram
E tinham mesmo que regressar.
Pegaram no Chulé ao colo para o poder trazer
E pelo caminho de regresso não o voltarem a perder.

Mas como iriam agora lembrar o caminho para voltar!?
Tinha sido tão longo e confuso.
Foi então que a menina se ofereceu para os guiar
E o caminho para casa lhes mostrar.

E depois de chegarem a um caminho de terra seu conhecido na serra
Começaram por despedirem-se da menina que tinham conhecido.
Até que se lembraram de perguntar:
“Como é que ela se deve chamar?”

E sem ninguém dizer nada a menina disse muito agitada:
“Ziiiii-taaaaa! Ziiiii-taaaa! Ziiiiiitttaaaaaaa!”
E assim passaram a chamar
A menina que na serra os tinha estado a ajudar.

Mas a menina em vez de para sua casa ir, começou-os a seguir.
E sempre que para trás eles olhavam
Reparavam que a menina atrás deles continuava.
E por mais que tentassem para a aldeia ela não voltava.


E a Zita foi com a nova família, enquanto na aldeia dos macacos decorria
Uma reunião para tentarem encontrá-la pois estava a demorar.
Toda a macacada atrás dela resolveu ir
Para a sua nova casa conseguirem descobrir.

Quando os quatro à vila chegaram encontraram
Uma grande confusão por lá instalada.
Estavam umas pessoas a gritar e outras a correr
E nenhuma parava para lhes dizer o que estava a acontecer.

Foi então que, ao abrirem o portão,
Descobriram o porquê de tamanha confusão!
Dois macacos estavam nos atacadores da sua bota pendurados
E pelas suas caras pareciam bastante zangados.

E depois de olharem em volta repararam que pela vila estava solta
A aldeia dos macacos inteira!
Mas que grande baralhada! Uns a saltar nos telhados!
Outros a fazer caretas a quem passava! Eram mesmo uns mal educados!

E quando a velha a porta tentou abrir os dois macacos começaram a grunhir.
E foi aí que apareceu o chefe dos macacos, o grande macaco.
E a velha sem nenhum medo mostrar
Não hesitou em lhe perguntar:

“O que se está a passar? A vila têm que abandonar!”
E o grande macaco um grande grunhido lançou
E a Zita com os seus gestos começou a explicar
Que o seu pai veio à vila para a procurar.

“Mas têm que partir pois a vila estão a destruir!”
Disse-lhe a Zita com gestos e explicou-lhe porque tinha desaparecido:
“Queria saber como era com aquelas pessoas viver
E como eles poder experimentar ser.”

E todos ficaram admirados quando viram o grande macaco ficar com os olhos molhados.
E um grande abraço à Zita deu que, no meio do seu pelo, ela se perdeu.
De seguida voltou a grunhir para os outros chamar.
E foi assim que os viram a todos da vila retirar.

A velha resolveu não perguntar o que a Zita tinha acabado de falar
Com o grande macaco, pois não sabia se ela iria querer contar.
Abriu a porta para os quatro poderem entrar
E, assim, alguma coisa quente comerem ao jantar.

Depois de um banho quente a Zita tomar, a comida bem quente veio mesmo a calhar!
A sopa da velha era mesmo muito boa!
E enquanto comiam a velha ficou a pensar
Em como era muito bom ter mais alguém na família para amar.

 A Zita era muito pequenina mas bastante traquina!
Como para a escola não tinha que ir ficava em casa com a velha.
E a velha tinha que ter os dois olhos bem em cima dela
Pois senão estava sempre aos saltos no sofá como se fosse uma gazela!

Certo dia a velha sem saber, enquanto a casa estava a varrer,
A menina para o jardim da vizinha foi.
E poucos minutos despois estava a vizinha a gritar.
E a velha saiu a correr para ver o que se estava a passar.

Quando olhou para a sua vizinha viu que do seu telhado vinha
Tamanha nuvem de fumo preto que pela vila toda se espalhava.
E quando se aproximou para ver melhor
Foi agarrada pelo braço por um senhor.

“Sabe quem é aquela menina muito pequenina?”
E a velha olhou bem e viu que era a sua Zita.
“Sim, é a minha filha mais nova. Mas o que está ela ali a fazer?”
“Pergunte-lhe minha senhora! É uma selvagem qualquer!”

E a velha muito zangada por ver a sua filha a ser insultada
Fez uma cara muito chateada.
Afastou-se do senhor a correr
Para mais perto a sua filha poder ver.

A vizinha continuava a gritar até à velha se aproximar.
“Venho buscar a minha filha que a está a incomodar.”
E pelo nome começou a chamar
E a menina do telhado desceu sem resmungar.

E a velha depois de a sua filha nos braços ter começou por lhe dizer:
“Não podes subir para os telhados, minha filha!
O que estavas no telhado a fazer?
Sabias que a casa podia começar a arder?”

E a menina explicou com muitos gestos o que se passou.
Ela tinha visto um gatinho subir para o telhado e quando ele quis descer
Não sabia como o fazer e ela subiu para o ajudar
Mas depois a chaminé muito fumo começou a soltar.

E a velha nos seus olhos reparou no susto que ela apanhou.
E foi então que um abraço apertado lhe deu para a fazer sentir-se melhor.
E a menina a sorrir um beijo acabou por lhe dar,
E a velha já não conseguiu com ela resmungar.

Entraram em casa e o Chulé com elas veio ter e brincadeiras juntos foram fazer.
Quando todos estavam à mesa reunidos para jantar,
A velha aos outros resolveu não contar
O que durante a tarde se tinha estado a passar.

E naquele dia a Zita uma lição aprendeu e nunca mais à velha desobedeceu.
Todos os dias enquanto a velha cozinhava e os seus irmãos estavam na escola,
A Zita aproveitava para no jardim com o Chulé brincar
E às vezes até flores ajudava a plantar.

Já conseguia vestir-se sozinha e até a ajudar a arrumar a cozinha.
O banho já sabia tomar
E os dentes sabia que tinha de lavar
Várias vezes por dia até na cama se deitar.

O pijama que ela no início não queria usar depois já começou a gostar.
Ela estava habituada a dormir sem roupa nenhuma.
Na aldeia era normal dormirem todos no mesmo lugar
E, por isso, o frio não tinha como entrar.

A Zita dormia num quarto fora do normal, e que era muito especial.
Ela dormia no sótão para sentir-se como no cimo de uma árvore.
E sempre que as saudades da aldeia teimassem em aparecer
Pela janela bastava espreitar que a serra podia logo ver.

Arrumaram tudo muito bem e limparam as teias também
Para que tudo ficasse a brilhar.
Nem um bocadinho de pó ficou para contar
Todas as histórias que por ali um dia resolveram passar.

E a sua cama acabaram por fazer com troncos que da serra tiveram que trazer.
E tão linda que a sua cama ficou depois de pronta!
Todos os dias a velha ia ao jardim apanhar
Uma ramo de flores para na cama dela colocar.

Assim tornou-se mais fácil para ela se adaptar à vida no novo seio familiar.
E os sapatos já conseguia usar sem os tirar!
Mas não foi mesmo nada fácil de mudar
E deixar de pelo chão descalça andar!

E ao domingo era dia de sair e de irem para a serra se divertir.
E lá iam todos juntos com uma grande merenda na mochila
A aldeia dos macacos visitar
Para que a Zita, com os seus anteriores familiares, pudesse brincar.

E quando de lá tinham que partir vinham todos a sorrir!
Era tão bom com eles poder estar e um dia diferente passar.
E a Zita vinha radiante por poder a sua outra família visitar.
E à noite estava sempre tão cansada que adormecia logo após o jantar.
 
~O inverno acabou por chegar e o frio teimava em aumentar.
E a velha a lareira acendeu para a casa toda aquecer.
As casas por toda a vila já estavam decoradas
Com luzes e fitas de côr muito bem arranjadas.

E quando em casa todos estavam, músicas de Natal cantavam.
As férias da escola tinham chegado e estavam ansiosos que chegasse o Natal!
E foi então que resolveram à velha perguntar:
“Mãe, também podemos a nossa casa decorar?”

E a velha ficou a olhar como se estivesse a pensar.
E depois acabou por dizer:
“Vocês querem mesmo a nossa casa decorar?
Mas não sei como a vamos enfeitar.”

E aí se aperceberam, com ar admirado, que a sua mãe nunca tinha o Natal festejado.
Mas este ano tinha que ser diferente pois ela já os tinha a eles como família.
E, então, à noite, no sótão, os três reuniram-se para falar
E arranjarem um bom plano para o Natal da velha mudar.

Sem ela se aperceber os meninos começaram a fazer
Tudo o que conseguiam para a sua casa decorar.
Pediram ajuda a alguns vizinhos para peças que não conseguiam ter
Tal como para as luzes que queriam na árvore do jardim acender.

E na véspera de Natal a velha foi ao mercado como era habitual.
Mas naquele ano queria comprar uns presentes para aos seus meninos dar.
Este ano tinham sido tão bons meninos que mereciam receber
Um presente por todo o amor que no coração dela fizeram crescer.

Enquanto a velha no mercado andava e os presentes comprava,
Os meninos em casa estavam muito nervosos.
Hoje iriam poder mostrar à mãe tudo o que estiveram a fazer.
As luzes estavam prontas para à noite poderem acender.

Afinaram o que faltava arranjar e ainda puderam as luzes experimentar.
Não podia nada falhar para a mãe poder ver
Tudo o que o Natal este ano lhe iria oferecer!
E faltavam poucos minutos para a mãe a casa chegar, por isso o jantar foram fazer.

A porta abriu e a velha entrou e os presentes que trouxe entregou.
“Tomem estes pequenos presentes que tenho para vos dar.
Não é muito mas este ano não posso muito dinheiro gastar.”
E eles todos contentes o papel dos presentes começaram a rasgar!

Até o Chulé teve direito a um de tamanho perfeito!
Era um rato de brincar para ele poder correr atrás dele.
O presente da Juca era uma boneca para ela poder brincar
Com as novas amigas que na escola, este ano, tinha acabado de ganhar.
 
O Joca recebeu uma bola para poder jogar com os amigos na escola.
E a Zita muito aflita nem conseguia o seu presente desembrulhar.
Era tão grande que mal o conseguia agarrar!
Mas os irmãos foram ter com ela para a ajudar.

E com grande admiração lá tirou o seu presente e agarrou-o com a mão.
Era um peluche bem grande como o grande macaco!
Agarrou-se logo a ele sem nunca mais o largar
E, assim, um abraço à velha ela foi dar.

E os outros juntaram-se para a imitar e a velha começou a chorar.
“Porque choras mãe?” perguntou a Juca.
“Tenho uns filhos tão maravilhosos que me estão sempre a mimar,
E eu nem vos deixei a casa para o Natal decorar.”

Foi então que eles lhe disseram para os olhos fechar e para os acompanhar.
Saíram de casa e foram até ao portão.
O Joca disse à velha para os olhos abrir e poder ver
As luzes todas que tinham acabado de acender!

E foi então que a magia aconteceu e a bota toda se acendeu!
Estava mesmo bonita a bota toda iluminada!
E até o pinheiro na entrada estava a brilhar
Com tantas luzinhas a piscar!Depois foram todos juntos jantar e músicas de Natal cantar!

  Depois foram todos juntos jantar e músicas de Natal cantar!
E mais tarde na sala foram sentar-se.
E aí puderam todos juntos muitas histórias contar!
E a Juca à velha aproveitou para perguntar:

“Porque nunca tiveste Natal como toda a gente normal?”
E a história da sua vida a velha começou a contar:
“Os meus pais eram muito ricos e não podiam festejar
O Natal porque não tinham tempo para com a família estar.”

“Eles viviam para trabalhar e eu sozinha em casa costumava ficar.
E um gato preto era a minha única companhia.
Chamava-se Chulé e era um grande brincalhão.
E fazíamos grandes partidas a quem passava junto ao nosso portão!”

“Certo dia estava no jardim a passear e perto do portão fui encontrar
Uma boneca caída no chão com um vestido todo rasgado.
Era uma boneca mas parecia que estava a chorar!
Devia ser por não ter uma família que a pudesse amar!”

“E eu resolvi a boneca adotar e dela passar a cuidar!
Lavei-a muito bem e fiz-lhe um penteado bonito.
Um vestido novo no meu baú fui encontrar
Para que ela ainda mais bonita pudesse ficar!”

“E depois o Chulé acabou por me lembrar que um nome tinha que lhe dar.
E muito pensei e depois um nome encontrei:
Iria chamar-se Juca, e nunca mais eu a iria largar
Porque com ela aprendi o que era amar.”

E a velha continuou e mais sobre o seu passado falou:
“E um dia quando descobrimos que existia uma escadaria escondida
Resolvemos ir os três investigar
E nem imaginam o que fomos encontrar!”

“Depois de por uma porta pequenina entrar um sótão grande fomos encontrar.
Estava tudo desarrumado e cheio de pó!
Pelos cortinados via-se um raio de sol a entrar
E eu aproximei-me para espreitar.”

“Da janela toda a cidade se via e até parecia,
Vista dali de cima, que era uma cidade de brincar.
E foi aí que me lembrei de construir naquele lugar
A minha casa para que com a minha nova família pudesse ali morar.”

“Iríamos viver só os três sem ninguém a chatear e nunca mais nos iríamos separar!
Foi, então, que com lençóis e toalhas velhas
O telhado começamos por montar
E depois as paredes começamos a pintar.”

“Fizemos desenhos de arco-íris sem fim e outras coisas assim.
Ficou mesmo bonita a nossa nova casa!
Acho que se os adultos a fossem ver
De certeza que nela também iriam querer viver!”

“Quando o inverno resolveu chegar continuámos lá a morar.
E dormíamos todos juntinhos para estarmos quentinhos.
Mas um dia a Juca sem nada dizer
Acabou por desaparecer.”

“Fui procurar e acabei por encontrar
A Juca no meio do jardim com um boneco ao seu lado.
Ele estava a precisar de um banho tomar.
E aos dois um banho acabei por dar.”

“Aranjei-os muito bem e penteei-os também.
Ele já nem parecia o mesmo!
E na casa em vez de três, já éramos quatro a viver!
E a minha felicidade continuava a crescer!”

“Mas, novamente, não me estava a lembrar de um nome para lhe dar.
E depois de algum tempo pensar...
Achei que Joca seria o ideal,
E juntos iríamos ser uma família fenomenal!”

“Um dia estávamos no jardim a brincar e o Chulé atrás de uma borboleta foi a saltar.
Ele era um grande brincalhão!
E, mais tarde, quando para casa resolvemos voltar
Não conseguíamos o gato encontrar.”

“Mas para onde teria ido? Só esperava que não tivesse fugido!
E pelo jardim os três fomos procurar
O nosso amigo que estava difícil de encontrar.
E, então, por ele comecei a chamar.”

“Não havia meio de ele aparecer até que num buraco no jardim a mão resolvi meter.
E, o que fui lá dentro encontrar, vocês nem conseguem imaginar!
Uma boneca consegui de lá tirar
Mas estava muito suja de terra e com o cabelo por pentear.”

“Pouco depois apareceu o Chulé pelo seu próprio pé.
E na nossa casa juntei todos os membros da minha nova família
Para lhes poder apresentar:
A Zita que à família tinha acabado de se juntar.”

“E um dia os meus pais acabaram por encontrar a casa onde eu estava agora a morar.
E pediram-me para lhes mostrar os novos brinquedos que eu tinha.
Quando lhos mostrei, para os calar,
Eles de boca aberta acabaram por ficar.”

“Eles nem queriam acreditar que com tanto dinheiro para brinquedos comprar
Eu estava a brincar com brinquedos que no chão fui encontrar.
Quiseram que no lixo os fosse deitar
Mas eu não aceitei e com eles acabei por ficar!”

“E a minha mãe só me dizia sempre que ao sótão ia,
Que eu parecia uma velha rezingona.
Uma velha solitária com uma casa torta.
Tão torta que mais parecia que vivia numa bota!”

“E eu deixava-a falar pois as suas palavras em nada me estavam a incomodar.
Se eles não podiam ser a família que eu queria
Pelo menos os meus novos brinquedos podia ter
Para companhia me poderem fazer.”

“O valor deles não importava pois, sempre que com eles brincava,
Sentia-me a menina mais rica do mundo!
Os meus pais podiam ter muito dinheiro para tudo comprar
Mas não me davam o mais importante pois não sabiam o que era amar!”

“E desde então os meus natais foram mais especiais.
Já não me sentia tão triste e sozinha.
Agora já tinha uma família com quem estar.”
E foi assim que a velha que vivia numa bota aprendeu a amar!

Ana Reis

- FIM -

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