Avançar para o conteúdo principal

Palavras soltas (30/06/2014 - Campismo/Camping)


Fotografia: Ana Reis; Desenho de Catarina quando tinha 5-6 anos.
As palavras soltas de hoje encontram-se cansadas. Mas é um cansaço bom. Hoje, enquanto estava a praticar o meu momento Kum Nye, lembrei-me de uma coisa que adorava fazer quando era criança. É engraçado como essa recordação continua a conseguir fazer-me sorrir. É engraçado e é bom. Quando era pequena tinha uma adoração especial por inventar histórias para brincar. E uma dessas muitas histórias envolvia, apenas, duas cadeiras e um cobertor ou uma manta. Ah, e muita imaginação pelo meio! Algumas vezes cheguei a ter um colchão de campismo e sacos-cama. Eu adorava fazer acampamentos dentro de casa! Como já disse, com duas cadeiras e um cobertor ou manta disponíveis, tinha a desculpa perfeita para montar a minha tenda de campismo. Depois levava tudo e mais alguma coisa lá para dentro e arranjava uma companhia, às vezes, forçada, para partilhar aquela aventura comigo. E, depois de estarmos fechados no seu interior, começava a magia da imaginação. Ao longo de todo o processo criativo a minha imaginação ia criando novas imagens e cenários. E juntos, naquela pequena tenda feita de cadeiras, sonhos e mantas, enfrentávamos as maiores tempestades e os mais temidos criminosos. E, por incrível que possa parecer, saíamos sempre vitoriosos, mesmo depois de todos os abanões e sacudidelas e gritos estridentes durante a aventura criativa. Muitas vezes a minha mãe perguntava-nos o que se estava a passar. E o cenário desmontava-se, por uns meros segundos, e voltávamos, outra vez, à realidade para lhe responder: -"Nada! Estamos a brincar!". E depois de uma resposta afirmativa da minha mãe, como quem consente o que a nossa aventura, voltávamos para a nossa tenda feita de sonhos, cadeiras e mantas. Por vezes a agitação era tão grande no interior da nossa tenda de cadeiras, mantas e sonhos, que algum de nós acabava sempre por apanhar com uma cadeira na cabeça. Mas nunca nos magoávamos. Ela caía tão calmamente por causa das mantas e das "tralhas" que mal dávamos por isso. O único problema era a minha mãe aperceber-se disso. Aí seria o fim da nossa estadia! Quando resolvíamos sair do interior da nossa tenda de mantas, sonhos e cadeiras, para surpresa nossa, tudo estava exatamente no mesmo sítio onde havíamos deixado antes. Mas o cenário não se desmontava. Arranjávamos sempre o que fazer dentro do nosso mundo imaginário. Íamos procurar comida pela selva. Ou verificar se a tenda estava em condições para aguentar mais uma noite. O cenário só se desmontava quando a voz da minha mãe soava como se fosse a campainha a chamar-nos para almoçar. Algumas vezes mantínhamos montado na mesma o cenário e fazíamos de conta que íamos almoçar a um restaurante ou a casa de alguém próximo do acampamento. Sempre gostei de acampamentos de sonhos, em tendas feitas com amor, sonhos, duas cadeiras e algumas mantas. Sempre gostei de os ver nascer da minha imaginação, vê-los crescer na minha mente e nas minhas mãos aos meus olhos, e de vê-los tornarem-se "homens" numa ótima recordação de infância. Mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis

Photograph byAna Reis; Draw by Catarina when she was 5-6 years old.


Today my words are tired. But it's a good kind of tired. Today, while I was practicing my Kum Nye moment, I remembered something that I used to love when I was a child. It's funny how a memory can still make me smile with the same intensity. It's funny and it's good. When I was little I had a special adoration for inventing stories to play. And many of these stories involved only two chairs and a blanket. Oh, and lots of imagination too! Sometimes I had a camping mattress and some sleeping bags too. I used to love indoor camps! As I said, with two chairs and a blanket availables, I had the perfect excuse to have my camping tent. After carrying everything and anything into it I started looking for some company, sometimes forced, to share this adventure with me. And after we were inside of it, the magic of imagination started. Throughout the creative process my imagination was creating new images and scenarios. And together inside of that little tent made of chairs, blankets and dreams, we faced the biggest storms and the most feared criminals. And, as incredible as it may seem, we always finished victorious, even after all the jolts and jerks and shrieks during the creative adventure. Often my mother asked us what was going on. And the scenario dismounted, for a mere seconds and we returned, again, to reality to answer her: - "Nothing. We are just playing!". And after an affirmative answer from my mother, of who consents our adventure, we returned to our tent made of dreams, chairs and blankets. Sometimes the excitement was so great inside of our tent made of chairs, blankets and dreams that sometimes it ended up with one of us catching a chair with our head. But we never get hurt. The chair fell so quietly because of the blankets and the "junk" that we, most of the times, didn't see that it fell. The only problem was my mother realizing that it happened. That would be the end of our journey! When we got out of our tent made of blankets, dreams and chairs, we found out that everything was exactly at the same place as we had left before. But the scenario is not dismantledWe always found a way to continue playing in our imaginary world. We were going to look for food in the jungle. Or check if the tent was able to one more night. The scenario only dismounted when my mother's voice sounded as if it was the bell calling us to lunch. Sometimes we kept mounted the scenario and we started to pretend that we were going to have lunch at a restaurant or at someone's house near the camp. I always liked dreaming camps in tents made with love, dreams, two chairs and some blankets. I always liked seeing them birth in my imagination, seeing them grow in my mind and in my hands with my eyes, and see them becoming "men", a great childhood memory. But these are already another kind of words. Ana Reis

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Velha que vivia num sapato (Versão portuguesa (portuguese version))

Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu...

Palavras Soltas (01/04/2014 Dinâmica de grupo: O Abrigo Subterrâneo)

As palavras soltas de hoje vão falar de memórias. Hoje estive a arrumar o meu sótão, em todos os sentidos, e consegui encontrar as coisas mais maravilhosas por lá perdidas e, algumas, esquecidas. Vou tentar partilhar convosco algumas delas ao longo do tempo, pelo menos as mais relevantes e, de certa forma, engraçadas. A memória de hoje vai para o meu último ano de Licenciatura. Tinha uma disciplina com o nome Dinâmica de Grupos que era bastante interessante por interagíamos muito uns com os outros e tentávamos funcionar como um grupo. Acho que foi um bom trabalho para aprendermos a trabalhar em equipa. Se bem que na prática as coisas não são tal e qual a teoria. Um dos desafios que nos foram lançados ao longo do semestre foi a dinâmica: O Abrigo Subterrâneo. E vou lançar-vos o desafio também. "Imaginem que uma cidade no mundo está sob ameaça de ser bombardeada. Aproxima-se um homem de nós e solicita-nos que tomemos uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode...

Regressos / Returns

  As palavras soltas de hoje falam sobre regressos. Já há muito tempo que não as escrevo. E tanto tempo há que vocês não as leem. Por isso, hoje, resolvi escrevê-las. Estas pequenas palavras. Livres. Soltas. Tal como sempre vos habituei. E regressar traz sempre um sentimento agridoce. Tanto de excitação como de medo. As palavras soltas têm destas coisas. Sempre que escrevo deixo que seja o meu cérebro a comandar as minhas palavras. Ou serão as minhas palavras que controlam o cérebro?! Lidar com os pensamento enquanto escrevo é obrigatório. Não tenho escapatória possível. E, assim, regresso. Regresso ao meu mundo. Aquele mundo onde escrevo e desenho. Alio duas áreas da criatividade que sempre amei. E não me importo de viver aqui. Neste meu mundo de criatividade. Sinto-me abraçada sempre que o faço. Escrever. Desenhar. E regressar. Bem-vindas queridas palavras soltas! Que este seja um regresso para ficar. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Today's words will talk about ret...