Fotografia por Ana Reis (Museu de Serralves) |
As palavras soltas de hoje continuam adoentadas. Mas tudo passa. Tudo passa. Hoje estou mergulhada no silêncio das palavras. No silêncio das palavras que fui colhendo ao longo do caminho. E, por mais estranho que pareça, sinto-me a renascer. Sinto-me a renascer das palavras que abraçam e preenchem, hoje, o meu silêncio. Abraço cada uma delas com a mesma força que elas me abraçam mim. Abraçam-me e preenchem-me. E que melodia elas são para o meu coração. E que prodígio este. Não me apetece sair daqui sem ti. Sem a tua mão. Abraças o meu coração a cada gesto, a cada palavra, a cada sorriso, a cada movimento na minha direção. Não te afastes. Não leves contigo o calor destas palavras. Deixa-te ficar mais um pouco se o pouco tempo que te resta te impede de ficar eternamente. Acredita que aqui há mais espaço do que aquele que, na realidade, parece existir. Abraça-me baixinho para que ninguém nos ouça. Ninguém pode ficar a saber deste abraço só nosso. Sussurra-me ao ouvido aquelas histórias de ninar que só tu me sabes contar. Sussurra-as porque só eu as posso escutar. É o nosso pequeno segredo. Faz-me uma festa silenciosa na cabeça até eu adormecer. Deixa os outros no mundo dos sonhos deles e vamos viver o nosso sem ninguém saber. Este é o nosso pedaço de mundo e o resto do mundo não precisa de saber que ele existe. Guarda-o só para nós. Adormeço só para não ter que te ver partir. Não faças barulho quando saíres. Sai de mansinho. Encosta a porta para não a ouvir fechar-se atrás de ti. E, sempre que te apetecer estar comigo, já sabes onde me encontrar. A morada é sempre a mesma. O espaço é aquele que não existe e que tu já sabes tão bem onde ele fica. Mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Photograph by Ana Reis (Serralves Museum) |
Today my words still sick. But it will be gone soon. Today I am layered in the silence of words. In a silence made of words that I was picking along the way. And, strange as it may seem, I feel reborn. Today I feel reborn in the words that embrace and fill my silence. I hug each word with the same force as each one of them hug me. As each one of them hug and fill me. And what a melody it is to my heart. And what a prodigy it is. I don't want to get out of here without you... without your hand. Embrace my heart with every gesture, with every word, with every smile, with every move that you make in my direction. Don't go away from me. Don't take with you the warmth of these words. Just stay a little bit longer if the time that is left to you won't let you stay forever. Believe that here there's more space than the space that actually seems to exist. Hold me quietly so no one can hear us. No one can see this hug because it's only ours. Whisper in my ear those bedtime stories that only you know how to tell me. Whisper them because only I can hear them. It's our little secret. Do me a silent caress in my head until I fall asleep. Let others in their world of dreams and we live in our without anyone knowing. This is our piece of world and the rest of the world doesn't need to know that it exists. Save it to ourselves. I fall asleep so I don't see you go. I don't want to say goodbye to you. Please, don't make any noise when you left. Get out softly. Hill the door so I don't listen it close behind you. And whenever you want to be with me, you know where to find me. The address is always the same. The space is the one that doesn't exist and that you already know so well where it is. But these are already another kind of words. Ana Reis
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