Fotografia por mim (vista da minha janela) |
As palavras soltas de hoje estão mais animadas um pouco. Sim, estão mais animadas. Não podem estar todos os dias desanimadas. Temos que ir mudando a vontade conforme o tempo que faz lá fora. E também ele é muito inconstante. Por vezes, até em demasia. Inconstante sou eu como o tempo. Deste vale até à serra que durante todos estes anos nos acompanha existe um rio, um riacho, que alimenta e faz crescer todas as verduras que da minha janela, hoje, consigo ver. E os cheiros que dela nascem? E os cheiros que ela consegue produzir? Sabeis que sois já parte de mim? Já não sei o que seria do meu ser, da minha alma, se tu alguma vez deixasses de existir. A paisagem deixaria de ser a mesma, a minha janela já não abriria tantas vezes mas, mesmo que abrisse, deixaria de ser como é agora. Eu poderia espreitar na mesma pela minha janela mas o meu sorriso, de certeza, que não seria o mesmo. Faltar-me-ia o verde. O teu verde, serra! A tua água, rio! E faltar-me-ias tu, mãe-natureza! Da minha pequena janela vejo tudo o que os astronautas conseguem ver do espaço. Da minha pequena janela vejo quanto deste planeta pode ser visto do Universo pelos satélites. E isso torna a minha janela tão grande como outra janela qualquer. Eu sou do tamanho daquilo que eu quiser ser e não do tamanho que sou. Eu sou do tamanho dos meus sonhos e não do tamanho do que os outros conseguem ver em mim. Eu sou do tamanho do mundo se o meu mundo assim o quiser, sempre que eu quiser, e não do tamanho que estas quatro paredes querem fazer parecer que eu tenho. Do Universo a vida parece mais pequena, mais banal, que aqui da minha janela no fundo deste vale. No Universo a Lua, por vezes, encobre a paisagem, esconde o horizonte, empurra o nosso olhar para ver somente uma parte daquilo que é o mundo inteiro. Só somos pequenos quando nos tiram o alcance que os nossos olhos podem ter. E ficamos mais pobres. Ficamos mais pobres porque aquilo que nos torna ricos é ver. Gostava de poder escutar os carros de bois a chiar, de manhãzinha cedo, pela estrada, voltando para o lugar de onde vieram quase à noitinha percorrendo o mesmo caminho. A vida parece mais simples quando vista e vivida da perspetiva de um carrinho de bois. Ele não precisa de ter esperanças, apenas rodas e bois. Não envelhece com rugas nem cabelos brancos. Permanece no tempo como se o tempo não tivesse qualquer efeito nele. Quando já não serve para o seu trabalho tiram-lhes as rodas e deixam-no de uma forma qualquer no fundo de um canto qualquer. Quero despir-me do que me ensinaram, do que fui aprendendo. Tento esquecer-me de como fazemos para lembrarmo-nos do que nos ensinaram e, aos poucos, remover toda a tinta que usaram para cobrir-me, para tapar todos os meus pensamentos, sentidos, ... Quero revelar as minhas emoções tal como elas são, verdadeiras. Quero tirar este papel de embrulho bonito e esta fita com que me ataram o embrulho com um laço bem feito, para poder ser eu. Mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Photoprah by me (from my window) |
Today my words are a bit more happy. Yes, they are more happy. It can't be unhappy everyday. We have to go changing the will according to the outside weather. And it is also very fickle. Sometimes even too much. I'm fickle as the weather. From this
valley to the mountain that during all these years is accompanying us there is a river in between, a river that feeds and grows all the
vegetables that I can see from my window today. And the smells ... What about the smells that it can produce? Do you know that you are already part of me? I don't know what would my being be, ... what would my soul be if you'd ever disappear. The
landscape wouldn't be the same, my window wouldn't open up so many
times but even if I opened it, it wouldn't be as it is right now. I could peek through my window as always but my smile, sure, it wouln't be the same. I would miss the green. Your green, mountain! Your water, river! And Mother Nature I would surelly miss you! From my little window I can see everything that astronauts can see from space. From my window I can see how much from this planet that can be seen by satellites in the universe. And that makes my window as large as any other window. I have the size of what I want to be and not the size that I really have. I have the size of my dreams and not the size that everyone see in me. I have
the size of the world if my world want so, whenever I want, and not the
size that they these four walls make my size look like. From the universe life seems smaller, more banal, but from my window at the bottom of this valley life seems much more bigger, greater. Sometimes, in the Universe, the moon obscures the landscape, hiding the
horizon, pushing our eyes to see only a part of what the whole world really is.
We are only small when they take from us the range that our eyes can have. And we stay much more poor. We stay poorer because what makes us rich is to see. I
wish I could hear the oxcarts screeching, early in the early morning, by
the road, getting back to where it came from in the evening, following the
same path. Life seems simpler when seen and experienced from the perspective of a oxcart. It doesn't need hopes, it only needs wheels and oxen. It doesn't get old with wrinkles or gray hair. It remains in time as if time had no effect on it. When it is no longer useful for its work they take it and left it in some corner. I want to undress me of all that they have taught me of what I learned. I
try to forget about the way we do to remind ourselves of what they taught us
and slowly remove all the ink used to cover me, to cover all my
thoughts, senses, ... I want to reveal my emotions as they truly are. I want to take off this beautiful wrapping paper and this tape that tied me with a well done tie, to be me. But these are already another kind of words. Ana Reis
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