Fotografia por Ana Reis (Túnel) |
As palavras soltas de hoje estão constipadas. Estão num dia daqueles em que só apetece ter a cabeça pousada num ombro qualquer, num encosto esquecido, numa almofada de penas, num canto qualquer. Mas mesmo constipadas as palavras soltas querem continuar a fazer-vos viajar. E existirá melhor maneira de viajar que não seja a sentir? Conseguir sentir tudo com muita intensidade, de todas as formas possíveis e imaginárias. Conseguir sentir de tal forma que ou nos deixa extremamente felizes ou nos deixa extremamente derrotados. Ou nos faz sentir extremamente vivos ou nos faz cair na penumbra da morte e do esquecimento. Porque se não sentirmos as coisas, a vida, desta forma não vale a pena viver. Toda a realidade é excessivamente excessiva. Toda a realidade é uma alucinação excessivamente nítida. E todos vivemo-la. E todos vivemo-la como se fosse o centro para onde tendem todas estas estranhas e desconhecidas forças centrífugas que são as almas e mentes humanas em concordância na sua forma de sentir a vida. Quanto mais a sentimo-la, quanto mais, em coro, a sentimo-la, mais nos sentiremos Reis do universo, detentores de uma força tal, universal. Mais completo nos sentiremos e seremos pela vida cósmica fora. À noite acordo e o silêncio é grande, e o silêncio é ensurdecedor. E todas as coisas presentes, existentes, residentes na noite sombria reparam em mim e olham para os meus olhos abertos que as vêem como meros vultos noturnos na noite que de negro se vestiu. E consigo escutar, no silêncio da noite, o soluçar no meu coração. Reparo em ti e todo eu sou um hino à vida. Tudo em mim é como um satélite que volteia serpenteando, formando um anel de nevoeiro, de poeira, feito de sensações remanescidas e vagas, à tua volta. E meu coração está aberto para ti. Pela tua força e por todo o teu poder. E como uma espada que trespassa, que atravessa o meu ser erguido e estático, secciona o meu sangue, a minha pele e os meus nervos com um movimento contínuo, de certa forma melodioso e ritmado, contíguo a ti própria. Contíguo a ti própria sempre. Torno-me, então, num monte de forças infinitas, cambaleando em todas as direções, para todos os lados do universo. A vida, essa imensidão que é a vida, é a responsável por manter atados todos os cordéis e nós e faz com que todas as forças raivosas que teimam em querer sair de mim não passem para além do que eu sou. Não consigam sair de mim, nem quebrem o meu ser, nem partam o meu corpo, nem rompam os cordéis e nós que em mim habitam, como se se tratasse de uma bomba feita de alma que rebenta, derramando sangue, carne e alma na forma imaterial por entre as estrelas do céu, para além dos sóis e outros sóis mais remotos. Tudo o que em mim existe tende a voltar a ser tudo em mim. Despejo-me no meio do chão, no vasto chão que és tu, vida, no chão que não está nem em cima nem em baixo mas sob todo o universo. Aos pés de estrelas e sóis, de cometas e de almas e corpos. A chuva sinto-a como se estivesse a ser atirada por catapultas conduzidas por pequenos anões escondidos por entre as nuvens do céu. Sou um furacão de sentimentos obrigado ao equilíbrio de ter que viver dentro do meu corpo sem nunca transbordar da minha alma. Tem dias em que o ouço a soprar com muita força. Tem dias em que estremeço com o seu corropio. Sacode, treme, venta, explode, serpenteia, rodopia, arrasta tudo à sua frente, rompe e foge. E é assim que me sobrevive a esta tremenda tempestade tropical. Mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Photograph by Ana Reis (Tunnel) |
Today my words feel sick. My words are
in a day like those days that we just to have our head resting on a
shoulder, in a forgotten pillow, in a feather pillow, in some corner... But even sick, my words want to continue and to take you on this journey. And will be better way to travel than feeling? Feeling everything so intensely, in all imaginable ways and forms. Feeling in a way that let us extremely happy or extremely defeated. That make us feel extremely alive or make us fall in the shadows of death and oblivion. Because if you don't feel things, life, like this you're probably already dead. All the reality is overly excessive. All the reality is an hallucination overly sharp. And we live it. And we live it as if it was the center to where all these strange an unknown centrifugal forces that are human souls and minds tend to in
agreement in their way of feeling life. The
more we feel it, the more, in chorus, we feel it, the more we feel like we are the
Kings of the universe, holders of such an universal force. We will feel fuller and we will be full along our cosmic life. I wake up in the middle of the night and the silence is great, and the silence is deafening. And
all the things that exist in the dark night notice me
and look into my open eyes that see them as simple nocturnal shadows at
night dressed in black. And I can hear in the silence of the night my heart sobbing. I take a look at you and all that I am become an hymn to life. Everything
in me is like a satellite winding, forming a ring of fog, dust, around you
made of vague sensations. And my heart is open to you. By your strength and all your power. And
like a sword that pierces, that crosses my erected and static being,
sectioned my blood and my skin with a continuous motion, in a
melodious and rhythmic manner, contiguous to yourself. Always contiguous to yourself. Then I become a lot of infinite forces, reeling in all directions, on all sides of the universe. Life,
this immensity that is life, is responsible for maintaining every
string and every knot and us and makes all the angry forces that insist on wanting to
leave me can't get off of me. Life is responsible for keeping them failling
all the tries they made to leave me or to break out of my being, stopping them from depart my body, or break the
strings and knots in me, as if it was a bomb made of soul that
bursts, spilling blood, flesh and soul in immaterial form among the stars of heaven, beyond the remotest suns and other suns. Everything that exists in me tends to be all back in me. I dump
me in the middle of the floor, the vast ground that's you, life, on the
ground that is neither up nor down but in the entire universe. At
the feet of stars and suns, comets and souls and bodies. The rians I feel
like it was thrown by catapults conducted by small dwarfs hidden between the clouds in heaven. I am an hurricane of feelings confined to the balance of having to live inside my body without ever overflowing my soul. Some days I hear it blowing too hard. Some days I shudder with its hustle. Shakes, trembles, explodes, spins, breaks and flees. And that's how I survive to this tremendous tropical storm. But these are already another kind of words. Ana Reis
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