As
palavras soltas de hoje estão voltadas para a zoologia. Quem não adora a
chegada da primavera e de toda a bagagem que ela, obrigatoriamente, traz consigo? As flores que
começam a brotar, as árvores com novos rebentos, as andorinhas que
regressam da sua longa ausência, as alergias, as temperaturas amenas
(senão o são, pelo menos, deveriam sê-lo), o sol, por vezes, a chuva, as
borboletas, ... A primavera presenteia-nos com uma vasta variedade de
surpresas maravilhosas. Chamo-lhes surpresas porque são inesperadas e,
nem sempre, como estaríamos a contar. Tem dias em que me sinto uma borboleta. Dito desta forma até parece
algo muito bonito. Elas nascem, rompendo a pupa. Vivem apenas algumas
semanas, durante as quais reproduzem-se e garantem o início de um novo
ciclo novamente. Resumidamente, a vida de uma borboleta é isto. E, por
vezes, eu sinto-me uma borboleta. Ontem passou uma borboleta diante dos meus olhos. Descobri que as borboletas não têm cor. A cor é que se faz cor nelas. Porque, de resto, não passa de uma mera e simples borboleta. Tal como nós. Nós não temos movimento. O movimento é que é movimento em nós. Tal como as palavras. As palavras é que se tornam palavras em nós. Caso contrário somos apenas meras e simples pessoas. E as palavras?! As palavras são meras e simples palavras. E no meio destas coisas todas penso novamente na borboleta. Os ovos eclodem e nasce a lagarta. Depois, esta
lagarta, transforma-se em pupa. A pupa não é mais do que o endurecimento
do corpo da lagarta. Durante esta fase ela aproveita toda a energia que
tem para se transformar numa bela borboleta. A borboleta rebenta a pupa e
nasce, assim, uma borboleta adulta. Mas isso já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words are geared to zoology. Who doesn't love the arrival of spring and of all the baggage that it brings? The
flowers begin to sprout, the trees begin to have new leaves, the swallows return from his long absence, allergies, mild temperatures (at least, should be), the sun, sometimes rain, butterflies, ... Spring presents us with a wide variety of wonderful surprises. I call them surprises because they are unexpected, and not always as we wanted it to be. Some days I feel like a butterfly. Stated like this it seems something pretty. They born, breaking the pupa. Live only a few weeks, during which they reproduce and ensure the beginning of a new cycle again. Briefly, the life of a butterfly is this. And sometimes I feel like a butterfly. Yesterday a butterfly just passed before my eyes. I discovered that butterflies haven't color. The color become color at them. Because, moreover, it is just a mere and simple butterfly. Like us. We have no movement. The movement become movement at us. As the words. Words become words at us. Otherwise we are just mere and simple people. And the words?! Words are mere and simple words. And between all these things I start to think again about the butterfly. The eggs hatch and the caterpillar borns. Then, this caterpillar transforms into pupa. The pupa isn't more than the hardness of the body of the caterpillar. During this phase it takes all the energy that it has to turn into a beautiful butterfly. Butterfly breaks the pupa, and the adult butterfly is born. But it is already another kind of words. Ana Reis
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