As palavras soltas de hoje falam sobre asas. Corro com as minhas asas montadas. Não são asas de seda. As minhas asas são asas de madeira e tecido de chita. E não há ninguém que consiga deixar uma marca nelas. Tudo dilui-se num sonho. As asas foram feitas para voar. Se não fosse a minha testa franzida, talvez um pouco enrugada, parecia atónita. O sorriso é sempre o mesmo. Tem dias. Às vezes as maçãs do rosto não conseguem rasgar sorrisos. Todos os dias faço voos. Altos voos. Voos que as minhas asas assumem. E os meus pensamentos ajudam. Faço cada voo como se fosse o primeiro e aprecio-o até ao último segundo. O meu corpo pode não ter rosto. O meu corpo não altera o meu sorriso leve que vai irradiando a cada voo. Com uma firmeza invulgar abre-se o olhar outrora recolhido. E uma voz doce, talvez um pouco rouca, de um homem cansado, ouve-se ao fundo. Mas nenhum cansaço as toca. Nenhum cansaço consegue tocar as minhas asas. Muitas pessoas conhecem o meu semicerrar de olhos ou, até mesmo, a súbita ruga. Algumas pessoas conhecem bem o meu sorriso. Tem dias que vou na rua sozinha. Levo comigo, apenas, o meu sorriso mais ambíguo. E que bela companhia. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words talk about wings. I fly with my wings. They are not silky wings. My wings are made of wood and cheetah. And there is no one who can leave a mark on them. Everything dilutes in a dream. The wings were made to fly. If it wasn't my brow furrowed, perhaps a little wrinkled, I seem to be stunned. My smile is always the same. Sometimes. Sometimes my cheekbones can't tear smiles. I fly every day. High flights. Flights that my wings can do. And my thoughts help. I make each flight as if it was the first and I appreciate it until the last second. My body don't have a face. My body doesn't change the light that I have in my smile every time I fly. With an uncompromising firmness the look that has once been hidden is now opened. And a sweet voice, perhaps a little hoarse, of a tired man, can be heard in the background. But nothing can touch my wings. No tiredness can touch my wings. Many people know my eyes half-shut, or even the sudden wrinkle. Some people know my smile so well. There are days that I walk alone along the street. And I only take with me my most ambiguous smile. And what a beautiful company. Well, these are already another kind of words. Ana Reis
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