As palavras soltas de hoje falam sobre lábios. Escrevi-te umas quantas vezes. Escrevi-te umas quantas cartas. Longe de mim saber o que escrevia. Escrevi-te, muitas das vezes, até ao nascer do sol. E o sol iluminava os meus olhos. Lembro-me de, muitas dessas vezes, fechá-los. Fechava-os tão firmemente que ganhei músculo nas minhas pálpebras. O sol começava por iluminar o sofá. Aquele sofá grande e vermelho que decorava a sala no sótão de minha casa. E, caminhando, os raios de sol atingiam a minha escrivaninha. E o dia nascia nas minhas folhas, ainda brancas. Quantas vezes escrevi-te mais do que muitas folhas. Quando eu começava a escrever-te era difícil de parar. Era difícil de parar a mente e a mão e a caneta. Descrevi, quantas vezes, o teu rosto para, assim, te lembrar, para, assim, não te esquecer. Em todas as descrições parei sempre nos teus lábios. Descrevi o silêncio. Aquele teu silêncio que eu pensava dizer-me tanto! E as palavras sempre foram poucas para te descrever. As palavras sempre foram insuficientes e, muitas vezes, inexistentes, para te descrever. E, quando a manhã acordou, pousei a cabeça nas folhas, ainda em branco, e adormeci. Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. Li o teu rosto mais de muitas vezes. Vejo agora que, apenas, tentei lê-lo. Todos os dias um olhar diferente deixava-me apaixonar. Todos os dias um sorriso com gosto a lareira no Inverno rigoroso deixava-me apaixonar. Uma brisa empurrava o teu perfume de encontro às minhas células olfativas. E deixava-me apaixonar. Sempre sozinha. Sempre à espera. Muitas vezes disse amo-te baixinho para só o teu coração ouvir. Porque ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Poucos são aqueles que têm coragem. E coragem não me falta, mas tenho, igualmente, um medo fininho, miudinho. E é feliz quem não tem medo de morrer e aceita como parte da vida. Quando sinto-me mais feliz sinto medo. Páro. O medo assusta-me e páro. Pergunto-me se sou feliz. Escrevi-te várias vezes só para te contar a minha felicidade. E, outras tantas vezes, escrevi-te para te falar dos meus medos. E escrevi-te. Escrevi-te e descrevi-te tantas vezes que me deixei apaixonar sem saber, ao certo, por quem. E descrevi-te e parei nos teus lábios. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words talk about lips. I wrote you a few times. I wrote you a few letters. Far from knowing what I have reallly wrote. I have often written to you until the sunrise. And the sun lighted up my eyes. I remembre that most of those times I used to close them. I closed them so tightly that I gained muscle in my eyelids. The sun began to illuminate the sofa. That big red sofa that decorated the living room in the attic of my house. And the rays of sunlight reached my desk by walking. And the day was born in my white paper sheets. How many times have I written to you more than many paper sheets. When I started writing to you it was really hard to stop. It was really hard to stop my mind and my hand and my pen. And how often have I described your face just to remind you, so I didn't forget you. In all those descriptions I have always stopped at your lips. I described the silence. That silence you had that I thought it told me so much! And I could only find a few words to describe you. Words have always been insufficient and often non-existent to describe you. And when the morning woke up I laid my head on those white sheets of paper and fell asleep. I had never truly fallen in love. I've read your face so many times. I see now that I have only tried to read it. Every day I fell in love with the look in your eyes. Every day I fel in love with your smile with taste of fireplace in the rigorous winter. A breeze pushed your perfume against my olfactory cells. And let me fall in love. Always alone. Always waiting. Many times I said softly "I love you" so your only your heart could hear it. Because being happy is a huge responsibility. And oly a few have courage. And I have lots of courage but I also have a small and thiny fear. And it's happy who isn't afraid to die. And it's happy who accepted that death is part of our life. When I feel happier I'm afraid. So I stop. Fear scares me and I stop. I wonder if I'm happy. I wrote you several times just to tell you about my happiness. And many other times I wrote to tell you about my fears. And I wrote you. I wrote you and I described you so many times that I let myself fall in love without knowing for sure who you really are. I described you and stopped on your lips. Well, but these are already another kind of words. Ana Reis
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