As palavras soltas estão como que dormentes. Dominadas pelo cansaço. Adormecidas pelo embalo, por vezes, brusco, do ritmo da vida. É antes da medicação que eu me sinto doente. Por vezes esqueço-me que preciso mesmo dela. Por vezes acho-me mais forte sem ela. Mas quando o corpo resolve pedir-ma apercebo-me do quanto ela me está a ajudar. E sinto-me a estiolar. Sempre que sinto o coração bater num ritmo anormal já sei o que necessito para sentir algum conforto. Por vezes têm que ser dois. Esta vida na corda bamba está a tornar-me mais frágil. Mais frágil e descontrolada. Jánão consigo controlar o meu corpo. Ele é meu! Eu é que mando nele! Porque insiste ele em infernizer-me a vida com movimentos involuntários meus e voluntários dele?! Por vezessinto-me febril. Não febril com febre, com temperaturas acima do normal. Mas febril como se todo o ar à minha volta não fosse suficiente para satisfazer as minhas necessidades de oxigénio no sangue. Tem dias em que abro a janela. Abro a janela para deixar entrar mais ar. Como se o ar que existe em toda a minha casa não fosse já suficiente. Em alguns momentos destes costumo sair de casa e respirar o ar fora de minha casa. É como se o ar dentro de casa fosse rarefeito. Mas não é para os outros. Mas é para mim. Acho que já não há adptação possível. Podia ser só carregar num botão e a armadura estava montada. Mas, infelizmente, não é assim. Em paradoxo eu vivo a minha vida. Vivo uma enfermidade desenferma. Luto por manter o meu pundonor apesar de todos os vincos dolorosos. E com o desgaste dos dias as minhas engrenagens começa a funcionar em falso. Vou oscilando, por vezes, mesmo, cambaleando, através dos meus dias. Uma vida meia vivida. Aguardo o momento em que o Precursor do meu corpo resolve anunciar que outras partes dele estão doentes pelo desgaste de enfermidade desenferma. Todas as vezes que ela/ele aparece as minhas mãos tremem. Tremem sem saber o que fazer. Sem saber se devem contrair ou descontrair. Apenas quando tomo 1 ou 2 daqueles comprimidos é que tudo fica normal. Normal?! Será isso normal? Normal seria senão os tivesse que tomar para poder voltar a controlar o meu corpo. E será que depois de os tomar sou eu que dou ordens ao meu corpo ou será o comprimido? Por vezes faz-me sentir como se tivesse um braço à volta do meu pescoço. Como se fosse um abraço muito apertado, concentrado no meu pescoço. Eu nasci como toda a gente. Tive uma infância como toda a gente. Embora às vezes consig divertir-me. A dança é um ótimo divertimento! O teatro é um ótimo divertimento! Mas a minha amargura de viver desta forma persiste. Sou uma convalescente de todos estes momentos angustiantes de pânico. Moro no rés-do-chão da minha alma e ver passar a Vida desta forma causa-me uma certa confusão. Sinto que o meu coração é um mero pedinte. Um pedinte que vai de porta em porta pedindo esmola. Mas não bate numa porta qualquer! Bate em todas as portas da alegria até que todos os "nãos" se esgotem. Gostava de poder trocar de corpo quando estes momentos me batem à porta. Nestes momentos gostava de ser uma pessoa insípida. Tomo a medicação forçosamente. Quem me dera poder não tomá-la. Poder ser livre. Poder ver-me livre dela. Que um raio as parta! Esta ânsia é o meu fim! Mas sem ela será que a minha vida seria igual? Não. Febre! Não consegui entender ainda porque sinto-me febril sem ter febre. Será isto possível? E à noite... À noite, depois de me deitar, se ela me deixar adormecer, adormeço. Se me deito e ela resolve ter uma insónia já sei que vem aí uma noite de festa pela noite dentro. Mas quem me vê diz que sou uma pessoa banal, bastante normal, e calma. Algumas pessoas gostavam de ter a minha calma. Minha gente, a minha calma não é calma. A minha calma tem o seu desassossego habitual. Por fora não sou tão interessante como sou por dentro. Tem vezes em que me sinto inútil. Sinto-me de mãos e pés atados. Não consigo salvar-me deste meu pânico. E quando, depois dos tremores, as minhas mãos ficam dormentes uma vontade imensa invade-me de mordê-las a fundo e a mal. Mordo-as para senti-las. Para sentir, quanto mais não seja, dôr. E, afinal, o que eu quero é calma. Calma e não ter sensações confusas. Que abram-se as eclusas e que se findem todos os dramas e comédias na minha alma! Que fechem-se as cortinas e que a peça termine com todos os aplausos que ela merece! Mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words are kind of numb. Dominated by fatigue. My words slumbered by the lull, sometimes blunt, of the rythm of my life. It's before the medication that I feel sick. Sometimes I forget that I really need it. Sometimes I find myself stronger without it. But when the body decides to ask for it I realize how much it is helping me. And I feel the rot. Whenever I feel my heart beating in an abnormal rhythm I already know what I need to feel some comfort. And sometimes it has to be two of it. This life at a tightrope is becoming more and more brittle. It's becoming more fragile and uncontrolled. I even can't control my body. It is mine! I'm the boss of it ! Why does it insist to infernize my life with involuntary movements! Sometimes I feel me feverish. It's a non-febrile fever without temperatures above normal. But feverish as if all the air around me wasn't enough to satisfy my needs of oxygen in blood. Somedays I open the window. I open the window to let in more air. It is as if the air that exists in my house wasn't enough for me. In these moments I usually go out and breathe the air outside of my house. It is as if the air inside the house were thin. But not for the rest of my family. But it is for me. I think there is no possible adaptation. It could be just to press a button and the armor was assembled. But unfortunately it is not like that. In paradox I live my life. I live a not sick illness. I fight to keep my hubris despite all the painful creases. And by the days wear my gear starts running false. I swing, sometimes, even stumbling through my day . A life half lived. I
await the moment when the Precursor of my body decides to announce that
other parts of it are sick by the wear of this not sick illness. All the times it appears my hands tremble. My hands tremble without knowing what to do. Without knowing whether to contract or relax. Only when I take 1 or 2 of those pills everything become normal. Normal? Is that normal? It would be normal only if, without take the pills, I have the power to control my body. And after taking the pills who give orders to my body, am I or is the pill? Sometimes it makes me feel as if I had an arm around my neck. Like a concentrated around my neck very tight hug. I was born like everyone else. I had a childhood like everyone else. And sometimes I can have fun. Dancing is a great fun! The theater is a great fun! But my bitterness persists while I live my life like this. I am a convalescent of all these distressing moments of panic. I live on the ground floor of my soul and to see my life going this way causes me some confusion. I feel that my heart is a mere beggar. It is a beggar that goes from door to door begging. But he doesn't knock on any door! He knocks on all the doors of joy until all the "no's " are exhausted. I wish I could switch bodies when these moments knocks on my door. In these moments I like being an insipid person. I necessarily take the medication. I wish I couldn't take it. I wish I could be free. I wish I could be able to get rid of it.. That a lightning break it! This craving is my end! But without it ... Would my life be different? No. Fever! I couldn't understand why I feel feverish without having fever. Is this possible? And at night ... At night, after going to bed, if it let me sleep, I sleep. If I lie down and it decides to have a sleepless I already know that there comes a night of party all night long. But who sees me says that I'm a fairly normal, banal and calm person. Some people like to have my temper. My people, my temper is not cool. My calm is normally restlessness. Outside I'm not as interesting as I am inside. There are times that I feel useless. I have hand and foot bounded. I can't save me from this my panic. And when, after shaking, my hands are numb, invades me an urge to bite them thoroughly and evil. And I bite them so I can feel them. To feel, if nothing else, the pain. And after all, what I want is calm. I need Calm and not to have confused sensations. Let them open up the locks and let all dramas and comedies end in my soul! Let them close the curtains with all the applauses that my life deserves! But these are already another kin of words . Ana Reis
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