As palavras soltas de hoje estão mais melódicas. Estão cheias de agudos e de graves. Com mínimas e semínimas e algumas colcheias pelo meio. O ritmo todo desordenado, confesso, que me deixa com algumas tonturas. E até chego a ficar com náuseas. Mas tudo é passageiro porque me deixo embalar em cada nota solta. Que maravilha! Deviam experimentar viajar musicalmente para verem quão maravilhoso é. Fechem os olhos e deixem-se ficar a ouvir a música e a tentar detetar cada nota que faz parte dessa partitura. No final irão descobrir que foi um caminho cheio de altos e baixos, de notas agudas e outras graves, tal como aquele que a vida nos dá. E não sei como tamanha pobreza de música consegue encher de lágrimas o meu olhar fixo no firmamento. Não sei se é por agrado ou por deceção. Não sei se é porque sim ou porque não. Apenas sei que o meu olhar fica enublado, turvado, ... e, por isso, as minhas mãos encaminham-se para tentar secar as lágrimas que os meus olhos vão derramando. E dou por mim a pensar. Recordo de, em tempos, existir um outro ouvir-te. Não sei se te ouvi na minha infância de que trazes memórias em cada nota da tua melodia. E que saudades tenho desse tempo. Uma saudade raivosa que o tempo me devolva a vida nessas memórias. Se eu era feliz não o sei. Só sei que já o fui outrora neste presente. Maravilho-me! A memória do que nunca existiu ou do que uma vez partiu é maravilhosa! E como o que nunca existiu me enche de alegria o coração e torna mais felizes os meus dias e deixa a chorar quem outrora riu! E quando escurece... A noite é mesmo escura. E ao longe consigo ver, enquanto divago ao som da música e ao ritmo dos pensamentos, a luz de uma janela a brilhar. Vejo-a. Observo-a de forma a memorizá-la. Memorizo-a, e sinto-me cada vez mais eu, ser humano, com sentimentos e racionalidade. É engraçado como a luz de uma simples janela, janela da qual mais nada sei, me atrai e aprisiona os meus pensamentos. Mas não duvido da existência de vida atrás daquela janela. A luz tem que ser acendida por alguém. E nem assim me sinto tentada a deixar de olhar para ela. E essa vida tem um corpo, uma cara, gestos, família e, concerteza, terá uma atividade laboral. Mas à noite, enquanto ouço as notas musicais da música que me faz recordar os meus tempos passados, só tem importância a luz daquela janela que brilha ao longe. Daquela família apenas conheço a luz. Para mim é a realidade mais precisa e real que posso ter. Se à noite só vejo a luz que sai por aquela janela e não consigo ver mais nada entre o meu corpo e aquela janela, então, para mim só há aquela luz. O homem ou mulher e a sua família, ou não, só existem do lado de lá da janela mas não os vejo à noite, por isso não existem. Apenas existo eu, a música e a luz daquela janela. E sempre que aquela luz se apaga ficamos só nós. Eu, as notas musicais e as memórias de outrora. E, afinal, depois da luz apagar, já não importa se o homem ou mulher existe ou não. E acabo por adormecer. Ana Reis
The words of today are more melodic. Are full of treble and bass. With minimum and quarter notes and some eighth notes between. The whole disordered rhythm, I confess, leaves me with some dizziness. And I feel with nausea. But everything is passing through me because I let me flow on each note. What a marvel! -You should try, someday, traveling musically to see how wonderful it is. Close your eyes and let yourself hear the music and try to detect each note that is part of this score. At the end you will discover that it was a path full of ups and downs, the high notes and the low notes, such as that life gives us. And I don't know how such poverty of music can fill with tears my eyes fixed on the heavens. I don't know if it's for pleasure or disappointment. I don't know if it's because wes or because not. I just know that my eyes are cloudy, clouded, and ... therefore my hands are heading to try to dry the tears that my eyes will shed. And so I find myself thinking. I recall that in time, there was another hearing of it (music). I don't know if I heard it in my childhood memories that it brings in every note of its melody. And how I miss that time. An angry yearning that time give me life in these memories. If I was happy I don't know. I just know that once this was already present. What a marvel! The memory of what never existed or that once started is wonderful! And knowing that it never existed makes me feel happy and it makes my days happier and leaves crying those who once laughed first! And when it gets dark... The night is really dark. And in the distance I can see, while I digress in the music and in the rhythm of my thoughts, the light from a window shining. I see it. I watch it so I can memorize it . And I memorize it, and I feel, increasingly, like I am the human being that I am, with feelings and rationality. It's funny how the light from a single window, the window of which I know nothing about, attracts me and imprisons my thoughts. But I don't have any doubt about the existence of life behind that window. The light has to be switched on by someone. And even I know that I don't feel tempted to stop looking at her. And this life has a body, a face, gestures, family and, surely, will have a work activity. But at night, while I'm listening to the musical notes of the song that reminds me my past times, only matters that window light shining in the distance. About that family I only know that light. For me that light is the reality more precise and real that I can have. If at night I can only see light coming out through that window and I can't see anything between my body and that window, so for me there is only that light. The man or woman and his/her family, or not, only exist on the other side of the window but I can't see them at night, so they don't exist for me. There's only me, the music and the light from that window. And when that light goes off there were just us: me, musical notes and memories of yesteryear. And, anyway, after the light goes off, it doesn't matter if the man or woman really exists. And I end up falling asleep. Ana Reis
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