As palavras soltas de hoje estão sonolentas. E que soneira eu sinto... À noite, costumo acordar repentinamente, e olhar o meu relógio. Olho o meu relógio de pulso, que deixo todas as noites pousado na mesa de cabeceira, para que eu possa saber que horas são. E o meu relógio tira o lugar ao meu sono e ocupa-me a mente a noite toda. O seu tic-tac rouba-me a noite. Tento abstrair-me do som do seu tic-tac. Tento e, para isso, tento ouvir o som da Natureza lá fora. O meu quarto, à noite, é escuro apesar de ter as paredes pintadas de marfim. Traz-me paz este tom. Dá-me uma paz como o sossego que inunda o meu quarto vindo de lá de fora. Lá fora nada existe. Nada existe porque não existe barulho algum que prove que existe alguma coisa. Mesmo sabendo eu que de manhã vai existir. Mas, neste momento, apenas existo eu, com a minha respiração sonora, e o meu relógio, com o ruído dos seus ponteiros. E os ponteiros não páram. Não páram porque as engrenagens não lho permitem. E são estas engrenagens, que movimentam os ponteiros barulhentos, que amortecem toda a existência da terra e do céu, e de qualquer outro ser que possa existir entre os dois. Por momentos dou por mim a pensar no que isto significa. E quase que me perco neste pensamento. Mas bloqueio o meu pensamento e, silenciosamente, ouço os meus lábios a sorrir durante a noite. Porque a única coisa que aquele ruído dos ponteiros do meu relógio conseguiu fazer-me sentir foi felicidade ao preencher com a sua insignificância a noite enorme. E como é estranho que tal insignificância consiga preencher a enorme noite que irrompe os meus sonhos. Mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
https://www.youtube.com/watch?v=LrNz37uc7kc&list=PLZhlhSTxnzQuV6dPWsBqOSjhSSgrmI23y
"The words of today are sleepy. And I feel sleepy... At night, I usually wake up suddenly and look at my watch. I look at my watch, which I leave all nights perched on the bedside table, so I can know what time it is. And my watch takes the place of my sleep and occupies my mind all night. Its ticking steals from me the night. I try to abstract me from the sound of its ticking. I try and, therefore, I try to hear the sound of the nature outside of my house. My bedroom at night is dark despite having painted ivory walls. This colour gives me peace. This colour gives me peace like the peace that floods my room coming from outside. Outside there is nothing. Nothing exists because there isn't any noise to prove that there is something. Even though I Know that in the morning will exist something outside of my house. But right now, there's only I, with the sound of my breathing, and my watch, with the noise of their pointers. And pointers don't stop. Don't stop because the gears don't allow themto stop. And
these gears, which move the noisy pointers, dampen the whole
existence of earth and sky, and any other being that might exist
between them. At times I find myself thinking about what this means. And I almost lose myself in this thought. But I block my thoughts and silently I hear my lips smiling during the night. Because
the only thing that sound of pointers on my watch could make me feel was
happiness because they complete with its insignificance the huge night. And how strange that such insignificance can fill the huge night that breaks my dreams. But these are already another kind of words." Ana Reis
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