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Palavras soltas (20/02/2014 Ilusão/ Ilusion)

Hoje as palavras soltas serão diferentes. Ou não. Serão meras palavras. Pequenas palavras. Para engrandecer a mensagem que quero partilhar. Ou melhor, hoje é para engrandecer as pessoas sobre as quais vos quero falar. As verdadeiras pessoas são aquelas que ainda conseguem olhar o mundo com olhos de ver. Mas um ver sem maldade, com uma ignorância saudável. Existem pessoas que conseguem conversar com a televisão. Quando está a decorrer um jogo de futebol que não está a correr nada bem, estas pessoas conseguem gritar: "-Chuta!; ou "-Corre!"; ou ainda "-Passa para aquele!". Já para não falar nos nomes que poderão começar a sair, nem sempre impróprios, descontroladamente. E depois existem algumas pessoas que quando estão a assistir à telenovela resolvem intervir: "-Não vês que aquela ali anda com o teu marido?!"; ou "-Não a ouças que ela está a mentir!"; ou ainda "-Eu era capaz de bater-te se estivesse aí!". Mas hoje alguém resolveu dizer algo que eu nunca tinha ouvido. Uma senhora com 86 anos e já adoentada estava sentada no sofá com uma manta sobre as pernas e uma echarpe nas costas. Falava das suas doenças, dos seus medos de ficar sozinha. Apesar de tudo notei que teme morrer. Ela queria viver mais tempo mas outra vida, de outra forma. A vida dela foi bastante sofrida. Mas ela não desgosta dela e até tem saudades. Tem saudades do seu marido, do seu filho que perdeu ainda menino, mas queria viver mais mas uma vida que não fosse a dela, a que viveu. Queria viver com um marido que a amasse mais, embora ache que o seu a amava, e com uma filha para a mimar, pois não teve nenhuma rapariga. Mas o tempo dela, esse tempo, já foi vivido. Agora tem que adaptar-se às novas vivências que a vida lhe deixou. Tem que limitar-se à sua condição e ter cuidado para não exagerar. O seu coração já não é o mesmo e agora até tem menos um pulmão a funcionar. Só tem um pulmão em actividade. Disse-nos:"- Oh 'mor! A minha doença já estava em mim. No outro dia fui buscar uma garrafa de azeite. Vê lá, uma garrafa de azeite! E fui aqui perto! E quando cheguei a casa parecia que ia morrer! Ia fazer o almoço e nem fiz. Deixei a garrafa em cima da mesa e fui me deitar 'mor! E depois a minha nora é que veio trazer-me o almoço!". E realmente esta senhora já está bastante cansada. E tem agor que depender de alguém para ajudá-la nas suas tarefas diárias. A certa altura da tarde ela olhou para a televisão. O Malato estava acompanhado por uma senhora, cujo nome não sei, mas ela sabia, e até disse-mo, mas não me recordo mesmo. Peço desculpa por isso. Por esta falta de cultura. E ela olhou para nós e disse: "-Eu só gostava de estar ali (na televisão) para não ter frio! Olha para aquela ali de vestidinho de manga curta toda descaptada! Mas também não entendo. São elas todas descaptadas e eles de casaco vestido!". E fiquei a pensar nisso. E lembrei-me da minha avó paterna que costumava discutir com as telenovelas. E, não tão evidente na minha memória, da minha avó materna a discutir com os jogadores de futebol. E ainda hoje a minha mãe faz isso! E é tão bom ter estas memórias presentes e estas pessoas nas nossas vidas e nos nossos corações. Mas isso já são outras palavras soltas.

Ana Reis


"Today words are different. Or not. They will be mere words. Small words. To magnify the message I want to share with you. Today is to aggrandize the people about whom I want to speak. The real people are those who can still look at the world with eyes wide open. But eyes capable to see no evil, with a healthy ignorance. There are people who can talk to the television. Yes, there are. When you're watching a football game that is not going as well as you wanted it to be, some people can shout to players: " - Kick! , or " - Run! " , or " - Enters to another one! " Sometimethey started to call names that sometimes, but not inappropriated names. And then there are some people that when they are watching a movie they started to say: " - Not! See that one over there?! She's dating with your husband! ," or " - Don't listen to her! She's lying! "or even " - I would hit you on the face if I were there! " But today someone decided to say something that I had never heard. A lady aged 86 and already ailing sat on the couch with a blanket on the legs and a scarf in the back spoke of their illnesses and their fears of being alone. Nonetheless I noticed that she fears death. She wanted to live longer but another life, with another way of living. Her life was quite painful. But she didn't dislike it. She even misses her past. She misses her husband and her son that she lost when he was a little boy, but she wanted to live more living in a different life. She wanted to live with a husband who loved her most, although she thinks that he loved her, and a daughter to coddle her, but she had no daughter. But her life, this life, is already lived. Now she has to be adapt to new experiences that life has left to her. Have to limit herself to their condition and be careful to don't overdo it. Her heart is no longer the same and now she has lost a lung. She has only one lung in activity. She told us : " - Oh my sweet, my illness was already on me! On the other day I went to get a bottle of olive oil. Look, a bottle of olive oil! And went near my house! And when I got home it seemed I would die! I left the bottle on the table and went to bed, my sweet! And then my daughter-in-law bring me lunch. ". And actually this lady is already pretty tired. And now she depends on someone to help her in their daily tasks. At one point of the afternoon she stared at the TV. Malato was accompanied by a lady, whose name I don'tt know, but she knew, and even said it to me, but I don't remember it. I apologize for that. For this lack of culture. And she looked at us and said, " - I just enjoyed being there (on television) to don't feel cold. Look at her! The one there with short sleeve dress almost naked. But also I can't understand them! Why is he with a jacket and is she almost naked?! ". And I was thinking about it . I remembered my grandmother who used to argue with movies on television. And not so clear in my memory, I remembered my maternal grandmother discussing with the football players on TV. And today my mom does it! And it's so nice to have these memories and to have these people in  my life and in my heart. But it is already another kind of words."Ana Reis

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