As palavras soltas de hoje sentem-se esqueléticas. Os ossos das minhas pernas partidas cicatrizam-se. A lesão desaparece mas a cicatriz e a dor ficam. Algumas dores são eternas. Gosto da inconsciência natural dos loucos. Gosto do seu andar inconscientemente louco. E que importa se também eu sou louca. Não vivêssemos nós num manicómio mundial rodeados por grades feitas de estereótipos e de outras coisas mais criados por aqueles que se julgam normais. E o que é normal? Normal é matar quem não nos faz mal? Normal é acusar quem é inocente? Normal é deixar livre de qualquer pena os criminosos? Normal é roubar? Normal é passar fome? Digam-me o que é normal para poder entender e aceitar que existem pessoas normais. A minha loucura não é de psicopata ou de assassino em série. A minha loucura parte de dentro. A minha loucura vem do meu interior. A minha loucura nasceu comigo e há-de morrer comigo. É inata e imortal. Quando morrer vou deixá-la ficar na minha descendência perpetuando, assim, a minha loucura ao longo dos tempos. Os meus ossos não são mais do que meros ossos. Não são mais do que ossos que me foram emprestados. Ossos que perpetuaram de alguém que mos deixou de herança. E que riqueza a minha. Esta fragilidade dos meus ossos foi-me dada e não adquirida. Veio num embrulho bem bonito para disfarçar o que continha no seu interior. E se esses ossos fossem ossos seriam os meus ossos, mas estes ossos são ossos que me foram dados, que se atravessam, algumas vezes, na minha garganta e me deixam nostálgica, pensativa, frágil e com dolorosas cicatrizes que demoram a desaparecer. Nem a Nívea me vale! Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words feel like they are skelatal. The bones of my broken legs heal up. The lesion disappears but the scar and pain still. Some pains are eternal. I like the natural unconsciousness of fools. I like their unconsciously crazy way of being. And does it matter when I'm crazy too? We all live in an asylum surrounded by railings made of stereotypes and other things created by those who consider themselves normal. What is normal? Normal is to kill anyone who doesn't make anything wrong, is it? Normal is to accuse someone who is innocent, is it? Normal is to let free a criminal wihtout any penalty, is it? Is stealing normal? Is starving normal? Tell me what is normal so I can be able to understand and accept that there are normal people. My madness is not about being a psychopath or a serial killer. My madness lives inside of me. My madness comes from my insides. My madness was born with me and will die with me. It is inborn and immortal. When I die it will stay in my offspring perpetuating my craziness over time. My bones are nothing more than bones. My bones are nothing more than bones that were lent to me. These bones perpetuated from someone who left them by heritage to me. And now I'm rich. This brittleness of my bones was given to me and not acquired. It was given to me in a pretty package to disguise me from what was really inside of it. And if these bones were bones they would be my bones, but these bones were given to me. Sometimes these bones stand in my throat and makes me feel nostalgic, fragile and with painful scars that take too long to disappear. Neither Nivea worth me! Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
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