As palavras soltas de hoje estão citadinas. Na rua as estradas formam filas de espera para serem
rasgadas a todo o gás por aqueles que nunca as cruzaram. As pessoas olham-se
sem se verem e atravessam-se nos caminhos umas das outras como se fosse,
sempre, a primeira vez. As crianças parecem formigas a caminho do formigueiro
com as suas mochilas às costas carregadas de sonhos e de brincadeiras novas
para jogarem nos intervalos. O padeiro traz o seu carro a rebentar pelas
costuras de tanto pão que quer vender, como se fosse coisa fácil fazê-lo nos
tempos que correm. Os lojistas começam a pôr em prática as novas técnicas de
marketing para a época natalícia que se avizinha. Os mais velhos encostam-se junto ao café para contar e escutar novas histórias como se todos os dias houvesse uma novidade. Nos cafés é uma azafama para servir pequeno-almoços, almoços, lanches e cafés. E as pessoas amontoam-se junto dos balcões de atendimento dos bancos, finanças, correios, segurança social, centro de emprego, ... alguns, mais curiosos e distraídos, poderão pensar que alguém está a oferecer alguma coisa. Mas não. Com o cair da noite, noite essa que agora aparece mais cedo, as pessoas regressem todas a casa, abrigando-se do frio e da escuridão. Como se fossem hibernar por algumas horas. E hibernam. As lareiras acendem-se no interior das casas. O calor invade os corações dos que nelas habitam. E, na hora de dormir, mães aconchegam a roupa aos filhos. Pais lêem histórias de encantar às filhas. Outros contam histórias ao seu par. Outros, apenas, esperam de olhos abertos que o sono chegue. E lá fora o mundo não pára. Voltam as ruas a formar filas de espera para serem rasgadas a todo o gás por aqueles que nunca as cruzam. As pessoas olham-se sem se verem e atravessam-se nos caminhos umas das outras como se fosse, sempre, a primeira vez. A noite dá novas formas aos carros, às casas, às pessoas, às estradas, ... A noite traz nova vida à cidade e a cidade nunca dorme porque é, diariamente, abordada por uma eterna insónia. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today mywords feel like they're city girls. From my window I can see streets forming queues waiting to be cross at full speed for those who never crossed them. People look at each other without seeing each other although they cross paths from each other but it always seems to be the very first time they see each other. Children seem to be ants going into their nest with their backpacks full of dreams and new games to play at the interval. Baker brings his car plenty of bread that he wants to sell, as if it were an easy thing to do by these days. Retailers begin to implement the new marketing techniques for the holiday season ahead. The older people lean on the café wall to tell and hear new stories as if every day they have a new to tell or to hear. At cafés is such a comotion to serve breakfasts, lunches, snacks and coffees. And people pile up waiting for their turn at banks, finances, post office, social security, job center, ... some more curious and distracted, may think that someone is offering something inside of those buildings. But it isn't true. With the nightfall, that now appears earlier, people return home, sheltering from the darkness and from the cold, as if they hibernate for a few hours. And they hibernate. The fireplaces light up inside the houses. The heat invades the hearts of those who live there. And at bedtime, mothers snuggle clothes to their little boys. Fathers read stories to delight their little girls. Others tell stories to his pair (husband or wife or whatever). Others only expect with their eyes wide open that sleep comes. And outside the world doesn't stop. So the streets form queues to be cross at full speed for those who never crossed them. People look at eahc other without seeing each other although they cross paths from each other as it were, always, the first time. The night gives new faces to streets, cars, houses, people, ... The night brings new life to the city and the city never sleeps because it is daily approached by an eternal insomnia. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
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