As palavras soltas de hoje sentem-se contadoras de histórias. Contadoras
de uma história simples e igual a todas as outras histórias que estamos
habituados a ouvir. Ou, então, não. E esta história é uma história de
um rapaz que conhece uma rapariga mas, ficam desde já a saber, que não
se trata de uma história de amor. Onde ficamos exatamente? Ah, já me recordo. O médico voltou para o seu trabalho. "Estás a ver como eu te avisei que
ia correr tudo bem?! Agora vai para casa tomar um banho e descansar que
eu fico aqui com ele." Disse Maria. E ela deu-lhe um beijo,
agradeceu-lhe e foi a pé até casa. Não sabia bem porquê mas precisava de
apanhar ar. Sentia que precisava de respirar mais do que em qualquer um
dos outros dias. Abriu a porta de sua casa e o cheiro a pó preencheu-lhe de imediato as narinas. Espirrou. Não se lembrava de quando teria sido a última vez que limpou a casa. E, pensando bem, não se lembrava de ter o tempo assim tão ocupado que não pudesse cuidar da sua casa. Amanhã iria pensar nisso. Neste momento só lhe apetecia tomar um banho bem quente e deitar-se na sua cama a dormir. Abriu a torneira da sua banheira centenária e deixou sair a primeira porção de água. A canalização era tão antiga que acumulava pedaços de ferro no seu interior originando uma tonalidade férrica naquela água que deveria ser incolor. Incolor e inodora. Pouco depois a água voltou à sua ausência de cor normal. Mal se lembrava do chiar próprio das suas torneiras e daquela tonalidade estranha na água. Aliás, tinha-se mesmo esquecido. Colocou alguns sais de banho para tornar mais relaxante o seu banho. O frasco estava intacto. A tampa, decorada com uma fita de cetim e flores artificiais, tinha um cartão anexado. Abriu o cartão e viu que tinha algumas palavras escritas a caneta. Tentou ler mas o tempo e a própria humidade da casa tinham tratado de as esborratar. Forçou a tampa para abrir. As bolas sem forma de bolas dos sais de banho apresentavam diferentes cores. Por momentos perdera-se a pensar como eram bonitas. Quando voltou a si, forçou mais um pouco a tampa do frasco e, finalmente, conseguiu abri-lo. Ainda cheiravam tão bem! Desde quando estaria ali aquele frasco fechado? A sua cabeça estava a começar a doer. Tinha tantas perguntas e não tinha respostas. Se pelo menos o Simão estivesse ali com ela... Apesar de tudo ele tinha sempre uma resposta na ponta da língua para ela. Por falar em Simão, esquecera-se completamente de avisar o Professor Mota do que acontecera. Como poderia fazê-lo agora? Que horas seriam? Teria coragem para o fazer sozinha? Porque tinha que acontecer isto ao Simão? A dor de cabeça começava a aumentar. Sentiu os pés molhados. Água? De onde vem toda esta água? Olhou para a banheira. Porque estava a sair água da torneira? Como poderia parar aquilo? Sentiu uma dor muito forte na cabeça e caiu no chão do quarto de banho. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words are storytellers. They will tell you a simple story. A story like all the other stories we're used to hear. Or, not. And this story is a story of a boy who meets a girl but you need to know that this is not a love story. Where were we exactly? Oh! Now I remember. The doctor returned to his work. "I warned you that he was going to be okay! Now go home, take a shower and rest. I'll be here with him." Maria said. And she gave her a kiss, thanked her and walked home. She wasn't sure why she needed to breathe some air. She felt she needed to breathe more than in any of the other days. She opened the door of her house and the smell of dust immediately filled her nostrils. She sneezed. She didn't remember when it would have been the last time she cleaned the house. And, in hindsight, she didn't remember what makes her so busy that she couldn't take care of her home. But she would think about it tomorrow. For now she just wanted to take a hot bath and lie down on her bed and sleep. She turned the tap on of her centenary bath and let out the first portion of water. The plumbing was so old that accumulated small pieces of iron inside causing a ferric hue in that water that should be colorless. Colorless and odorless. And quickly the water returned to its normal color. She barely remember the squeak of their own taps and that strange color of the water. Incidentally, she had really forgotten. She put some bath salts to make her bath more relaxing. The bottle was intact. The lid was decorated with a satin ribbon and artificial flowers and it had a card attached. She opened the card and saw that it had some words written with a pen. She tried to read them but the time and the humidity of the house had smudged all the words. She forced to open the lid. The balls, of bath salts that weren't perfect balls, had different colors. For a moment she was lost, thinking about how beautiful they were. When she came to herself, she forced a little the lid and finally it opened. They still smelled so good! Since when was there that sealed bottle? Her head was beginning to ache. She had so many questions and had no answers. If only Simon was there with her ... After all he always had an answer on the tip of his tongue. And speaking about Simon, she was completely forgotten to warn Professor Mota of all that had happened. How could she do it now? What time was it? Did she has the courage to do it alone? Why this had to happen to Simon? The headache started to increase. She felt her feet wet. Water? Where did all this water come from? She looked back into her centenary bath. Why did the tap is opened? How could she stop it? She felt an acute pain in her head and fell in the floor of her bathroom. Well, but these are already another kind of words. Ana Reis
Comentários
Enviar um comentário