As palavras soltas de hoje falam sobre o meu quarto. O meu quarto não é igual aos outros. No tecto tenho cometas, estrelas, planetas, desenhados. E movem-se. Movem-se com o ondular dos meus sonhos. Movem-se à velocidade dos meus pensamentos. Movem-se como se movem os deuses do Olimpo. Movem-se. O meu quarto tem um cabide de madeira onde penduro todos os meus desgostos e gostos diários. Deixo-os lá para eu poder decidir o que vestir no dia seguinte de manhã. Se visto gostos ou se visto desgostos. No outro canto tenho uma televisão. A minha janela para o mundo. A janela do mundo para o meu quarto. Deixo entrar por ela todas as magias de David Copperfield, as migalhas das bolachas que o monstro das bolachas devora, o perfume de todos os cozinhados do Masterchef Austrália, ... Pelo meu televisor entram guerreiros de tempos já esquecidos, príncipes e princesas jamais falados, ou contados, na história. Entra a magia do Harry Potter e a realidade dos noticiários. E a realidade dos noticiários faz-me sempre carregar no botão de desligar. Off. E assim se fecha a janela do mundo para o meu quarto e do meu quarto para o mundo. Numa parede mais longa, o meu quarto tem um guarda-fatos. Um guarda-roupa. Chamem-lhe o que quiserem pois é lá que eu guardo todos os meus figurinos. Alguns feitos à mão, outros comprados numa loja qualquer. Longe dos olhares alheios. Longe dos pequenos olhos das traças que esvoaçam em todos os quartos. Não estão fechados a sete chaves. Não estão fechados de todo. Abro só com uma mão. Até o meu polegar consegue abrir o meu roupeiro. O meu quarto tem as paredes em tons marfim. E as paredes são marfim para que eu possa pintá-las, todas as noites, da côr dos meus sonhos. E os meus sonhos costumam ser tão coloridos! Tem dias em que acordo com arco-íris pintados nas paredes do meu quarto. Pena não me lembrar do meu sonho! Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words talk about my bedroom. My bedroom doesn't look like the others. On the ceiling I have comets, stars and planets drawn. And they move. They move with the rippling of my dreams. They move at the speed of my thoughts. They move as the gods of Olympus move. They move. My room has a wooden hanger where I hang all my daily dislikes and likes. I leave them there so I can decide what to wear the next day in the morning. If I wear likes or dislikes. In the other corner I have a television. My window to the world. The world's window to my room. I let enter through it all the spells of David Copperfield, the crumbs of the biscuits that the monster of the biscuits devours, the great smell of all the cooking from the Masterchef Australia, ... I let enter warriors of times already forgotten, princes and princesses never spoken in history. I let enter the Harry Potter's magic and the reality of the news. And the reality of the news always makes me press the power button. Off. And so the world's window to my room is closed. On a longer wall it has a wardrobe. A wardrobe. Call it whatever you want, that's where I keep all my costumes. Some handmade, others bought at any store. Away from the eyes of others. Away from the little eyes of the moths that flutter in every bedroom. My costumes aren't locked. They aren't even closed at all. I can open with one hand only. Even my thumb can open my closet. My room has ivory walls. And the walls are ivory so I can paint them, every night, using the colors of my dreams. And my dreams are so colorful! There are days that I wake up with rainbows painted on the walls of my room. Too bad I didn't remember my dream! Well, but these are already another kind of words. Ana Reis
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