As palavras soltas de hoje sentem-se contadoras de histórias. Contadoras
de uma história simples e igual a todas as outras histórias que estamos
habituados a ouvir. Ou, então, não. E esta história é uma história de
um rapaz que conhece uma rapariga mas, ficam desde já a saber, que não
se trata de uma história de amor. Mas recapitulando. Havíamos ficado na parte em que... Ah! Já me recordo! No preciso momento em que a chave entra perfeitamente na fechadura uma
rapariga em cima de uma bicicleta passa por ele molhando as suas calças
já molhadas e sujando os seus sapatos já enlameados. Perdeu o controlo
da bicicleta e acabou por cair em cima da mala do carro dele. Ele largou
a chave, que se manteve na fechadura, e correu para socorrê-la. As flores que trazia no cesto diante da bicicleta já não pareciam ser mais flores. Estavam completamente cobertas pela lama que cobria toda a estrada. A rapariga estava molhada mas não tinha grandes sinais de lama a não ser nas suas calças e sapatilhas. A camisola encontrava-se, apenas, molhada. "Ainda bem que caí em cima deste carro." Pensou ela. Mas o seu braço estava a ser agarrado pela mão de alguém. Voltou-se muito devagar para não escorregar e cair no meio daquele chão enlameado e viu, então, um rapaz com cara de preocupado. Ele segurava, com uma mão, um guarda-chuva preto mas estava com a cabeça completamente à chuva. E com a outra mão segurava-a a ela. Bem, posso dizer-vos que, para ele, foi amor à primeira vista. Ele sempre estivera à espera de um momento assim. De olhar para uma rapariga e saber que era a tal. E ela era a tal. Ele ajudou-a a erguer-se e ela aproveitou a ajuda para levantar-se e pedir-lhe desculpa pela situação tão embaraçosa em que os colocara. "Não queria tê-lo sujado e, muito menos ter caído em cima do seu carro. Desculpe." Desculpou-se ela. Ele ainda perguntou se ela precisava de mais algum tipo de ajuda. Se precisava de boleia até casa. Se queria ir até um café para beber algo quente. Mas ela recusou. Então, ele arrancou no seu carro, ficando a olhar para trás até perdê-a de vista no retrovisor. Ela pegou na sua bicicleta. Quando ia para montá-la viu que tinha um dos pneus furados. Não era hábito seu fazer-se acompanhar de material para trocar um pneu ou para salvar um pneu furado. Já não bastava ter chegado atrasada ao funeral e ter tido aquele acidente estúpido por causa de um furo no pneu que ainda teria que voltar a caminhar, com aquela chuva toda, para casa. Tentou apanhar o que ainda restava das flores enlameadas. Foi até à entrada do cemitério e entrou. O monte de terra que fora remexido recentemente estava a diminuir de tamanho por ser cada vez mais lama e cada vez menos terra. Pousou o que restava das suas flores por cima das restantes que já lá se encontravam e saiu. O caminho ia ser longo até casa. Encontrou uma paragem de camioneta e parou para aguardar pelo autocarro que a deixaria mesmo à porta de sua casa. O autocarro demorava a chegar. Não se via ninguém na estrada. Aproveitou para fechar os olhos e sentir as gotas de chuva que lhe tocavam o rosto. Quando estava bem relaxada e perdida nos seus pensamentos sentiu que uma onda de água a cobrira da cabeça aos pés. Abriu os olhos e viu um carro parado um pouco mais à frente. Naquele momento rogou-lhe tantas pragas. Praguejou tudo e mais alguma coisa. A porta do carro abriu-se e um rapaz saiu de lá. E, para seu espanto, era o mesmo rapaz que ela havia, acidentalmente, quase atropelado com a sua bicicleta. Ele aproximou-se dela a correr. "Está tudo bem consigo?" Perguntou ele. E os seus olhos sorriram ao ver que era ela. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words are storytellers. They will tell you a simple story. A story like all the other stories we're used to hear. Or, not. And this story is a story of a boy who meets a girl but you need to know that this is not a love story. But recapping. We had stayed in so ... Ah! Now I remember! At the precise moment that the key fits perfectly into the lock a girl on a bicycle passes him watering his already wet pants and and dirtying his shoes already with mud. She lost completelly the control of the bike and ended up falling on top of the trunk of his car. He dropped the key, which still kept in the lock, and ran to help her. The flowers she brought in the basket's bike no longer seemed to be flowers. They were completely covered by the mud that covered the road. The girl was wet but had no major signs of mud unless her pants and sneakers. Her sweater was just wet. "I'm glad I fell upon this car." She thought. But her arm was grabbed by someone's hand. She turned very slowly so she doesn't slip and fall in the midst of that muddy ground and saw, then, a boy with a worried face. He held with one hand, a black umbrella but had his head completely in the rain. And with the other hand he held her arm. Well, I can tell you that for him it was love at first sight. He had always been waiting for such a moment. He was always looking for a girl and at that moment he knew that she was the one. And she was the one. He helped her to rise and she took the help to get up and to apologize for the embarrassing situation that she has placed them. "I didn't want to soil you much less to fall on top of your car. Sorry." She apologized. He even asked if she needed help. If she needed a ride home. If she wanted to go to a cafe to drink something hot. But she refused. Then he pulled on his car and he was looking back till he lose her from his sight in the rearview. She took her bike. When she went to mount her bike she saw that it had one of the flat tires. It wasn't her habit to be accompanied by some material to change a tire. It wasn't bad enough arriving late to the funeral and having that stupid accident because of a tire that now she has to walk, with all that rain, home. She tried to take what was left of the muddy flowers. She went to the cemetery entrance and entered. She landed what was left of her flowers above the rest that were already there and left. The path would be long until home. She found a bus stop and stopped to wait for the bus that would leave her at the door of her house. The bus was late. She can't see anyone on the road. And so she took the opportunity to close her eyes and feel the raindrops that touched her face. When she was very relaxed and lost in her thoughts she felt a surge of water that had covered her from head to toe. She opened her eyes and saw a car that stopped a little ahead. At that moment she begged him so many curses. She cursed everything and anything. The car door opened and a guy came out. And to her amazement, it was the same boy she had accidentally almost hit with her bike. He approached her running "It's everything ok with you?" He asked her. And his eyes smiled when he saw that was her. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
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