Avançar para o conteúdo principal

Palavras soltas (16/09/2014 - Funeral/Funeral)





As palavras soltas de hoje sentem-se contadoras de histórias. Contadoras de uma história simples e igual a todas as outras histórias que estamos habituados a ouvir. Ou, então, não. E esta história é uma história de um rapaz que conhece uma rapariga mas, ficam desde já a saber, que não se trata de uma história de amor. Encontraram-se por acaso num dos locais menos prováveis para um encontro. Toda a gente vestia a sua roupa preta. A chuva não parava de cair. Cada pessoa tinha um guarda-chuva preto onde se abrigar. Algumas aproveitavam o do vizinho do lado. Naquele dia até o céu resolveu chorar. Quando se perde alguém muito querido e amado por todos o céu costuma chorar. Dizem algumas das pessoas mais experientes. Naquele dia chovia mesmo muito. A tristeza era geral e desoladora. Quando a terra cobriu por completo toda a urna de madeira e já não restava mais nada dela a não ser as recordações e o amor que deixou nos corações dos que por cá ficaram um pouco perdidos com a sua partida as pessoas começaram a abandonar o local. Saíram ordeiramente. Saíram deixando, apenas, o senhor com a pá para trás. E a terra. O monte de terra que se tornara lama com toda a aquela água. A sua avó tinha sido uma grande mulher. Era difícil de aceitar a perda sem a incontornável questão: "Porquê ela?". Agora já não precisava de se deslocar até à pequena aldeia todos os dias para almoçar com ela. Embora o seu coração continuasse a desejar fazê-lo. Tinha estacionado o seu carro bem longe da entrada do cemitério e, por isso, ainda tinha uns metros pela frente para caminhar ao longo daquela estrada enlameada. Mas nem a lama o incomodava. Nada naquele dia conseguia incomodá-lo mais do que aquela perda. Finalmente chegara ao carro. A chave teimava em não querer entrar na fechadura. Seria um problema da chave, da fechadura ou da sua mão? A sua mão tremia muito. Não sabia se era do frio, da chuva ou se sempre tremera e nunca havia dado conta disso. No preciso momento em que a chave entra perfeitamente na fechadura uma rapariga em cima de uma bicicleta passa por ele molhando as suas calças já molhadas e sujando os seus sapatos já enlameados. Perdeu o controlo da bicicleta e acabou por cair em cima da mala do carro dele. Ele largou a chave, que se manteve na fechadura, e correu para socorrê-la. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis





Today my words are storytellers. They will tell you a simple story. A story like all the other stories we're used to hear. Or, not. And this story is a story of a boy who meets a girl but you need to know that this is not a love story. They met by chance in one of the least likely places for a meeting. Everyone were wearing their black clothes. The rain kept falling. Each person had a black umbrella over their heads. In that day the sky decided to cry. When you lose someone very dear and loved by everyone the sky used to cry. The most experienced people say so. In that day it really rained. The sorrow was general and devastating. When the earth completely covered all the wooden urn and no longer was nothing left of it except the memories and the love left in the hearts of those who were closed to her the people began to leave the place. They leave orderly. They leave lefting behind only the man with the shovel. And the earth. The mound of earth which had become mud with all the water coming from the sky. Her grandmother had been a great woman. It was hard to accept the loss without the inevitable question: "Why her?". Now he no longer needed to travel to the small village every day to have lunch with her. Although his heart continued to wish to do so. He had parked his car far from the entrance of the cemetery and therefore still had a few feet ahead to walk along that muddy road. But neither mud bothered him. Anything in that day could bother him more than that loss. Finally he reached the car. The key stubbornly don't want to enter the lock. Would it be a problem of the key, of the lock or of his hand? His hand was trembling so much. He doesn't know if it was the cold, the rain or if he always trembled and he never realized it. At the precise moment that the key fits perfectly into the lock a girl on a bicycle passes him watering his already wet pants and and dirtying his shoes already with mud. She lost  completelly the control of the bike and ended up falling on top of the trunk of his car. He dropped the key, which still kept in the lock, and ran to help her. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Velha que vivia num sapato (Versão portuguesa (portuguese version))

Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu...

Palavras Soltas (01/04/2014 Dinâmica de grupo: O Abrigo Subterrâneo)

As palavras soltas de hoje vão falar de memórias. Hoje estive a arrumar o meu sótão, em todos os sentidos, e consegui encontrar as coisas mais maravilhosas por lá perdidas e, algumas, esquecidas. Vou tentar partilhar convosco algumas delas ao longo do tempo, pelo menos as mais relevantes e, de certa forma, engraçadas. A memória de hoje vai para o meu último ano de Licenciatura. Tinha uma disciplina com o nome Dinâmica de Grupos que era bastante interessante por interagíamos muito uns com os outros e tentávamos funcionar como um grupo. Acho que foi um bom trabalho para aprendermos a trabalhar em equipa. Se bem que na prática as coisas não são tal e qual a teoria. Um dos desafios que nos foram lançados ao longo do semestre foi a dinâmica: O Abrigo Subterrâneo. E vou lançar-vos o desafio também. "Imaginem que uma cidade no mundo está sob ameaça de ser bombardeada. Aproxima-se um homem de nós e solicita-nos que tomemos uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode...

Regressos / Returns

  As palavras soltas de hoje falam sobre regressos. Já há muito tempo que não as escrevo. E tanto tempo há que vocês não as leem. Por isso, hoje, resolvi escrevê-las. Estas pequenas palavras. Livres. Soltas. Tal como sempre vos habituei. E regressar traz sempre um sentimento agridoce. Tanto de excitação como de medo. As palavras soltas têm destas coisas. Sempre que escrevo deixo que seja o meu cérebro a comandar as minhas palavras. Ou serão as minhas palavras que controlam o cérebro?! Lidar com os pensamento enquanto escrevo é obrigatório. Não tenho escapatória possível. E, assim, regresso. Regresso ao meu mundo. Aquele mundo onde escrevo e desenho. Alio duas áreas da criatividade que sempre amei. E não me importo de viver aqui. Neste meu mundo de criatividade. Sinto-me abraçada sempre que o faço. Escrever. Desenhar. E regressar. Bem-vindas queridas palavras soltas! Que este seja um regresso para ficar. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Today's words will talk about ret...