As palavras soltas de hoje sentem-se contadoras de histórias. Contadoras de uma história simples e igual a todas as outras histórias que estamos habituados a ouvir. Ou, então, não. E esta história é uma história de um rapaz que conhece uma rapariga mas, ficam desde já a saber, que não se trata de uma história de amor. Encontraram-se por acaso num dos locais menos prováveis para um encontro. Toda a gente vestia a sua roupa preta. A chuva não parava de cair. Cada pessoa tinha um guarda-chuva preto onde se abrigar. Algumas aproveitavam o do vizinho do lado. Naquele dia até o céu resolveu chorar. Quando se perde alguém muito querido e amado por todos o céu costuma chorar. Dizem algumas das pessoas mais experientes. Naquele dia chovia mesmo muito. A tristeza era geral e desoladora. Quando a terra cobriu por completo toda a urna de madeira e já não restava mais nada dela a não ser as recordações e o amor que deixou nos corações dos que por cá ficaram um pouco perdidos com a sua partida as pessoas começaram a abandonar o local. Saíram ordeiramente. Saíram deixando, apenas, o senhor com a pá para trás. E a terra. O monte de terra que se tornara lama com toda a aquela água. A sua avó tinha sido uma grande mulher. Era difícil de aceitar a perda sem a incontornável questão: "Porquê ela?". Agora já não precisava de se deslocar até à pequena aldeia todos os dias para almoçar com ela. Embora o seu coração continuasse a desejar fazê-lo. Tinha estacionado o seu carro bem longe da entrada do cemitério e, por isso, ainda tinha uns metros pela frente para caminhar ao longo daquela estrada enlameada. Mas nem a lama o incomodava. Nada naquele dia conseguia incomodá-lo mais do que aquela perda. Finalmente chegara ao carro. A chave teimava em não querer entrar na fechadura. Seria um problema da chave, da fechadura ou da sua mão? A sua mão tremia muito. Não sabia se era do frio, da chuva ou se sempre tremera e nunca havia dado conta disso. No preciso momento em que a chave entra perfeitamente na fechadura uma rapariga em cima de uma bicicleta passa por ele molhando as suas calças já molhadas e sujando os seus sapatos já enlameados. Perdeu o controlo da bicicleta e acabou por cair em cima da mala do carro dele. Ele largou a chave, que se manteve na fechadura, e correu para socorrê-la. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words are storytellers. They will tell you a simple story. A story like all the other stories we're used to hear. Or, not. And this story is a story of a boy who meets a girl but you need to know that this is not a love story. They met by chance in one of the least likely places for a meeting. Everyone were wearing their black clothes. The rain kept falling. Each person had a black umbrella over their heads. In that day the sky decided to cry. When you lose someone very dear and loved by everyone the sky used to cry. The most experienced people say so. In that day it really rained. The sorrow was general and devastating. When the earth completely covered all the wooden urn and no longer was nothing left of it except the memories and the love left in the hearts of those who were closed to her the people began to leave the place. They leave orderly. They leave lefting behind only the man with the shovel. And the earth. The mound of earth which had become mud with all the water coming from the sky. Her grandmother had been a great woman. It was hard to accept the loss without the inevitable question: "Why her?". Now he no longer needed to travel to the small village every day to have lunch with her. Although his heart continued to wish to do so. He had parked his car far from the entrance of the cemetery and therefore still had a few feet ahead to walk along that muddy road. But neither mud bothered him. Anything in that day could bother him more than that loss. Finally he reached the car. The key stubbornly don't want to enter the lock. Would it be a problem of the key, of the lock or of his hand? His hand was trembling so much. He doesn't know if it was the cold, the rain or if he always trembled and he never realized it. At the precise moment that the key fits perfectly into the lock a girl on a bicycle passes him watering his already wet pants and and dirtying his shoes already with mud. She lost completelly the control of the bike and ended up falling on top of the trunk of his car. He dropped the key, which still kept in the lock, and ran to help her. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
Comentários
Enviar um comentário