As palavras soltas de hoje falam sobre chapéus. Um dia vou usar o meu chapéu. Aquele boné que os rapazes usam ao contrário. E coloco um batom nos lábios. Um dia vou usar aquele boné que me faz lembrar-te. Não que alguma vez te tenha visto de boné na cabeça. Pinto os meus olhos com a sombra que mais me realçar a sua cor. E saio à rua. Desfolho as gotas de orvalho uma a uma com as minhas próprias mãos. Sou assim. Levo comigo nada na esperança que para ti seja tudo. Invento e imagino para ti todas as palavras e, mesmo assim, parece que não tenho nenhumas para te dizer. Assalto o mundo e o tempo pensando que, um dia, podemos ser os seus donos. Apenas pensei. Achei. O rasgão no joelho das minhas calças de ganga já não dá para coser. Não importa. Um dia vou sentar-me junto à esquina da tua rua na esperança de ainda te ver. Passas. Digo-te um bom dia sussurrado. Não me ouves. Trago um sorriso tímido nos lábios ainda pintados. Correm lágrimas dos meus olhos trazendo consigo restos da minha sombra. Não são lágrimas de alegria nem de tristeza. São lágrimas. São inexplicavelmente lágrimas. Correm pelo meu rosto no caminho até casa. Limpo toda a maquilhagem na esperança de que as lágrimas façam, também, parte dela. Não fazem. Continuam a escorrer até eu adormecer e elas secarem. E amanhã vou usar o meu chapéu. Aquele boné que os rapazes usam ao contrário. E um leve batom nos lábios e sombra nos olhos, na esperança de realçar o meu olhar. E vou sair à rua. Levo comigo nada na esperança que para ti seja tudo. E, mais uma vez, sentar-me-ei junto à esquina da tua rua. Só para te ver passar. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis
Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu...
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