Avançar para o conteúdo principal

Palavras soltas (Hats/Chapéus)



As palavras soltas de hoje falam sobre chapéus. Um dia vou usar o meu chapéu. Aquele boné que os rapazes usam ao contrário. E coloco um batom nos lábios. Um dia vou usar aquele boné que me faz lembrar-te. Não que alguma vez te tenha visto de boné na cabeça. Pinto os meus olhos com a sombra que mais me realçar a sua cor. E saio à rua. Desfolho as gotas de orvalho uma a uma com as minhas próprias mãos. Sou assim. Levo comigo nada na esperança que para ti seja tudo. Invento e imagino para ti todas as palavras e, mesmo assim, parece que não tenho nenhumas para te dizer. Assalto o mundo e o tempo pensando que, um dia, podemos ser os seus donos. Apenas pensei. Achei. O rasgão no joelho das minhas calças de ganga já não dá para coser. Não importa. Um dia vou sentar-me junto à esquina da tua rua na esperança de ainda te ver. Passas. Digo-te um bom dia sussurrado. Não me ouves. Trago um sorriso tímido nos lábios ainda pintados. Correm lágrimas dos meus olhos trazendo consigo restos da minha sombra. Não são lágrimas de alegria nem de tristeza. São lágrimas. São inexplicavelmente lágrimas. Correm pelo meu rosto no caminho até casa. Limpo toda a maquilhagem na esperança de que as lágrimas façam, também, parte dela. Não fazem. Continuam a escorrer até eu adormecer e elas secarem.     E amanhã vou usar o meu chapéu. Aquele boné que os rapazes usam ao contrário. E um leve batom nos lábios e sombra nos olhos, na esperança de realçar o meu olhar. E vou sair à rua. Levo comigo nada na esperança que para ti seja tudo. E, mais uma vez, sentar-me-ei junto à esquina da tua rua. Só para te ver passar. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis




Today my words talk about hats. One day I'll wear my hat. That cap that the boys use turned back. I paint my eyes with the shadow that most enhances the color of my eyes. And I go outside. I defoliate the drops of dew one by one with my own hands. This is what I am. I take nothing with me hoping that it will be everything for you. I invented and imagined for you all the words and it seems that I don't have any to tell you. I rob the world and the time thinking that one day we can be their owners. I just thought. The tear on my jeans' knee can't be no longer sewing. But it doesn't matter. One day I will sit by the corner of your street hoping that I'll see you. And there you'll go. I'll tell you an whispered goodmorning. But you don't hear me. I bring a timid smile drawing on my still painted lips. Tears flow from my eyes bringing with them the remains of my eyes' shadow. They aren't tears of joy or of sorrow. They are tears. They are inexplicably tears. They fall down my face while I'm coming back home. I clean all the make-up hoping that the tears are also part of it. But they aren't. They keep falling until I fall asleep and they dry up on my face ... And tomorrow I'll wear my hat. That cap that the boys use turned back. And a light lipstick on my lips and a shadow on my eyes, hoping that that will highlight my look. And I'm going out. I take nothing with me hoping that it will be  everything for you. And once again, I will sit at the corner of your street. Just to see you. Well, these are already other loose words. Ana Reis

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Velha que vivia num sapato (Versão portuguesa (portuguese version))

Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu...

Palavras Soltas (01/04/2014 Dinâmica de grupo: O Abrigo Subterrâneo)

As palavras soltas de hoje vão falar de memórias. Hoje estive a arrumar o meu sótão, em todos os sentidos, e consegui encontrar as coisas mais maravilhosas por lá perdidas e, algumas, esquecidas. Vou tentar partilhar convosco algumas delas ao longo do tempo, pelo menos as mais relevantes e, de certa forma, engraçadas. A memória de hoje vai para o meu último ano de Licenciatura. Tinha uma disciplina com o nome Dinâmica de Grupos que era bastante interessante por interagíamos muito uns com os outros e tentávamos funcionar como um grupo. Acho que foi um bom trabalho para aprendermos a trabalhar em equipa. Se bem que na prática as coisas não são tal e qual a teoria. Um dos desafios que nos foram lançados ao longo do semestre foi a dinâmica: O Abrigo Subterrâneo. E vou lançar-vos o desafio também. "Imaginem que uma cidade no mundo está sob ameaça de ser bombardeada. Aproxima-se um homem de nós e solicita-nos que tomemos uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode...

Regressos / Returns

  As palavras soltas de hoje falam sobre regressos. Já há muito tempo que não as escrevo. E tanto tempo há que vocês não as leem. Por isso, hoje, resolvi escrevê-las. Estas pequenas palavras. Livres. Soltas. Tal como sempre vos habituei. E regressar traz sempre um sentimento agridoce. Tanto de excitação como de medo. As palavras soltas têm destas coisas. Sempre que escrevo deixo que seja o meu cérebro a comandar as minhas palavras. Ou serão as minhas palavras que controlam o cérebro?! Lidar com os pensamento enquanto escrevo é obrigatório. Não tenho escapatória possível. E, assim, regresso. Regresso ao meu mundo. Aquele mundo onde escrevo e desenho. Alio duas áreas da criatividade que sempre amei. E não me importo de viver aqui. Neste meu mundo de criatividade. Sinto-me abraçada sempre que o faço. Escrever. Desenhar. E regressar. Bem-vindas queridas palavras soltas! Que este seja um regresso para ficar. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Today's words will talk about ret...