Avançar para o conteúdo principal

Palavras soltas (22/08/2014 - Sequelas/Sequels)




As palavras soltas de hoje estão pensativas e nostálgicas. Lembro-me perfeitamente de quando me vi cair num poço que mais parecia não ter fim. Só queria que me deixassem sossegada no meu canto com a mente cheia de nada. E deixavam. Algumas vezes deixavam. Desaprendi como se sorri. Perdi a vontade e a vontade de ter vontade. O meu hipotálamo deu início à sua redução de tamanho. Memória!? O que é isso? Perdi a capacidade de memorizar. Perdi. Perdi-me de tudo e deixei-me perder no tudo que teimava roubar a minha razão de viver. Mas este tudo começou a transformar-se em nada. Aos poucos deixou de preencher todo o meu cérebro, de absorver todo o meu eu que ainda restava em mim. E parou? Não. Ele não ficou por aqui. Deixou sequelas. Sequelas essas que ainda agora conseguem fazer-me pensar duas vezes antes de sair sozinha de casa. Sequelas essas que me fazem tremer desde os pés até à cabeça só de pensar que poderei sentir medo e vontade de fugir. Tem dias em que sinto que vou morrer. Mas eu sei que não vou. Sei que são apenas alguns momentos. Sei que no máximo durará 15 minutos. 15 minutos intermináveis e terroríficos. Os 15 minutos mais medonhos e horrendos de toda a minha vida e de toda a minha existência. Mas eu sei que vou conseguir combater esta disfarçada e atormentadora companhia. A minha mãe também tem uma companhia com ela e não tem medo dela. Luta todos os dias para que ela não a faça, nunca, sentir medo. E ela já sentiu muito medo! Eu também já senti muito medo por ela. Agora não. Agora sei, sempre que olho para ela, que não preciso sentir medo. Talvez se eu olhar para mim, um dia, consiga ver que também já não preciso ter medo desta minha companhia que tem vida própria. Mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis



Today my words are thoughtful and nostalgic. I remember perfectly when I found myself falling into a whole that seemed endless. I just wanted that everyone leave me alone in my room with a mind full of nothing. And they left. Sometimes they left me. I unlearned how to smile. I lost the desire and the desire of having desire. My hypothalamus began its downsizing. Memory?! What's this? I lost the ability to memorize. I lost. I lost everything and let myself get lost in all that persisted to steal my reason of living. But this all turn into nothing. Gradually this all stopped to fill my entire brain, to absorb the whole of me that was left in me. And this all stopped? No! It didn't stop there. This all left sequels. These same sequels that make me think twice before leaving my house alone. These same sequels that make me shiver from the feet to the head just because I start thinking that I can feel fear and desire to escape. Some days I feel I'm gonna die. But I know I won't. I know it only happens sometimes. I know it will last only 15 minutes. 15 endless and terrifying minutes. These are the 15 minutes more hideous and horrendous of my life, of my whole existence. But I know I'll fight and masked and tormentor company. My mother also has some company with her and she is not afraid of it. She fights every day. In the past she has already felt very afraid! I've also felt very scared for her. Not now. Now I know, whenever I look at her, that I don't need to feel any fear. Maybe if I look at me, one day, I can see that I also don't need to be afraid no more of this company that has its own life. But these are already another kind of words. Ana Reis

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Velha que vivia num sapato (Versão portuguesa (portuguese version))

Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu...

Palavras Soltas (01/04/2014 Dinâmica de grupo: O Abrigo Subterrâneo)

As palavras soltas de hoje vão falar de memórias. Hoje estive a arrumar o meu sótão, em todos os sentidos, e consegui encontrar as coisas mais maravilhosas por lá perdidas e, algumas, esquecidas. Vou tentar partilhar convosco algumas delas ao longo do tempo, pelo menos as mais relevantes e, de certa forma, engraçadas. A memória de hoje vai para o meu último ano de Licenciatura. Tinha uma disciplina com o nome Dinâmica de Grupos que era bastante interessante por interagíamos muito uns com os outros e tentávamos funcionar como um grupo. Acho que foi um bom trabalho para aprendermos a trabalhar em equipa. Se bem que na prática as coisas não são tal e qual a teoria. Um dos desafios que nos foram lançados ao longo do semestre foi a dinâmica: O Abrigo Subterrâneo. E vou lançar-vos o desafio também. "Imaginem que uma cidade no mundo está sob ameaça de ser bombardeada. Aproxima-se um homem de nós e solicita-nos que tomemos uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode...

Regressos / Returns

  As palavras soltas de hoje falam sobre regressos. Já há muito tempo que não as escrevo. E tanto tempo há que vocês não as leem. Por isso, hoje, resolvi escrevê-las. Estas pequenas palavras. Livres. Soltas. Tal como sempre vos habituei. E regressar traz sempre um sentimento agridoce. Tanto de excitação como de medo. As palavras soltas têm destas coisas. Sempre que escrevo deixo que seja o meu cérebro a comandar as minhas palavras. Ou serão as minhas palavras que controlam o cérebro?! Lidar com os pensamento enquanto escrevo é obrigatório. Não tenho escapatória possível. E, assim, regresso. Regresso ao meu mundo. Aquele mundo onde escrevo e desenho. Alio duas áreas da criatividade que sempre amei. E não me importo de viver aqui. Neste meu mundo de criatividade. Sinto-me abraçada sempre que o faço. Escrever. Desenhar. E regressar. Bem-vindas queridas palavras soltas! Que este seja um regresso para ficar. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Today's words will talk about ret...