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Palavras soltas (23/01/2014 Sonhar)

E hoje escrevo algumas palavras. Pequenas letras sincronizadas formando palavras. Palavras soltas. Palavras com algum sentido. Dependendo dos olhos do leitor. Dependendo da interpretação que este lhes atribui. E cada um começa a sonhar. O sonho percorre todos os labirintos do nosso cérebro. Que forma tão bela de viver! Quando sonho sinto-me tal qual Alice no País das Maravilhas. Em mais nova lembro-me que as personagens principais dos meus sonhos eram Buxas. Acho que não deve haver uma única pessoa no mundo que nunca tenha sonhado com Bruxas. Elas fazem parte de qualquer imaginário infantil. Lembro-me de ver A Branca de Neve e os Sete Anões e a Bruxa parecia mesmo horrível. Hoje já tenho uma imagem diferente dela. Parece que tornou-se menos medonha. Ou então fui eu que cresci e comecei a vê-la mais pequenina, mais desenho animado do que propriamente humana. Nos meus sonhos estas Bruxas faziam fogueiras num descampado mais acima da casa dos meus avós e havia sempre alguém atado a um pau no centro da fogueira. E elas dançavam à volta desta rodando as suas saias medonhas pretas e bem rodadas. E soltavam risos, os quais misturavam-se com os estalidos da madeira a arder. E lembro-me que os meus colegas mais velhos adoravam alimentar-me essa fantasia. Houve uma noite de Verão que eles pediram à minha mãe para eu ficar mais um pouco com eles a brincar na soleira da porta de casa deles. Sim, se fosse para ficar na rua a resposta da minha mãe seria um NÃO bem redondo! E desta brincadeira surgiram conversas. Conversas que tinham como tema principal... BRUXAS! As mesmas que eu achava que dançavam à volta da fogueira enquanto uma pessoa à sorte (uma criança) estava presa num pau no centro dessa mesma fogueira acabando por morrer queimada. Eu sentia arrepios a percorrerem-me a espinha. Estava a morrer de medo mas continuava a mostrar-me forte, achava eu que eles estavam a acreditar. Na hora de regressar a casa, como tinha o MEDO estampado no meu rosto, nenhum dos mais velhos ofereceu-se para deixar-me em casa. E confesso-vos que foram os 5 metros mais longos da minha vida! Corri MUITO! Para uma criança daquela idade era muito. Nunca mais chegava à porta de casa! É engraçado mas durante o dia parecia uma distância mais pequena! Avisto a porta branca, que alegria! Empurro-a. O meu coração estava a encher-se de calor de tanta alegria junta! Mas... Mas perdi logo essa alegria quando reparei que as luzes estavam todas apagadas. Outra prova de fogo. Chegar à sala o mais depressa possível, não fosse uma Bruxa estar escondida nas escadas, na dispensa ou no quarto de banho. Poderia até estar escondida no tecto do corredor bem coladinha como se tivesse umas ventosas. Imóvel à minha espera. Eu tinha que ser mesmo muito rápida. E não cair! Acima de tudo não cair! Cair seria um erro enorme que poderia custar-me a vida! E se eu fosse parar à fogueira?! Não podia deixar que isso acontecesse. Começo a ganhar balanço e desatonuma correria pelo corredor com apenas 2 metros de comprimento e quase que dou com o nariz na beira da porta da sala!  Calculei mal a distância paratravar! Mas o mais importante tinha acabado de acontecer: entrei! Consegui! IUPI! Estava safa! Uh, uh! Ganhei-vos Bruxas! Mas ainda havia ali um problema para eu resolver. Todos no interior da sala estavam a olhar para mim com cara de espanto. Ou a pensar que eu estaria doentinha da cabeça. Tinha que arranjar uma boa desculpa para esta minha entrada. Mas será que eles iriam acreditar na história das Bruxas!? Ou seria melhor guardar esse segredo só para mim?! Não queria por nada que eles se aproximassem delas. Segundo os meus colegas as Bruxas só apanhavam meninos que andavam sozinhos à noite na rua quando está lua cheia. E estava lua cheia. Mas os meus pais não eram meninos, já eram adultos e os meus avós também. Por isso para eles não era perigoso. Bem, como iria libertar-me desta encrenca!? "Ah,... eu estava cheia de frio e vim a correr para aquecer!" Pronto, já está! Já disse! E eles fizeram cara de quem fez de conta que acreditou. Mas eu também não lhes falei mais nesse assunto! Só uns anos mais tarde, em tom de curiosidade, questionei-os se alguma vez tinham ouvido falar em Bruxas que faziam fogueiras e queimavam pessoas na Serra de Santa Justa. A resposta que obtive foi que Bruxas dessas não. E não. Pelo menos nos tempos que conhecemos. Mas eu não acredito em Bruxas mas que as há, isso há!
Ana Reis

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