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Cartas à minha otite (20/01/2014)


Olá Otite do ouvido esquerdo,

Estou a escrever-te para que saibas que já tomei conhecimento da tua presença no meu corpo. Agradeço teres-te lembrado de mim. Mas ficaria mais grata, sinceramente, se te tivesses esquecido. Aproveito para informar-te que provocaste uma grande noite de insónia  no dia em que resolveste dar-me sinais da tua existência. Apetecia-me morder os lençóis. E tudo o que viesse à rede das minhas mãos. Ai, roguei-te tantas pragas! Mas peço-te desculpa pela minha falta de controlo. Prometo que na próxima vez (esperando que nem experimentes voltar) tenho mais controlo em mim e nas minhas emoções. Prometo não ser tão agressiva. Mas por favor esquece-te que eu existo, ok? A tua presença fez-se notar de fininho. Eu não ouvi os teus passos por isso deves ter-te descalçado antes de entrares. Sim, porque eu ouço cada ruído mínimo durante a noite, mesmo a dormir sou capaz de acordar por causa de um estalar mínimo no soalho. Mas voltando a ti. A tua entrada foi mesmo silenciosa. Parabéns por isso. Deves ser a melhor assaltante de ouvidos de todos os tempos. Mas depois parece que descuidaste-te. Por momentos comecei a sentir uma dôr muito fina mas tolerável. Daquelas dores que estão ali mas que se conseguirmos distrairmo-nos passam despercebidas, sabes?! Mais à noite ainda estava tudo calmo. Mas quando deitei-me acho que montaste um festarão dentro do meu ouvido. Era tal a barulheira e bagunça que era impossível conseguir adormecer. Aliás, de certeza que era um concerto de HeavyMetal! Latejava a minha cabeça, o meu tímpano, os meus olhos, até os meus dentes e só apetecia-me matar-te! Calma. Peço desculpa mais uma vez pelo meu pensamento mas sabes como é a nossa mente quando estamos desesperados e não conseguimos compensar esse desespero com nada, ocorre-nos tudo, até aquilo que é impossível. E este era impossível. Como iria eu matar uma Otite?! Dei por mim a pensar. Sim! Consegui pensar apesar de estares constantemente a importunar-me com a tua festança. O que poderei eu fazer para te extreminar? Que armas terei eu em casa para poder tratar da tua saúde? Ou melhor, da minha saúde. Por momentos fiquei um pouco confusa. Bem, surgiram-me inúmeras hipóteses:
  1. Acho que ainda tenho umas gotas auriculares em casa que eliminaram num só dia uma Otite. Aliás foi a Carol que mas aconselhou. Descobri-as no armário. Verifiquei o prazo de validade, não fossem já do tempo da Maria Caxuxa. Certifiquei-me de que eram 3 gotas no ouvido. E, check, aplicação das gotas feita. Esperei uns momentos... esperei... loading... e a festança continuava.
  2. Experimento colocar um dedo no ouvido. Ah! Que maravilha! Acho que até vou conseguir fechar os olhos e adormecer. Estarei a sonhar?! Como é que um dedo alivia tamanha dôr?! Tiro o dedo do ouvido. Ai! O som da música tinha aumentado assim como os saltos dos participantes de tamanha festa. Volto a colocar o dedo. Ah! Estou no paraíso! Adormeci. Não sei se por um segundo ou 1 minuto ou 1 hora (não deve ter sido assim tanto tempo). Quando acordei, nem vais acreditar, tinha a mão esquerda adormecida! Bem, assim isto não vai resultar. Vou tentar com a mão direita e talvez ir trocando ao longo do sono. Mas, por estranho que pareça, ou não, a mão direita não teve o mesmo impacto que a mão esquerda. Será que isso confirma que realmente temos um braço maior do que o outro, e etc ?! Não me parece. Algodão! É isso! Com algodão poderá resultar. Mas não funcionou como os dedos da minha mão esquerda. Pensando bem, acho que as gotas já não estão a fazer efeito. Talvez os dedos tenham retirado o líquido que deveria ainda estar em contacto com o meu ouvido interno. Talvez... Terapia do dedo check mas não aprovada de todo.
  3. O som da bateria era cada vez mais intenso. As tuas festas são assim tão barulhentas?! CHEGA! Grito. Mas acho que tu devias estar a curtir com algum dos teus convidados que nem me ouviste. Desculpa se estou a tirar uma conclusão precipitada. Corrige-me se estiver errada. Acho que o grito também não fez nada. Ah! Deixa-me explicar-te que foi um grito interno. Não, eu não gritei e acordei toda a vizinhança! Eu gritei para dentro. Grito inerno check mas também não aprovado.
  4. Ai, e agora o que posso fazer mais para te liquidar?! Ah! Tenho sempre o grande amigo Paracetamol. Vou tomar um e acabou-se esta festarola. Mas havia um problema. Eu já estava em jejum porque já não comia há algumas horas. Como iria este Sr. cair no meu estômago?! Será que iria terminar uma festa no ouvido e dar início a uma mais ácida no estômago?! Arrisquei. Eu queria dormir e tu teimavas em não desligar as tuas pilhas. E um botãozinho de OFF, não?! Facilitavas-me a vida. Mas talvez tu não sejas daquelas que facilita a vida a ninguém. E o Paracetamol  realmente salvou a minha noite. Paracetamol check e funcionou.
Consegui livrar-me de ti. Mas fica descansada que eu não festejei. Caí a dormir como um tordo. Foi um sono mesmo profundo e maravilhoso. Não sei se te apercebeste mas isto foi uma tentativa de fazer-te inveja. Foi falhada?! Prefiro acreditar que não! Mas tu não ficaste sossegada. De manhã lá estavas tu. Mas eu já sabia que arma usar contra ti. Tomei o Paracetamol e fui ao Médico. Neste momento deves estar a sentir-te perdida. Bem, os antibióticos são milagrosos. Não te querendo mal, mas também não querendo que te prendas, despeço-me de ti. Espero que nunca mais nos voltemos a encontrar. Ou talvez no dia de S. Nunca!

Cordialmente me despeço e na esperança de umas tréguas,

Ana Reis

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