Avançar para o conteúdo principal

Palavras soltas (Chewing gum/ Pastilha elástica)



As palavras soltas de hoje falam sobre pastilha elástica. Lembro-me de trazer no bolso. O meu pai, de cada vez que ia ao café, comprava uma ou mais. Antes de me entregar uma dizia-me: "Olha que não podes engolir!" E eu fitava-o com os meus pequenos olhos e acenava afirmativamente com a cabeça. E guardava-a no bolso. Como se fosse mágica. (Culpa dos livros que me liam à noite antes de adormecer.) Quando pegava nela na mão sentia aquele nervoso miudinho de quem não sabe muito bem se deve usá-la já ou guardá-la para mais tarde. Os meus olhos brilhavam. O meu pai fazia pequenos e grandes balões de pastilha elástica, os quais pareciam bombas a rebentar-lhe na boca. E eu ria. Ria e pensava que ia conseguir fazer um maior do que os dele. E colocava a pastilha elástica na boca. Mascava um pouco, sempre com todo o cuidado para não engolir. Mascava-a até absorver todo o seu sabor adocicado. E, depois, soprava com todo o ar que me enchiam os pulmões. "Pluff!" Umas vezes disparei a pastilha elástica pela boca. Outras fiz um pequeno orifício na pastilha elástica por onde saía todo o ar que supostamente iria preencher o meu balão. E muitas vezes fiquei com pastilha elástica colada por toda a minha boca. O meu pai ria-se. E, pacientemente, voltava a explicar-me como fazia aquilo. E, eu, de forma persistente, tentava perceber, como se fosse o maior desafio do mundo. Porque, para mim, não era uma pastilha elástica qualquer. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis

Today my words talk about chewing gum. I remember bringing it in my pocket. Every time my father went to the coffee store he bought one or more. Before he gave me one, he said to me: "Pay attention to what I'm saying to you: you can't swallow it!" And I was staring at him with my little eyes and saying yes with my head. And I kept it on my pocket. As if it was magic. (That's all because of the books that mom's used to read to me at night before I fall asleep.) When I held it in my hand I felt nervous of someone that doesn't know very well if should use it now or save it for later. My eyes shone. My father made small and large chewing gum balloons, which seemed to be bombs bursting on his mouth. And I laughed. I laughed and thought that I could make a bigger one. And so I put the chewing gum on my mouth. I chewed a little, always being careful so I don't swallow it. I chewed it until I absorbed all its sweetness. And then I blew with all the air that filled my lungs. "Pluff!" I shot the chewing gum a few times throughout my mouth. Others I made a small hole in the chewing gum where all the air that was supposed to fill my balloon was coming out. And I often had chewing gums stuck all over my mouth. My father laughed. And patiently, he used to explain me how he did it again. And, I persistently tried to understand, as if it was the greatest challenge in the world. Because, to me, it wasn't just a chewing gum. Well, but these are already another kind of words. Ana Reis

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Velha que vivia num sapato (Versão portuguesa (portuguese version))

Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu

Palavras Soltas (01/04/2014 Dinâmica de grupo: O Abrigo Subterrâneo)

As palavras soltas de hoje vão falar de memórias. Hoje estive a arrumar o meu sótão, em todos os sentidos, e consegui encontrar as coisas mais maravilhosas por lá perdidas e, algumas, esquecidas. Vou tentar partilhar convosco algumas delas ao longo do tempo, pelo menos as mais relevantes e, de certa forma, engraçadas. A memória de hoje vai para o meu último ano de Licenciatura. Tinha uma disciplina com o nome Dinâmica de Grupos que era bastante interessante por interagíamos muito uns com os outros e tentávamos funcionar como um grupo. Acho que foi um bom trabalho para aprendermos a trabalhar em equipa. Se bem que na prática as coisas não são tal e qual a teoria. Um dos desafios que nos foram lançados ao longo do semestre foi a dinâmica: O Abrigo Subterrâneo. E vou lançar-vos o desafio também. "Imaginem que uma cidade no mundo está sob ameaça de ser bombardeada. Aproxima-se um homem de nós e solicita-nos que tomemos uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode

Banco Mealheiro em madeira Pintado à mão