As palavras soltas de hoje começam com um poema de Verlaine (Romances sans paroles):
Il pleure sans raison
Dans ce coeur qui s'écoeure.
Quoi! Nulle trahison?...
Ce deuil est sans raison.
C'est bien la pire peine
De ne savoir pourquoi
Sans amour et sans haine
Mon coeur a tant de peine.
Lembro-me de brincar sem pensamentos que pudessem interromper a minha brincadeira. Sem pensamentos bons, menos bons ou maus. Nas minhas brincadeiras era apenas eu. E todos os meus dias eram bons. Bons como nuvens feitas de algodão doce. Sentava-me à mesa, à noite, já com o banho tomado, e um jantar deixava a minha barriga completamente saciada. E num só dia conseguia ser heroína e vilã da história que a minha cabeça acabara de inventar. E sonhava com essas minhas aventuras mergulhada nos lençóis bem aconchegados. E, embora tivesse algum arranhão e um ou outro hematoma, no dia seguinte estava pronta para mais aventuras de mundos e universos tão reais quanto a minha imaginação. Ingenuidade. Inocência. Bastava um colo, um carinho. Um beijo tudo cura. Proteção. E todos nós, quando somos pequenos, queremos crescer. Queremos crescer porque a vida dos adultos parece ser tão mais interessante. E quando crescemos queremos voltar a ser pequenos. Um hematoma ou um arranhão doem sempre menos do que um coração partido. E vive-se depois de provar o sabor amargo da vida. Vive-se se não acharmos que esse é o seu sabor normal. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis
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