As palavras soltas de hoje estão bastante mais calmas. Talvez porque a própria melancolia deste dia de chuva as torna mais pacíficas. Vejo agora uns raios de sol discretos a espreitarem mas não são suficientes para estimularem, como se fossem choques elétricos, as palavras soltas de hoje. Tenho tanta coisa para vos escrever mas não sei por onde começar nem como escrever tudo o que anda a navegar na minha mente. Posso começar pelo princípio... mas o que para mim parece ser o princípio poderá acabar por ser o fim. E o que penso que seja o fim poderá ser o princípio. Ou o que está no meio será o princípio ou o fim. Mas não vos vou confundir mais. Para confusa já basto eu e a minha mente. Vocês têm que ter a vossa mente bem organizada para que a minha desorganização mental não vos desorganize também. Mas falando de coisas importantes e sérias.
Esta noite, durante as minhas insónias, resolvi observar as sombras do meu quarto. Talvez houvesse um entretenimento melhor mas, às vezes, apetece-me mesmo estar somente parada a observar e nem imaginam a quantidade de coisas que consigo ver. Para alguns de vocês isto pode parecer bastante monótono, porque observar sombras num quarto não tem nada de novo. Todos os dias as mesmas sombras. Mas as sombras do meu quarto não são todos os dias iguais. Há uma semana atrás era uma confusão de sombras! Nem conseguia distinguir muito bem a quem, ou melhor, a quê cada uma delas pertencia. Era uma miscelânia de sombras muito mal definidas. Nem vos sei dizer quantas eram! Mas ontem estava tudo muito mais organizado. Cada sombra tinha voltado ao seu sítio e estava muito bem definidas. Até a minha sombra parecia ter uma definição maior. E consegui ter uma conversa muito séria com ela. Às vezes a nossa sombra ganha vida própria e tenta viver uma vida só dela sem se lembrar a que corpo pertence. Talvez as sombras devessem ter direito a ter vida própria. Porque não!? Nunca perguntaram à vossa sombra como ela está, ou como ela se sente? Deviam tentar fazê-lo um dia. Ser sombra, por vezes, não é nada fácil. A sombra tem imensas responsabilidades e a maior delas todas é a de nos seguir e imitar constantemente. Algumas sombras conseguem libertar-se e viver a sua vida livremente. Às vezes algumas sombras deixam de ser sombras conseguem ter uma sombra só delas. E algumas destas sombras esquecem-se tão rapidamente de como é ser sombra que tratam com imenso desprezo a sua sombra. As sombras também têm vida! E devem ser tratadas como tal! As sombras do meu quarto adoram que eu converse com elas e lhes diga para partirem. Mas as sombras do meu quarto não podem partir porque são sombras de objetos inanimados. A minha sombra já partiu e só vem matar saudades, de vez em quando, dos momentos que passamos juntas. E que saudades! Estimem as vossas sombras porque elas são, por vezes, as melhoras amigas/amigos para uma conversa mais séria. Contem-lhes os vossos segredos e confiem nelas. As sombras sabem ser muito fiéis. As sombras amam-nos como um familiar nosso se forem bem tratadas. E não deixem que a vossa sombra parta sem nunca saber o quanto vocês a amam também. As sombras gostam de amar e ser amadas. E se nunca se lembraram de olhar para a vossa sombra... acho que este é o momento ideal para o começarem a fazer. Mas isso já são outras palavras palavras soltas. Ana Reis
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