As palavras soltas de hoje pensam em palavras. Todas as coisas do mundo são impressionantes. Enquanto fizerem parte deste mundo sangue e rosas seremos constantemente impressionados. O foguete, também ele sobe, para depois cair. Para voltar ao chão de onde partiu. Lá no alto rebenta. O seu som é estrondoso. Quando aterra no chão nu, muitas vezes deserto, ninguém o ouve. Já não tem aquele impacto. Já ninguém quer saber. Lembro-me de outrora quando eu amava por ter um coração amigo. Um coração inconsciente de todo o sangue e consciente de todas as rosas existentes neste mundo. E hoje amo por já não ter coração. Talvez por tê-lo escondido numa qualquer esquina do meu corpo. Há vinte anos não me lembro eu. Não me posso lembrar. Talvez alguém se lembre de como era meu amar. Quero recordar. Quero lembrar-me. Vinte anos não podem ser assim tantos anos que me tenham feito esquecer. Talvez eu tenha deixado escrito em algum lugar. Talvez eu tenha escrito algures palavras que me falem sobre as rosas que eu vira há vinte anos atrás. Vou apagar todo o sangue. Mas como, se sem sangue não há rosas!? Escondo a minha cabeça por baixo da almofada. Não quero ouvir mais palavras. Não quero ouvir mais ninguém. Que silêncio ensurdecedor este. Olho a resma de papel que tenho do meu lado. Olho-a mas não sinto coragem suficiente para a folhear... para a ler. Leio-a telepaticamente. Não consigo. Abraço a almofada e fico ali, a ver as pessoas a passar. Talvez alguma das caras me seja familiar. Talvez alguma das caras me reconheça. Mas já passaram-se vinte anos. Vinte anos. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
Today my words are thinking about words. Everything in the world are impressive. While blood and roses are part of this world we will be constantly impressed. The rocket also rises and then falls. To return to the ground from where it started. Overhead it bursts. Its sound is thunderous. When it lands on the bare ground, often desert, no one listens it. It no longer has that impact. Nobody wants to know about it. I remember once when I loved because I have a friendly heart. An unconscious heart of all the blood and an aware heart of all the roses that exist in this world. Today I love because I no longer have a heart. Perhaps by having it hiding in every corner of my body. Twenty years ago I don't remember. I can't remember. Maybe someone will remember how my love was. I want to remember. I want to remind me. Twenty years may not be so many years that have made me forget. Maybe I left written somewhere. I may have written some words that speak about the roses I had seen twenty years ago. I will delete all the blood. But how!? Because if there is no blood there is no roses. I hide my head under my pillow. I don't want to hear another word. I don't want to hear anyone speaking. What a deafening silence is here. I look at the stack of papers next to me. I look at it but I didn't feel brave enough to flip through ... to read it. I read it telepathically. I can't. So I hug my pillow and stand there, watching people come and go. Maybe some of those faces are familiar. Maybe some of those faces will recognize me. But it has passed away twenty years. Twenty years. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
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