As palavras soltas têm estado ausentes. Ausentes mas não ausentes. Apenas menos frequentes. Existem lugares que nos fazem sentir em casa. Mesmo que sejam bastante longínquos. Mesmo que não nos deixem ver o lugar ao qual chamamos desde sempre Lar. Existem lugares que nos trazem cheiros. Que nos dão os seus cheiros, aromas, odores, ... e tudo o mais que se possa inalar. Inalar. E que seja capaz de despertar os nossos sentidos, levando-nos a viajar, novamente, para o nosso Lar. Inalo. Existem lugares que nos dão imagens. Imagens disto e daquilo. Imagens de tudo e de nada. Imagens com luz ou sem ela. Imagens. Nem que sejam elas a preto e branco. Sépia. Talvez o negativo de uma fotografia. Imagens familiares. E não precisa de ser a imagem na sua totalidade. Basta uma cor, um traço, uma sombra, um esboço demasiadamente esboçado, quase que imperceptível, também não precisa de o ser, uma pequena linha desalinhada, ... um ponto no sítio certo. Tudo isto, ou apenas um, serve para nos encaminhar, de imediato, para o nosso Lar. Vejo. Existem lugares que nos trazem coisas palpáveis. Existem lugares que nos dão coisas palpáveis. Coisas. Coisas com rugosidade ou completamente lisas. Coisas quentes ou completamente geladas. Coisas cortantes ou sem forma. Coisas que nos fazem sentir como se estivéssemos no nosso Lar. Sinto. Existem lugares com histórias. Existem lugares com pessoas que contam essas histórias. Histórias. Histórias de guerras ou de romances. Histórias de terror ou de comédia. Histórias dramáticas ou sem interesse aparente. E essas histórias levam-nos para as pessoas que fazem parte, de certa forma, do nosso Lar. Ouço. Existem lugares que nos fazem sentir em casa. Seja quando eu inalo, vejo, sinto, ouço, ou seja, simplesmente, porque sim. Bem, mas isto já são outras palavras soltas. Ana Reis
My words have been absent. Absent but not absent. Only less frequent. There are places where we feel like home. Even if they are quite distant. Even if from there we can't see the place we call Home. There are places that bring us smells. That give us their smells, flavors, odors, ... and everything else you can inhale. Inhale. And that is able to awake our senses, making us traveling again to our Home. I inhale. There are places that give us images. Images of this and that. Pictures of everything and nothing. Images witn or without light. Images. And they can be black and white. Sepia. Perhaps the negative of a photograph. Familiar images. And it doesn't need to be the entire image. Just
a color, a dash, a shadow, a too sketchy outline, almost imperceptible,
it doesn't need also to be perfect, a little misaligned line ... a point in the
right place. All these things, or only one, are/ is to lead us immediately to our Home. I see. There are places that bring us tangible things. There are places that give us tangible things. Things. Roughness or completely smooth things. Hot or completely frozen things. Sharp or formless things. Things that make us feel like we are at Home. I feel. There are places with stories. There are places with people who tell these stories. Stories. Stories of war or novels. Stories of horror or comedy. Dramatic stories or without apparent interest. And these stories lead us to the people who are a piece of our Home. I hear. There are places that make us feel at home. And it happens when I inhale, I see, I feel, I hear, or simply because. Well, but this is already another kind of words. Ana Reis
Era uma vez... (ou podiam ser duas ou três) Uma velha que vivia dentro de um sapato. Mas não era um sapato qualquer! Era uma bota com alguns remendos a descoser. A morada dela era como que encantada e bela. Nas cartas que costumava escrever podia ler-se: Rua Sapato-bota, número quarenta e meio, Uma velha ao vosso serviço sem medo do alheio. Quando a primavera se lembrava de aparecer todos paravam para ver O jardim maravilhoso que aquela bota tinha. Tinha árvores e flores sem fim, E cheiros maravilhosos que se espalhavam por todo o jardim! O portão era pequeno e engraçado e estava um pouco enferrujado. O seu ferro foi envelhecendo com o passar do tempo. E sempre que o abriam era possível saber Quem lá entrava pelo barulho que ele costumava fazer. E o seu telhado era um pouco inclinado. As suas paredes já estavam um pouco gastas do tempo. E a porta estava sempre aberta para quem quisesse lá entrar. E muitos eram os que queriam a velha visitar! No seu...
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