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Palavras soltas (Caixas/Boxes)




As palavras soltas de hoje falam sobre caixas. Hoje encontrei a minha caixa. Aquela caixa onde guardei as melhores fotografias da adolescência tiradas com as amigas. Onde escondi as cartas de amor que não tive coragem de enviar. Onde dorme o cheiro a perfume das folhas das mesmas cartas esquecidas. Algumas com letras já apagadas. Outras com linhas vazias e apenas umas tristes e isoladas duas frases. Encontrei alguns envelopes com desenhos de flores. (Como eu adorava aqueles kits com folhas de carta e envelopes iguais!) Sorrio. Num dos cantos da caixa ainda mora lá a caneta com que escrevia as cartas. Aquela caneta de ponta fina e tinta azul. Experimento-a mas já não escreve. Nem uma palavra. Nem uma letra. Muito menos um ponto final. Continuo a viajem pela minha caixa de cartão e encontro um trevo de quatro folhas seco. Sorte. Não foi sorte. A minha mãe tinha um canteiro com trevos e todos eram de 4 folhas. Sorte?! Não foi sorte. Só podia ser. Perdida no meio das fotografias encontro um bloco onde consigo ler umas anotações. Poemas. Desenhos. De tudo um pouco. Procurando mais no fundo da caixa encontro uma fita de seda. Macia. Rosa. Bonita. Penso. Mas a memória trai-me. Já não me lembro o significado daquela fita tão bonita. Não importa. Sei que por algum motivo foi especial para mim. Volto a guardá-la no fundo. Olho melhor e encontro uma rosa seca. Envelhecida. Castanha. Outrora fora vermelha. Lembro-me dela. Ainda tem o cheiro do teu perfume. Foi a primeira rosa que me deste. Guardo tudo na caixa e fecho a tampa. Encontrei o que procurava. Bem, mas estas já são outras palavras soltas. Ana Reis




Today my words talk about boxes. Today I found my box. That box where I kept the best photographs taken with friends when I was younger. Where I hid all the love letters I didn't have the courage to send. Where is sleeping the sweet perfume from all the letters I've wrote. Some with erased sentences. Others with empty lines or with only a few sad and isolated sentences. I found some envelopes with flowers on it. (Now I remembre how much I loved those kits with paper and matching envelopes!) I smile for a while. In one of the corners of the box I found the pen with which I wrote all those letters. That thin-tip pen and with blue ink. I try it but it doesn't write anymore. Not even a word. Not a letter. Not even a point. I continue travelling through my box and I found a four-leaf clover dry.  Lucky me. It wasn't luck. My mother had a garden full of four-leaf clovers only. Lucky me?! No it wasn't good luck. I only could get a four-leaf clover. Lost in the middle of the photographs I found a small notebook where I can read some notes. Poems. Drawings. A little bit of everything. Looking closer for more in the bottom of my box I find a silk ribbon. Soft. Pink. Beautiful. I can't remembre… Memory betrayed  me. I can't no longer remembre the meaning of that beautiful silky ribbon. But it doesn´t matter. The most important I know. I know that it might be special for some reason to me. I put it back. And looking better I found a dry rose. Old. Brown. It had once been red. I remember perfectly it. It still had your perfume. It was the first rose you gave to me. I put everything inside the box and closed it because I found what I was looking for. Well, but these are already another kind of words. Ana Reis

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